Há quem diferencie publicidade e propaganda. A primeira é utilizada para anunciar produtos ou serviços, já a propaganda divulga ideias, pensamentos, causas religiosas ou políticas. No fim, o que importa é o resultado e nós vivemos num mundo cercado de mídias por todos os lados. Nos jornais as matérias são rodeadas por anúncios; são comuns as revistas que inserem mais de 50% de publicidade ou matérias pagas em suas páginas. Ouvir rádio ou assistir televisão é aderir a um “tira-e-bota” de intervalos comerciais. Nas ruas, cartazes não se limitam às vitrines das lojas – estão afixados em toda parte e panfletos são distribuídos junto aos semáforos. Nas roupas que vestimos há etiquetas à mostra com nomes dos fabricantes. Ligamos o computador, smartphone, iPad ou tablet e lá estão montanhas de anúncios. Atendemos telefone celular (ou fixo, para quem ainda possua algum) e é alguém do telemarketing tentando vender Deus sabe lá o quê – isso quando não é aquela mulher de voz desagradável para dizer “aguarde um momento”. Tudo para induzir o possível consumidor a gastar o dinheiro que possa ter ou a contrair dívida para adquirir coisas em sua maioria supérfluas, trocar de operadora de TV a cabo, telefonia, plano de saúde, de funerária ou fazer donativos de toda espécie.
Um exemplo clássico da força de persuasão de massa ocorreu em 30 de outubro de 1938, quando a rádio CBS, em Nova Jersey, transmitia o programa “Mercury Theater”, de Orson Welles. Um locutor interrompeu a dramatização para noticiar a invasão da Terra por forças hostis de Marte. Foi como se no meio de uma novela da Globo aparecesse uma edição extraordinária do Jornal Nacional informando sobre uma invasão por alienígenas. Houve pânico em várias cidades, com milhões de ouvintes acreditando que a notícia fosse verdadeira, procurando armas, correndo pelas ruas, se escondendo em igrejas, se ferindo e até literalmente morrendo de medo.
Ainda nos Estados Unidos, na década de 1940, colunistas sociais receberam releases do circo Barnum dizendo que Zorita, a dançarina das serpentes, estava sendo submetida a análise porque se apaixonou por uma de suas cobras. A divulgação levou multidões ao circo, pois todos queriam ver a mulher que amava loucamente uma serpente. Na mesma época, o próprio circo Barnum afixou grandes cartazes com os dizeres: “Venham ver os funâmbulos com inéditas evoluções terpsicóreas que superam a descrição e os proboscídeos mamíferos dirigidos por Baptiste Schreiber, na mais assombrosa demonstração de habilidade paquidérmica que o mundo já viu”. Movidos pela curiosidade, milhares de pessoas foram ver as atrações, pagando caros ingressos e descobrindo que funâmbulos eram equilibristas em arame e proboscídeos mamíferos simples elefantes.
Mais outra ocorrida nos “states” no meio do século passado: a pasta Colgate era anunciada como creme dental em fita “que se nivela planamente sobre a sua escova de dentes”. Apesar de ser uma proposição inédita, não conseguia boas vendas. A Ted Bates and Company, dona da conta publicitária, fez com que o dentifrício voltasse a ser vendido em sua bisnaga original, mas com novo apelo em forma de slogan: “Colgate purifica o hálito, enquanto limpa os dentes”. Como ninguém jamais se referira ao hálito em relação a dentifrício, a nova campanha foi um grande sucesso.
Há quem afirme que a comunicação é uma ciência e até mais: uma arte, onde a inovação e a criatividade são essenciais para atingir e convencer o maior número possível de pessoas.
Pena que também tentem ser “artistas” da comunicação (não passando de grandes canastrões) os inúmeros políticos que, em campanhas eleitorais, fazem propaganda de si mesmos, anunciando e prometendo mundos e fundos. Quando tomam posse, mudam os discursos e se “esquecem” do que falaram de mãos postas. As obras prometidas não saem do papel – até porque quase nenhuma delas nem em papéis se transformam, já que nunca são efetivamente projetadas. Quem anunciou que não ia receber salários e nem o seu secretariado (que vista a carapuça quem assim o fez) enquanto os dos servidores não estiverem em dia, após eleito graças às promessas, faz ao contrário e aumenta os proventos dos auxiliares escolhidos, porque irão participar de conselhos de empresas públicas com jetons regiamente pagos em dia.
Claro que existem bons anúncios. Infelizmente convivem com um número cada vez maior de chamariscos chatos, trapaceiros e desonestos. Cuidem-se!