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Clientes estão assustados com o preço da carne bovina em Belo Horizonte

Na esquina da Rua Grão Mogol com Montes Claros, na capital mineira, Geraldo Leite, sócio de um açougue que fica no local, não esconde a preocupação quando perguntado sobre os preços dos cortes bovinos que precisou reajustar na semana passada. “A carne aumentou no mês de novembro assustadoramente. Do início ao fim do mês, foram cerca de 50%”, diz. O empresário afirma que mesmo não tendo repassado todo o valor aos clientes, eles estão hesitantes. “Estão preocupados. Não conseguimos repassar o que tinha que ser repassado, mas ajustamos o possível porque a gente não dá conta de segurar. Nossas despesas são enormes”, conta. Por lá, menos de duas semanas atrás, vendia-se o quilo de contra-filé por R$ 29,90. Hoje, custa R$ 39,90, 30% mais caro.

De acordo com a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), em Minas Gerais, a arroba do boi gordo vem sendo comercializada acima de R$ 200, valor 44,2% superior à média praticada em igual período do ano passado. Mas, os açougues não são o único reflexo da situação na capital. Com o aumento, restaurantes também encareceram seus serviços.

Segundo pesquisa do site Mercado Mineiro, entre janeiro e novembro deste ano, o preço médio do prato feito subiu 6,14% na cidade, chegando a R$ 16,76, ante R$ 15,79 do que era cobrado no início do ano. O valor da comida servida a quilo subiu 7,84% no mesmo período, indo de R$ 40,68 o quilo a R$ 43,87, variação de 7,84%. Além disso, rodízios estão 15,8% mais caros na capital mineira, considerando que o preço médio subiu de R$ 60,83 para R$ 70,44. “O valor do quilo subiu bem acima da inflação, que ficou em torno de 2,5%, preponderantemente por conta do valor da carne, mas é importante lembrar que houve aumento da energia elétrica, do gás de cozinha, da água, itens que são básicos em qualquer empresa de alimentação. Isso gera um impacto muito forte para o trabalhador”, comenta Feliciano Abreu, responsável pelo levantamento.

Geraldo dos Santos, gerente de um açougue localizado na região Centro-Sul de Belo Horizonte, também demonstra preocupação na alta dos preços. “Tivemos um aumento de 20% e, geralmente, em dezembro os valores sobem, mas em janeiro e fevereiro, eles voltam ao mesmo patamar, mas pelo que estou sabendo, dessa vez, não vai voltar aos preços anteriores. Eles serão mantidos”.

O gerente conta que costumava comprar o quilo da parte traseira do boi, chamada de serrote, por R$ 11, no fim de novembro já estava pagando R$ 18 pelo quilo. “O pessoal está assustado e migrando para carne de porco e frango. Mas, a tendência é que elas também aumentem já que vai ter um alto consumo da população e muita exportação também”, afirma Santos. Na carne suína, já houve aumento significativo, com o quilo do suíno vivo vendido a R$ 6 ou 50% maior que o registrado em novembro de 2018. Em relação a queda no preço do boi, a expectativa do gerente é nula. “A não ser que, por algum motivo, parem de comprar do Brasil”.

Para Marina Zaia, analista de mercado da Scot Consultoria, a tendência é que em dezembro, os preços continuem em alta. “Em dezembro, o consumo deve ficar aquecido por causa do aumento de poder de compra da população. Tem férias, 13º e contratações temporárias, que são fatores que aumentam o dinheiro no bolso da população e como a carne tem uma elasticidade de renda elevada, esperamos que dezembro seja um mês positivo para vendas”. A expectativa de vendas é que em janeiro, o mercado se acalme. “Para janeiro esperamos um mercado mais fraco por causa do consumo doméstico um pouco mais retraído porque a população tem mais contas para pagar e algumas obrigações tributárias”, afirma Marina.

Um dos principais fatores que vem aquecendo a demanda pela carne brasileira são os casos de Peste Suína Africana (PSA) registrados na Ásia, principalmente, na China, país que é o maior produtor e consumidor de carne suína do mundo. Com a enfermidade alastrando, cerca de 50% do rebanho do país asiático foi eliminado para controle sanitário, o que fez com que a demanda pelas carnes produzidas em outros países fosse alavancada.

Expectativa para 2020
De acordo com os dados da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), de janeiro a outubro de 2019, foram destinadas ao mercado internacional, por Minas Gerais, um volume 21,6% superior de carne bovina, alcançando 106,2 mil toneladas. O volume de carne suína aumentou 20,6% e encerrou os primeiros 10 meses do ano em 11,5 mil toneladas.

De acordo com o zootecnista e analista de agronegócios da Faemg, Wallisson Lara, a tendência é que, em médio prazo, os pecuaristas respondam à alta da demanda. “O produtor sendo remunerado na sua atividade é responsivo no incremento positivo. Ele aumenta sua produção, eleva a intensificação do ciclo produtivo podendo ofertar em curto e médio prazo animais para o mercado doméstico. Em Minas Gerais, esse reabastecimento já está sendo feito pelas indústrias integradoras do setor produtivo para atender tanto ao mercado quanto ao varejo”, finaliza.