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Choque anafilático: sem socorro imediato, reação alérgica pode matar

Picadas de inseto, antibióticos, látex, leite, ovo, frutos do mar e até amendoim estão entre os alérgenos mais comuns no Brasil e nenhuma reação a esses animais, alimentos ou medicamentos deve ser ignorada. Você pode até pensar: “Da última vez que comi nozes tive uma coceira, mas nada grave. Portanto, não vai passar disso, correto?”. A resposta é que não há como prever se uma reação alérgica será igual a anterior.

Por isso, é preciso estar atento as alergias, já que essas reações violentas no corpo, dentro de minutos, podem evoluir de uma coceira ou urticária até um edema de glote e, por último e mais grave, ao choque anafilático, que pode levar à óbito se não houver socorro adequado e rápido.

O choque anafilático é considerado pela medicina a reação alérgica mais grave que existe. “Os sintomas das reações anafiláticas são diminuição da pressão arterial, vasodilatação, aumento da permeabilidade dos vasos e, por último, broncoespasmos (fechamento das vias aéreas superiores)”, explica Fernando Monteiro Aarestrup, presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia Regional Minas Gerais (ASBAI-MG). Sem conseguir respirar e com a pressão arterial caindo abruptamente, o risco de morte é iminente. “Se ela não receber a adrenalina injetável, a chance de óbito é praticamente 100%”, afirma Aarestrup.

A adrenalina autoinjetável (ou epinefrina) é a única e poderosa droga capaz de reverter todos os sintomas da reação alérgica imediatamente. “O ideal seria que todas as pessoas alérgicas tivessem o dispositivo autoinjetável para que, quando houvesse a reação, elas se autoaplicassem, diminuindo o risco de óbito”. O grande problema é que, no Brasil, a adrenalina só é encontrada em hospitais e unidade de pronto atendimento.

Segundo o alergista-imunologista, as pessoas já diagnosticadas e em tratamento com o alergista devem ter uma prescrição, chamada de plano de ação, na qual estarão as medicações que devem ser tomadas de imediato, normalmente corticoides e anti-histamínicos. Ainda assim, elas também devem procurar um hospital o mais rápido possível para aplicação da adrenalina. Todo esse processo de socorro deve acontecer em até 15 e 30 minutos, no máximo. “Quanto mais rápido for feito, menor a chance do paciente evoluir para óbito”.

De acordo com o médico, a única prevenção possível é evitar contato com os alérgenos. Mas, para isso, é preciso saber ao quê se é alérgico. “Nós só temos alergia a moléculas que já tivemos contatos. Um exemplo clássico que temos hoje é o aumento da alergia ao látex. Existem pessoas que em contato com o material no cotidiano apresentam apenas lesão na pele, mas, durante um procedimento cirúrgico, quando há uma exposição acentuada, ela pode desenvolver a reação mais grave”, diz.

Alergia ao látex é uma das suspeitas apontadas de terem causado um choque anafilático na empresária Daiana Santiago, 32, no mês passado, durante uma cirurgia. “Eles me perguntaram se eu tinha histórico alérgico, mencionei que já havia tido a corticoide e a castanha, mas não pediram nenhum teste específico de alergia. Disseram que meus exames estavam bons e eu estava liberada para o procedimento cirúrgico”, relata.

Mas o que estava previsto para ser um procedimento cirúrgico relativamente simples, em questão de segundos, tornou-se uma situação de vida ou morte. “Quando ele injetou a anestesia, falei ‘não sei se é normal, mas estou sentindo meu corpo inteiro pegar fogo e meu rosto inchar’. Foi a última coisa que lembro”, conta.

Daiana acordou um dia depois acreditando que a cirurgia tinha sido realizada. Entretanto, as reações descritas ao anestesiologista eram o início de um choque anafilático.

O presidente da ASBAI-MG explica que os médicos anestesiologistas estão preparados para essa situação. Porém, a equipe médica deve encaminhar o paciente a procurar um alergista, especialista capaz de constatar o que, de fato, causou a reação.

No caso de Daiana, o atendimento se encerrou com a tentativa frustrada da cirurgia. “Não falaram nada, só me mandaram embora. Vou procurar (alergista) por conta própria. Inclusive, para recuperação, eles me passaram um corticoide diferente, mas fiquei com medo de tomar e voltei ao médico para perguntar e ele falou: ‘Está na receita, se você quiser tomar, toma. Se não quiser, não toma”, lamenta. “Meu irmão, então, ligou para um amigo que é médico e ele explicou que, apesar de ser um corticoide, eram diferentes, que eu podia tomar e deveria prestar atenção se sentiria algo de estranho, mas não tive nada”.