Em 2015 o PSDB, após ser derrotado pelo PT, estufou o peito, afinou o discurso e apoderou-se da bandeira de passar o Brasil a limpo, motivando os milhares de brasileiros que iam às ruas em busca de um país melhor e mais justo e, emparelhando com o PMDB – que até aquele momento era vice do governo petista – e alguns outros partidos, sob a retórica da moralidade, articulou o processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Este processo culmina com a queda de Dilma, pelo crime de abertura de crédito suplementar sem a prévia autorização do Congresso.
Mas, para que o PSDB participasse do governo pós-impeachment, foi preciso formar coalisão com o PMDB que acabara de assumir a presidência. Esse casamento foi lastreado pela divisão dos cargos do primeiro escalão e pela comunhão no principal propósito de incentivarem as investigações da Lava Jato, mantendo o fogo alto e a metralhadora mirada na cúpula do PT, principalmente, no ex-presidente Lula, visando às eleições de 2018. Estava pronta a arquitetura da revanche.
Acontece que o fogo se alastrou. As investigações foram cumprindo seu papel e a justiça atendendo ao seu mister e ao clamor social de “passar o Brasil a limpo”, investigando a fundo, tudo e todos. Até mesmo os arquitetos do projeto, que juravam inocência e defendiam com a boca cheia e peito aberto a moralidade na política.
Além dos gravíssimos fatos de corrupção que vinham sendo revelados nos últimos meses, a metralhadora da Lava Jato atingiu a cúpula do PMDB, ferindo gravemente o ex-presidente do Senado e mortalmente o ex-presidente da Câmara, além de ministros, deputados e senadores, culminando nesta semana numa verdadeira explosão de culpas comprovadas de enormes malfeitos e crimes hediondos. Como todo casamento, a união vale na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, a liderança do PSDB desintegra ao mesmo passo que desintegra o próprio presidente Temer. Abraçados na alegria da revanche, abraçados na derrocada. E, assim, com a delação do verdadeiro dono do mega frigorífico que seria do filho de Lula, o governo mergulha numa inédita e insustentável crise política, empurrando para o fundo do poço a nação brasileira.
Hoje, em meio a manifestações de humor e ódio nas ruas, os brasileiros dominam os top trends da internet com palavras de ordem e sede de justiça. A sociedade se sente traída pelos mentores daquele fantástico projeto revanchista e pela grande mídia que, em prol de seus interesses, se apresenta surpresa com tais revelações e fatos incontestáveis, se fazendo de coadjuvante onde divide o protagonismo.
Agora, com o presidente de honra do PMDB, e de fato do Brasil, se tornando alvo de investigação autorizada pelo Supremo Tribunal Federal; com a debandada do PSDB do governo, com a possível delação de Eduardo Cunha e Aécio Neves, a economia desintegrando e a opinião pública buscando, mais do que nunca, explicações e, mais ainda, justiça a qualquer modo, será mesmo que Temer, “por não ter nada a temer”, não deveria renunciar?
Está cada vez mais claro que o brasileiro quer uma nova política, um novo jeito de se fazer política, um novo perfil de políticos. Ele quer a constitucional contribuição da justiça na promoção das mudanças que começam a tomar forma expurgando os parasitas que há muito tempo sugam a alma do brasileiro. Muito embora essa mudança e a melhoria tragam consigo um momentâneo sentimento de dor quase insuportável, de grande sofrimento, ela é iminente. É necessária. É vital.
Portanto, presidente Temer, não tema, não teime. Diante dos fatos recentes, do casamento falido, da arquitetura desastrada e do contexto histórico, político e da incontestável e absoluta necessidade de um novo Brasil, por favor, por nós, renuncie!