Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, em 2017, 11 pessoas morreram e 4.511 cães foram eutanasiados em decorrência de leishmaniose. Mesmo sendo uma doença mais letal que a dengue, a ação de combate à patologia continua sendo a eutanásia de animais.
Para o veterinário do Laboratório Vibarc Ricardo Cabral, o melhor método de controle da doença seria eliminar os locais onde o mosquito-palha (transmissor da leishmaniose) se reproduz. “A eutanásia, aparentemente, não tem sido um bom recurso de combate, pois temos observado um aumento do número de casos tanto em humanos quanto animais. Eu acho que as medidas que poderiam ser mais efetivas são de controle ao mosquito. Esse inseto possui peculiaridades em relação aos demais. Ele se reproduz em ambientes onde há matéria orgânica, folhas e galhos secos. Além disso, o uso de repelentes também pode ser uma boa forma de prevenção”.
Alternativa para BH
O vereador Osvaldo Lopes (PHS) protocolou o projeto de lei número 404/2017, no qual obriga-se o município a colocar no calendário a vacina contra a leishmaniose visceral. O parlamentar, conhecido por ter vários PL em defesa da causa animal, afirma que a doença é caso de saúde pública. “Quando se fala em leishmaniose, lembra-se apenas dos cães e se esquece que ela atinge os humanos também. Além do mais, é uma doença que se não levar a óbito, pode deixar sequelas para a vida toda”.
Lopes lembra que a eutanásia de animais não é a melhor forma de combate e reafirma que o ideal seria a eliminação do mosquito-palha. “É uma das doenças que mais matam animais e a prefeitura aconselha a eutanásia, o que é errado. Quem transmite a leishmaniose não é o cão, mas sim os mosquitos”.
O PL ainda não possui a especificação de qual vacina será aplicada nos cães, a de prevenção ou a de controle. “Em fevereiro, pretendo fazer uma pesquisa popular para saber o que as pessoas preferem”, finaliza.
Leishmaniose em humanos
O professor da UFMG e imunologista Eduardo Antonio Coelho explica que existem dois tipos de leishmaniose que atacam os humanos, tegumentar e visceral, sendo que a primeira é a mais comum, porém a segunda é a que causa maior mortalidade. “A visceral é mais grave, porque o parasita penetra na pele e migra para o baço e fígado, onde se reproduzem silenciosamente. E, devido a isso, quando o paciente procura o médico, a doença está bem avançada”.
Coelho elucida que o tratamento é feito por quimioterapia ou com remédios mais pesados. “Geralmente, a intervenção em humanos tem uma boa resposta”.
Leishmaniose nos cachorros
Elvis é um SRD (sem raça definida) que foi diagnosticado com leishmaniose há um ano. Lorenza Nascimento, tutora do animal, conta que começaram a aparecer feridas no focinho e no corpo do seu cachorro. “Assim que o veterinário o viu disse que era leishmaniose”.
Ela conta que a notícia abalou seu marido. “O veterinário foi insensível, a primeira coisa que ele sugeriu foi a eutanásia. Meu marido chorou bastante e resolvemos procurar tratamento”.
Atualmente, o animal leva uma vida normal como qualquer outro. O protocolo de tratamento é baseado em uma ração vegetariana (como o remédio afeta os rins é aconselhável diminuir a quantidade de carne) de R$ 179,90 com 15 quilos e tomar diariamente alopurinol (de R$ 5 a R$ 9 uma cartela com 30 comprimidos) e vitamina C ou complexo vitamínico*.
[box title=”” bg_color=”#e5e5e5″ align=”center”]Até o final de 2016, a legislação brasileira obrigava os cães com leishmaniose a serem eutanasiados, pois não havia medicamento autorizado para o tratamento. Porém, atualmente, há um remédio que consegue diminuir a quantidade dos parasitas: milteforan, que custa cerca de R$ 1.500.[/box]
[table “” not found /]*O protocolo de tratamento é individualizado, por isso consulte um veterinário para saber quais procedimentos devem ser tomados.
Outro lado
De acordo com a veterinária da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) Maria Helena Franco, o que tem sido feito no município para conter a doença mostra que a eutanásia é uma boa saída de controle. “Analisando a realidade de BH, esse é um bom método”, afirma.
As informações sobre esse assunto são oriundas apenas de gráficos disponíveis no site da PBH, sendo que eles demonstram que houve um aumento no número de pessoas infectadas pela leishmaniose. Solicitamos os dados referentes à diminuição, mas, até o fechamento desta edição, nada foi enviado.
[box title=”Número de casos” align=”center”]Veja a tabela completa no site da PBH clicando AQUI. [/box]