Home > Destaques > Entenda o FoMO: a inveja criada pelas redes sociais

Entenda o FoMO: a inveja criada pelas redes sociais

Quantas vezes você já acessou suas redes sociais hoje? A atualização constante e estar sempre conectado tem parecido regra da sociedade atual. Contudo, a ideia de que, no mundo online, todo mundo leva uma vida perfeita e, às vezes, melhor do que a nossa, assombra muitas pessoas. O medo de não conseguir viver exatamente o que o outro vive deu origem ao fenômeno “FoMO”, sigla para a expressão em inglês “Fear of missing out”.

Mas, qual deveria ser a nossa relação com as redes sociais? O Edição do Brasil conversou com a psicóloga especialista em neuropsicologia e psicanálise Sônia Eustáquia da Fonseca. Ela conta que o problema já atingiu 75% dos adultos conectados. “O FoMO faz com que se desenvolva uma compulsão de buscar, cada vez mais, o celular em tudo que ele pode oferecer em termos de comunicação virtual. A sensação de “ausência inquietante” que essas mídias nos trazem é considerada, muitas vezes, um gatilho para as doenças mentais”.

O que é FoMO?
O fenômeno psicológico “Fear of missing out” significa o medo de ficar por fora ou de perder alguma coisa. Trata-se de uma apreensão generalizada de que os outros possam ter experiências gratificantes das quais se está ausente. Foi descrita pela primeira vez em 2000 pelo estrategista de marketing norte-americano Dan Herman. É próprio do ser humano temer e evitar perdas de pessoas, experiências, competições e relacionamentos quando perdemos alguma coisa nos sentimos tristes e esse sentimento consegue ser mais intenso do que a emoção de quando ganhamos algo. O medo sempre foi inerente, só que agora ganhou características contemporâneas e próprias do que estamos vivendo.

Qual é a relação do problema com as redes sociais?
O avanço tecnológico trouxe uma praticidade para a comunicação pessoal por meio do celular. E o uso das redes sociais nos seduzem e convidam o tempo todo a estar conectados. Fica no ar uma tentação constante para nos envolvermos em busca de atualizações de notícias políticas e das nossas relações sociais. Desse modo, se torna fácil entender que ninguém quer ficar “por fora” ou “desatualizado” e o sentimento de estar perdendo alguma coisa pode gerar ansiedade.

Esse temor faz com que se desenvolva uma compulsão de buscar, cada vez mais, o celular em tudo que ele pode oferecer em termos de comunicação virtual. Muitos jovens têm se sentido assim na internet, especialmente com a popularidade das redes sociais e o senso de urgência gerado pela cultura do imediatismo. Como a relação dos usuários com tecnologia digital ainda é recente, não é raro adolescentes sofrerem com essa angústia social sem saber. A sensação de “ausência inquietante” que essas mídias nos trazem é considerada, muitas vezes, um gatilho para as doenças mentais. Pesquisas apontam que mais de 75% dos adultos conectados já passaram pelo FoMO.

Por que as redes sociais têm adoecido tanto a população?
Por causa da sensação de recompensa e prazer que acontece assim que se obtém a última notícia ou que simplesmente atualiza a página. É nessa busca que a pessoa repete o ato inúmeras vezes na intenção de sentir saciedade, algo que nunca acontece. Como na maioria dos transtornos de hábitos e impulsos, a característica é a de ter ações repetidas sem motivação racional clara. Eles são incontroláveis e, em geral, contra os interesses da própria pessoa. O indivíduo nessas condições deve buscar ajuda profissional.

Criou-se um hábito de “viver de aparências” proveniente das vidas perfeitas que são expostas nas redes sociais?
Sim. E a impressão de que escolheu errado, de que não é tão bom quanto ao amigo, a de que não está divertindo o tanto que deveria é comum. É um sentimento de inferioridade misturado com a sensação de abandono e amargura. É habitual aumentar o sentimento de fracasso. Isso tudo pode desenvolver uma inveja, o que faz com que a outra pessoa minta também a respeito de sua pseudo perfeição.

Qual deveria ser nossa relação com as redes sociais?
A intenção das redes sociais era a de facilitar os círculos de amizade e favorecer as conversas com um número grande de amigos, ou seja, ampliar o que já existia. Creio que seus criadores também se surpreenderam com o resultado. O uso benéfico é o de comunicar de acordo com as necessidades de cada um, com o máximo de calma e não o de exibir sucessos.