As consequências da pandemia para a economia são alarmantes em todo o mundo e na capital mineira o cenário não é diferente. Durante entrevista especial ao Edição do Brasil, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Marcelo de Souza e Silva (foto), aponta que 8 em cada 10 estabelecimentos de Belo Horizonte estão fechados e sem data para reabrir. Além disso, diz que “o comércio de BH não pode ser penalizado por uma suposta negligência no combate ao coronavírus no interior do estado. Por isso, a necessidade urgente do diálogo entre a prefeitura do município e o governo do Estado para encontrar soluções para este problema”.
Ele afirma ainda que é difícil prever como a economia irá se comportar, mas salienta que o setor varejista precisou e precisa se reinventar. Confira a entrevista.
Qual foi o prejuízo do comércio durante esse tempo parado?
Os efeitos são desastrosos para as empresas em virtude, principalmente, do fechamento da maioria dos estabelecimentos do setor de comércio e serviços. Não possuímos dados estratificados por regionais, mas falando no todo estimamos que 8 em cada 10 estabelecimentos da capital estão fechados e sem data para reabrir. Ao incorporarmos as empresas do segmento de serviços, chegamos ao montante de 9 em cada 10 que estão totalmente paradas em função do decreto municipal. É importante apontar esses números porque o setor de comércio e serviços da cidade representa 88% das empresas, 72% do Produto Interno Bruto (PIB) e quase 1,5 milhão de empregos em Belo Horizonte.
Qual foi a assistência prestada pela CDL/BH durante esse período?
Cuidar da saúde das pessoas, das empresas e dos empregos. Esta tem sido a condução do trabalho da CDL/BH nesse período de pandemia. E para isso a entidade tem realizado uma série de ações de apoio aos empresários dos setores de comércio e serviços da capital mineira. No mês de março, realizamos uma grande campanha de conscientização, com a parceria da Secretaria de Estado de Saúde e da Unimed-BH, sobre a prevenção ao coronavírus junto a lojistas, empregados e consumidores em vários centros comerciais de Belo Horizonte.
De lá para cá, muito já foi feito. Intensificamos o diálogo com as diversas esferas dos governos, solicitando medidas econômicas para minimizar os prejuízos que estão sendo causados aos setores de comércio e serviços. Boa parte delas foi atendida nos mais recentes anúncios divulgados pelos governos. Nosso trabalho junto aos bancos também foi grande, sempre procurando linhas de crédito com juros menores.
Como surgiu a campanha Juro Zero e o programa É Prá Já?
A campanha foi lançada no princípio do mês de abril, tendo como objetivo sensibilizar os bancos públicos e privados a promoverem linhas de crédito sem juros para socorrer o setor produtivo. A campanha teve como eixo, “hora de juro zero para o comércio não quebrar, o emprego não acabar e a vida continuar”. Afinal está na hora das nossas instituições do sistema financeiro, que no Brasil lucram como em nenhum outro lugar do mundo, darem uma real contribuição ao país neste momento de crise.
Outra ação foi lançada no dia 22 de abril. Por meio do programa É Prá Já, a CDL/BH disponibiliza uma série de serviços, benefícios e alternativas para garantir a sobrevivência das empresas e a manutenção dos empregos. Também ampliou o leque de parcerias para oferecer serviços que vão reduzir os custos das empresas, desde a conta de energia elétrica, serviços de telefonia até planos de saúde.
Qual a sua avaliação sobre a postura da PBH?
Com a autoridade de quem teve como primeira preocupação nessa pandemia a preservação da saúde e da vida das pessoas, a CDL/BH conclama a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) a iniciar imediatamente o diálogo com o governo do Estado para o combate conjunto à propagação da COVID-19.
No último dia 29, quando a PBH anunciou o impedimento da abertura de novas atividades previstas para o dia 1º de junho, ficou evidente que o principal motivo para a tomada dessa decisão foi a situação do coronavírus no interior do estado e o seu possível impacto na capital.
O comércio de Belo Horizonte já está dando uma enorme contribuição no enfrentamento ao coronavírus na cidade. Respeitamos todas as medidas anunciadas pela PBH, especialmente o isolamento social. Fizemos um grande sacrifício. A maioria dos estabelecimentos dos setores de comércio e serviços fecharam as portas e procurou manter os seus empregos.
Temos a convicção de que tal comportamento foi de fundamental importância para salvar vidas. Entendemos que o comércio de BH não pode ser penalizado por uma suposta negligência no combate ao coronavírus no interior do estado. Por isso, a necessidade urgente do diálogo entre a PBH e o governo do Estado para encontrar soluções para este problema. A CDL/BH está à inteira disposição para colaborar nessa união de esforços.
Quais são os próximos passos agora que o comércio reabriu?
Nem todos os estabelecimentos puderam reabrir. Ainda é preciso esperar as próximas resoluções das autoridades. Para os que reabriram, estamos dando todas as orientações possíveis para que adotem os procedimentos necessários para garantir a saúde e preservar a vida de trabalhadores e consumidores.
Há previsão de quanto tempo iremos demorar a “voltar ao normal”?
Vai depender do comportamento da pandemia no Brasil e no mundo. Ainda é difícil avaliar como a economia vai se comportar.
Você consegue fazer o diagnóstico de como será esse “novo normal”?
Com certeza sairemos dessa pandemia muito diferente. O setor de varejo precisou e vai precisar se reinventar a cada dia, assim como toda a cadeia produtiva.