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Quatro mulheres que colorem Belo Horizonte

Se você perguntar por Carolina Jaued, Louise Líbero, Lídia Soares e Nayara Gessyca na cena do grafite pelas ruas do hipercentro de Belo Horizonte, talvez, fique sem respostas. Mas tente trocar os nomes pelos apelidos Krol, Musa, Viber e Nica e, dificilmente, algum grafiteiro da capital não vai conhecer as companheiras de madrugadas, spray e talento, que formam o “crew”, conjunto que se reúne para pintar juntas, Minas de Minas.

Há 6 anos, as quatro mineiras que já se conheciam de eventos e conversas casuais se uniram para incentivar mais mulheres a conhecerem o grafite, atuando como uma referência que elas não tiveram no início. “Em 2012, tinham pouquíssimas mulheres na cidade que pintavam, a gente queria ser essa linha de frente para chamá-las para o grafite”, conta Krol.

Hoje, as amigas se definem com uma família, muito além da arte do grafite. Apesar da afinidade de ideias e ideologias, elas desenvolvem trabalhos individuais há mais de 10 anos, cada uma com seu estilo.

Juntas, elas criaram vários projetos que buscam dar visibilidade e reconhecimento a brasileiras de histórias fortes, sejam famosas ou anônimas, como o “Nós podemos tudo”. “Já fizemos a Karol Conka como Audrey Hepburn, Elza Soares, Teuda Bara, Taís Araújo como Carmem Miranda e, agora, acabamos de fazer um da Maria do Taquaril”, explica a integrante do crew.

“Maria do Taquaril”, grafitado no muro da Escola Municipal Alcida Torres, na região da zona leste de BH, é uma homenagem a duas Marias moradoras que ajudaram a construir o Taquaril. “São duas agentes comunitárias, moradoras desde a construção do bairro, que estavam na linha de frente da educação, da saúde e do que estava funcionando ou não. O bairro foi praticamente todo construído por mulheres, porque enquanto os maridos saíam para trabalhar, elas começaram a construir as casas. Muitas buscavam água, limpavam terrenos e até deram nomes a algumas ruas”, informa Krol após pesquisa feita sobre as homenageadas.

O processo de decisão do grafite passa por discussão, estudo e pesquisa da história da mulher escolhida, elaboração do pré-layout, feito no computador para respeitar as formas geométricas e identidade do crew.

Em todos os lugares

O grafite há algum tempo deixou de ser encontrado estritamente nas ruas, parte disso, graças a aceitação até mesmo dos mais conservadores. “Hoje as pessoas querem o grafite em suas casas, nas escolas. Damos várias oficinas em colégios municipais. Isso muda completamente a visão dos jovens, dos professores e da população porque o grafite tem esse poder (de fazer refletir), você joga ele ali e não é mais seu. Não tem como ter noção de como vai afetar cada pessoa. Seja pelo poder de transformar, de impactar ou de agradar”, analisa Krol que, recentemente, foi convidada a grafitar nos muros do Instituto Raul Soares (IRS), localizado no bairro Santa Efigênia.

O projeto Contraste é uma iniciativa de intervenção nas enfermarias e pátios do IRS, por meio de reformas, harmonização e releitura dos espaços em que os pacientes em sofrimento mental circulam. Segundo os idealizadores do projeto Clarissa Pimenta, enfermeira residente, e Fábio Teixeira Rabelo, médico residente, o IRS carece de projetos que valorizem a subjetividade dos pacientes por meio da arte e esse é um dos principais objetivos da ação. “Conhecemos o trabalho dos artistas do grafite pelo projeto Museu de Rua e fomos recrutando a equipe. Eles abraçaram a causa e se dispuseram a deixar suas marcas no hospital de forma voluntária, sabendo da importância da arte na recuperação dos pacientes. Fomos inspirados por uma iniciativa similar que aconteceu no Hospital Galba Veloso e gerou um resultado surpreendente”, conta Clarissa.

Rabelo acrescenta que a presença dos grafiteiros gerou uma repercussão positiva. “A arte pode auxiliar no restabelecimento de equilíbrio emocional e contribuir para recuperação psiquiátrica. Artistas e pacientes interagiram com muita naturalidade. Inclusive, um dos pacientes aproveitou e pegou uma das tintas para deixar seu desenho numa das paredes”.

Portanto, olhos atentos ao passar pelo centro de BH, é possível ver as cores e a geometria do “Minas de Minas” indo pegar o metrô ou andando pela Espírito Santo no encontro com Contorno e Guaicurus.