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“A passeio”: iniciativa transforma morador de BH em turista da própria cidade

Não é novidade para nenhum morador de Belo Horizonte subir a Rua da Bahia e encontrar na, esquina com a Avenida Álvares Cabral, o monumento a Rômulo Paes: “Minha vida é essa, subir Bahia e descer Floresta”. Mas, um residente mais desatento da capital talvez nunca tenha passado uma tarde no Museu Inimá de Paula ou comido um acarajé num domingo de Feira da Afonso Pena, conhecida popularmente como “Feira Hippie”. Foi pensando nos detalhes da cidade que o historiador Hugo Rocha e o casal Raul Lanari e Mariana Lobato, historiador e gerente de marketing, respectivamente, se juntaram para criar o projeto “A passeio”, iniciativa que junta um grupo de pessoas para explorar Belo Horizonte com foco no patrimônio do município, sempre com a presença de um dos historiadores para guiar as visitas.

“A proposta é realizar visitas guiadas de forma a transformar o morador em turista da cidade. Poder mostrar para o máximo de pessoas que a cidade que elas circulam todos os dias possui diferentes camadas. Às vezes, passamos pelas mesmas ruas, mas não nos aprofundamos e, quando olhamos de um jeito diferente, acabamos enxergando muito mais que o lugar pode oferecer”, diz Mariana.

Com o corrido cotidiano da capital, moradores podem esquecer que existe uma Belo Horizonte aos finais de semana e que ela pode ser agradável. “Existem muitos locais na cidade que passamos, indo de um lugar a outro ou que frequentamos um ou dois estabelecimentos de algumas regiões, e eles proporcionam outras visões e interpretações. Os primeiros roteiros escolhidos são regiões pelas quais as pessoas passam bastante, mas, muitas vezes, não são vistos os vários recortes oferecidos”, completa Lanari.

Em ação apenas há um mês, “A passeio” já realizou dois percursos. O primeiro roteiro partiu da Praça da Estação, no Centro, até o Minas Tênis Clube, no alto da Rua da Bahia, numa espécie de cartografia histórica. “Recuperando uma série de camadas que existem ao longo da rua e esse trajeto ascendente é uma metáfora da hierarquia de poder de Belo Horizonte no início de seus anos. É uma metáfora para várias cidades que existem dentro da capital”, explica Lanari.

A parte gastronômica vem anexa a experiência da observação da cidade. “Não escolhemos estabelecimentos específicos, ainda que alguns roteiros não permitam que certos locais fiquem de fora. É caso do Bar do Bolão, no Santa Tereza, uma referência cultural obrigatória do bairro, assim como o Bar do Orlando. Sempre procuramos locais que são legitimados pela própria comunidade”, acrescenta.

Do ponto de vista do historiador, o projeto também é uma expansão da sala de aula. “É uma forma de se produzir e estimular interpretações históricas por parte das pessoas que vivem na cidade sem ser na universidade. É o que dentro da academia chamamos de história pública. É uma forma de oxigenar minha produção como acadêmico e ficar mais próximo daquilo que as pessoas entendem como vontade de viver a história”, finaliza o idealizador.