Quem admira as telas de Van Gogh ou ri das interpretações do ator e comediante Robin Williams não imagina que ambos tiraram suas vidas por causa da depressão. O problema já é considerado o mais incapacitante do mundo, pois estima-se que 4,4% da população mundial sofra com a patologia. No Brasil, 5,8% das pessoas são acometidas pelo quadro e já somos o campeão da doença na América Latina.
Ainda assim, muitas pessoas veem a depressão como mimimi. Mas, de acordo com a psicóloga organizacional e clínica Livia Marques, a doença de fato incapacita o indivíduo. “Qualquer transtorno mental é mal visto pela sociedade. Infelizmente, por consequência disso, muitos não buscam pelo diagnóstico e não fazem o tratamento. Só que a depressão pode paralisar a vida de uma pessoa. E, muitas vezes, pode ser letal”.
O estilo de vida contemporâneo fez com que o número de casos aumentassem. Segundo Lívia, vivemos em uma sociedade bastante consumista e imediatista. “Ela faz com que a gente dê respostas rápidas o tempo todo e, caso não consigamos isso, a gente fica pra trás. Não servimos mais”.
Além disso, o atual cenário brasileiro é um agravante. “Há no país um alto índice de violência e desemprego. Unidos, isso gera insegurança e pânico em algumas pessoas, como o medo de sair de casa, de não conseguir pagar as contas etc. É uma realidade complicada e favorável a transtornos mentais”.
De acordo com a especialista, é necessária uma rede de apoio. “Seja médica, familiar ou de amigos. Quando a pessoa perceber que está começando a ter os sinais de depressão, ela deve buscar ajuda de um profissional capacitado para auxiliá-lo. A partir daí, será feito um trabalho de resgate do que aquele paciente era antes”.
Segundo Livia, a doença pode se apresentar por meio da hipersonia, quando a pessoa tem sono o tempo todo. Ou o contrário, quando há quadros de insônia. “O isolamento, desinteresse em realizar atividades que geravam satisfação, ganho ou perda de peso rápidos também são indícios que devem ser observados. Além disso, o rendimento acadêmico e profissional pode cair consideravelmente”.
[box title=”Você sabia?” bg_color=”#dbdbdb” align=”left”]A perda de produtividade em decorrência dos transtornos mentais devem representar um custo aproximado de US$ 1 trilhão (cerca de R$ 2,24 tri) por ano nos próximos 3 anos. Isso afetará drasticamente a economia mundial.[/box]
Um dia após o outro
Aos 17 anos, a estudante Luíza Carvalho começou a apresentar os sintomas da depressão. “Eu me sentia cansada, fadigada, deslocada e triste. Parecia um abismo sem fim e eu só caia. Não tinha vontade de fazer nada. Com o tempo busquei ajuda e recebi o diagnóstico”.
Diferente de muitos, Luíza recebeu o apoio de sua família e, para ela, isso foi algo essencial no tratamento. “Eu não contei para mais ninguém, pois sou muito tímida e reservada. Só meus pais sabiam e me ajudaram bastante. Depois de um tempo uma amiga também foi acometida pela depressão e me senti a vontade para compartilhar com ela”.
Hoje, aos 25 anos, ela aprendeu a conviver com o problema. “Tem dias melhores que os outros. Entendi minha condição e aprendi a viver com ela. Eu não me permito voltar para aquele abismo, porque é horrível. Tento me ocupar sempre para não voltar a ser a Luiza de antes, porque a de agora se conhece, sabe o que quer e é mais aberta ao novo. Sou mais forte”.
Resiliência é a chave
O tratamento é a psicoterapia e, em alguns casos, a medicação. A psicóloga ressalta que é trabalhado todos os campos para que a pessoa tenha uma vida saudável e equilibrada. “A pessoa aprende a lidar com a depressão e aí melhora. Além do mais, ela aprende a ser resiliente e a enfrentar melhor com as situações do dia a dia. A probabilidade de recaída é muito menor”.