A leishmaniose visceral ainda é um problema no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença está entre as 6 maiores endemias do planeta. De acordo com dados da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), em 2016, cerca de 516 pessoas tiveram leishmaniose visceral e neste ano já são 352. No Brasil, foram 418 ocorrências em 2015, último número oficial divulgado pelo Ministério da Saúde. Minas Gerais responde por 77% do total de casos de toda região Sudeste.
Já a leishmaniose visceral canina ganhou, no final do ano passado, um tratamento aprovado pelos ministérios da Saúde e da Agricultura para comercialização no Brasil, o Milteforan, desenvolvido pela Virbac, multinacional francesa. Neste mês, Belo Horizonte sediou um seminário no qual veterinários participam de capacitação para tratamento da leishmaniose visceral canina para apresentar o medicamento, esclarecer dúvidas e discutir casos a fim de reduzir ao máximo o número de morte de cães, possibilitando a eles o tratamento e qualidade de vida.
O remédio é fabricado fora do país e sua aprovação aconteceu após vários anos de investimentos em pesquisa. Em média, cada ciclo de tratamento, que dura 28 dias, para um cão de 10 kg (frasco de 30 ml) custa aproximadamente R$1.062. Todo animal em tratamento precisa ser reavaliado a cada 4 meses, quando o médico veterinário avalia a necessidade de um novo ciclo de tratamento.
A médica veterinária e mestre em clínica de pequenos animais Romeika Reis explica que o tratamento tem como objetivo reduzir a carga parasitária e controlar a doença no cão. “Ele não tem cura parasitológica, sua função é melhorar o quadro clínico do animal, pois a leishmaniose causa feridas, lesões na pele, emagrecimento, perda muscular, sangramento nasal etc. Quando tratado esses sintomas desaparecem e faz com que o cão não seja um transmissor da doença”.
A veterinária diz ainda que os animais tratados podem iniciar o tratamento em qualquer estágio da doença, no entanto, quando são acometidos por patologia renal eles têm um prognóstico ruim. “Após iniciar o tratamento, eles devem ser monitorados pelo resto da vida”.
Mesmo com um custo elevado, agora, os animais podem escapar da eutanásia – indicada para aqueles que são diagnosticados com a doença. “Infelizmente, a eutanásia ainda é uma alternativa, mas como o tratamento é altamente eficiente e seguro, a informação é a melhor forma de mudar essa prática”.
Ela conta que esse medicamento já é utilizado na Europa desde 2008 e que sua aprovação do Brasil se deu, especialmente, por se tratar de uma terapia diferente da oferecida aos humanos.
A SES-MG informou que, até o momento, não foi formalizado oficialmente pelo Ministério da Saúde a utilização do medicamento para tratamento da leishmaniose visceral canina. Desta forma, o preconizado pelo Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral (PVCLV) é que a eutanásia em cães, é a prática mais recomendada.
Ações estaduais
Para reduzir os casos, a SES-MG adota diretrizes técnicas dos programas Ministeriais/Secretaria de Vigilância em Saúde que tem o objetivo de realizar o diagnóstico precoce e o tratamento adequado dos casos humanos; reduzir o contato do vetor com os hospedeiros suscetíveis e promover ações de educação em saúde e mobilização social.
Dentro dos itens do programa está o monitoramento e avaliação dos casos notificados com capacitação de profissionais de saúde para a vigilância, gestão e distribuição dos medicamentos utilizados para terapia humana, no qual os remédios são disponibilizados a nível estadual e municipal. De acordo com o Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral, a prática da eutanásia canina é recomendada a todos os animais sororreagentes e/ou parasitológico positivo visando minimizar o risco de transmissão da doença ao homem. Segundo o manual, a ocorrência de casos caninos precede os em humanos, sendo o cão considerado, na área urbana, a principal fonte de infecção para o flebótomo (inseto).
Prevenção
Mesmo com esse grande avanço, a prevenção da doença ainda é o melhor caminho. Romeika salienta que as medidas preventivas devem ser concentradas nos cães, evitando a picada do flebotomíneo (inseto pequeno), ou mosquito, por meio de inseticidas e repelentes, como as coleiras, top spots (frasco com líquido que se aplica nos animais para conter parasitas) e vacinas que modulam a resposta imune do cão, caso ele seja picado, evitando que ele adoeça. “Vale ressaltar que é importante o controle de natalidade dos animais com a castração, pois durante o cruzamento também se transmite a doença”.
Ela diz que o mosquito tem preferência por ambientes quentes e escuros, como copas de árvores e se multiplicam em matéria orgânica. “A poda de árvores e o controle de lixo é essencial para o controle dessa doença tão desafiadora” conclui.
Fique atento
Transmissão – a transmissão do parasita ocorre apenas por meio da picada do mosquito fêmea infectado.
Sintomas no ser humano – febre prolongada, perda de peso, falta de apetite e aumento do fígado e baço.
Sintomas no cão – lesões de pele, perda de peso, descamações, crescimento exagerado das unhas e dificuldade de locomoção. No estágio avançado, atinge os órgãos do animal, levando-o a óbito.
Prevenção da doença – fazer a retirada de qualquer tipo de material orgânico como folhas, fezes de animais, entulhos e lixo, onde o mosquito possa se reproduzir. A borrifação química é fundamental em áreas endêmicas.
Fonte: vet.ufmg.br e Portal do Dog