Quanto mais distante do Centro, pior é a qualidade do transporte público de Belo Horizonte e região metropolitana. É o que conclui uma pesquisa realizada com usuários de transportes público na capital mineira, gerada a partir do aplicativo MoveCidade e divulgada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
No aplicativo, qualquer pessoa pode avaliar diversos itens do transporte coletivo que usa. Essa análise é inserida em um banco de dados que agrega todas as respostas e gera notas de 0 a 10. Além de Belo Horizonte, usuários de São Paulo e do Rio de Janeiro também avaliaram a qualidade dos sistemas metroferroviários e de ônibus.
Quando se analisa os dados da pesquisa em relação às linhas de ônibus, nas três capitais, se registra o mesmo problema: os sistemas intermunicipais têm pior avaliação do que os municipais.
“Esta constatação é grave e demonstra que os governos tratam os sistemas sem a padronização e qualidade necessárias. Para o usuário, o modelo deveria ser integrado e ter a mesma qualidade, mas infelizmente fica claro para ele a diferença de atenção que cada sistema recebe”, afirma o pesquisador em Mobilidade Urbana do Idec, Rafael Calabria.
Na capital mineira, as linhas de ônibus municipais receberam nota 3,69, enquanto as intermunicipais, nota 3,32. Limpeza e manutenção do veículo, respeito por parte do motorista, conforto, fluidez do trânsito e segurança são os itens avaliados.
Em todos os quesitos, os veículos que circulam pela capital e região metropolitana ficam abaixo da média (Ver gráfico). “Em BH, a lotação está pior que a limpeza e manutenção”, explica Calabria.
Em relação ao sistema metroferroviário, os dados de BH se destacam pela defasagem. Enquanto nas duas outras capitais existem, pelo menos, oitos linhas (incluindo o centro urbano e as regiões metropolitanas), os mineiros têm acesso a uma única linha. Ainda assim, ela fica apenas na média, com nota 5,47. Bem abaixo, por exemplo, da linha 4 do MetrôRio e da linha 2 do Metrô-SP, que são avaliadas com notas 7,85 e 7,67, respectivamente.
Para José Ribeiro, jornalista e consultor em mobilidade urbana, metrô em BH é um mito. “A demanda da cidade não viabiliza essa obra. Os modais recomendados para capital são os monotrilhos e as ferrovias. Nós temos 130km de linhas de monotrilho e 500km de linhas férreas, viáveis economicamente, possíveis de serem construídas, e que ligam Belo Horizonte à Contagem, Betim, Vespasiano, Santa Luzia e Confins”, avalia.
A Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop), órgão regulador dos coletivos intermunicipais e metropolitanos, rebate os dado estudo com os índices das pesquisas feitas anualmente pelo Setop.
Na análise de Satisfação dos Usuários de Transporte Público da Região Metropolitana de BH de 2017, 69,6% dos usuários das linhas troncais (principais) responderam que os ônibus andam lotados ou muito lotados e 21,6% considera a lotação razoável. Nas linhas alimentadoras (complementares), 50,8% dos usuários avaliaram que as linhas andam lotadas ou muito lotadas e 30,6% como razoável.
“A Setop têm trabalhado para garantir que itens como cumprimento de horários, limpeza dos veículos, relação de operadores e usuários se deem dentro dos princípios de cidadania desejados”, afirmou a assessoria de comunicação da secretaria. Sem detalhes, o órgão também afirmou que já está em elaboração o Plano de Mobilidade, que “indicará ações para maior fluidez no tráfego de pessoas e mercadorias”.