Mesmo com os sinais de melhora da economia, um levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), mostrou que metade dos brasileiros estão com dificuldades de pagar as mensalidades em dia e atrasaram as parcelas de empréstimos ou financiamentos no mês de agosto. Desse total, 34% tiveram atrasos ao longo do contrato e 16% estão com parcelas pendentes no mês.
De acordo com a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, a inadimplência atualmente atinge cerca de 59 milhões de pessoas, o que representa quase 40% da população adulta. “Isso mostra que, mesmo estando em uma fase da economia com variáveis positivas, essa melhora ainda não atinge o consumidor. Ele se vê com orçamento muito apertado, o desemprego continua elevado, apesar das contratações terem iniciado. Ainda é uma situação difícil que acaba refletindo na inadimplência”.
Ela destaca que tomar crédito como primeira opção quando se quer consumir algum bem não deve ser feito. “Isso deve ocorrer somente em último caso, especialmente porque estamos em uma fase de conjuntura econômica ruim. Mas uma vez que o consumidor tenha chegado à conclusão de que vai precisar e resolve fazer isso via crédito ou financiamento, é importante que ele pesquise quais são as melhores condições, não só da taxa de juros, mas também do tempo de pagamento, porque isso diminui o valor da parcela”.
A economista diz que é importante fazer um planejamento financeiro em longo prazo. “Esse negócio de achar que a parcela vai caber no orçamento é sempre perigoso. O consumidor precisa criar uma planilha, colocar todas as mensalidades e contar com o salário sem esse dinheiro. Por exemplo, se eu ganho mil reais e minha parcela é de R$ 300, eu só vou poder contar com R$ 700. Também é essencial nunca fazer a conta exata e ter uma reserva financeira, para no caso de o consumidor ter algum tipo de imprevisto e não precisar se endividar ainda mais”.
A secretária Aparecida de Souza Rodrigues admite que possui parcelas de um empréstimo em atraso. “Eu precisava fazer uma obra na minha casa e peguei R$ 5 mil emprestado para pagar em 3 anos. O problema é que nos últimos 2 meses eu tive outros gastos extras devido a problemas de saúde e não consegui quitar as mensalidades do empréstimo. O banco me liga quase todos os dias cobrando e eu não sei como vou fazer para pagar”.
A pesquisa também revelou que 42% dos consumidores recorreram a pelo menos uma forma de crédito em agosto. Na avaliação do grau de dificuldade para conseguir aprovação em empréstimos e financiamentos, a pesquisa mostrou que mais de quatro em cada dez consumidores (44,1%) consideram difícil ou muito difícil a contratação do serviço, enquanto que para 18,4% não é nem fácil nem difícil, e para 14,9%, fácil ou muito fácil. Nas lojas, considerando apenas aqueles que tentaram fazer alguma compra parcelada, quase 63% tiveram o crédito negado, sendo o motivo principal a inadimplência (23,7%), seguido da renda insuficiente (10,6%).
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A modalidade mais utilizada foi o cartão de crédito, mencionada por 35,5%. Entre os usuários do cartão, 39% notaram um aumento no valor de sua fatura, 26% observaram redução e 31% mantiveram o mesmo valor. Ainda de acordo com o levantamento, o valor médio das faturas em agosto foi de R$ 630,59. Os itens de primeira necessidade encabeçam a lista dos produtos e serviços mais comprados com o cartão. 58,8% mencionam alimentos em supermercado, seguido dos itens de farmácia e remédios (52,8%), roupas e calçados (32,4%), combustíveis (32,4%), roupas, calçados e assessórios (32,4%) e bares e restaurantes (28,2%).