Localizada no Sul de Minas, a cidade de Juruaia é conhecida, nacionalmente, como a capital mineira da lingerie. O motivo disso é que o município é o 3° maior polo de moda íntima do Brasil, sendo responsável por 15% da produção do país. A venda de lingerie é a principal atividade econômica da cidade e também a que mais emprega. A região possui cerca de 250 lojas do setor, sendo 200 delas com fabricação própria. O segmento arrecada R$ 240 milhões por ano.
Um fato que chama a atenção é que 90% das lojas são comandadas por mulheres. E a força do sexo feminino foi destaque na 20ª Feira de Lingerie de Juruaia (Felinju). O evento é o maior de moda íntima de Minas Gerais e ajuda a fomentar, ainda mais, o segmento na cidade. Este ano, os 3 dias de feira contaram com 22 mil visitantes e compradores, resultando em um montante de R$ 18 milhões em negócios.
Em seu discurso de abertura, a presidente da Associação Comercial e Industrial de Juruaia (Aciju), Tania Mara Rezende, afirma que a feira tem 20 anos de história. “Todos os meus antecessores deixaram sua dedicação e esforço para manter a Felinju viva. Acredito que o evento pode se tornar o maior do país, por isso, estamos abrindo às portas para pessoas de outros lugares participar”.
Tania acrescenta que a superação fez da feira uma referência estadual e nacional. “Hoje, temos 15 cidades participando conosco. Sempre tivemos consciência de que a feira é importantíssima para o crescimento de Juruaia. Não se faz um evento como esse com uma ou duas empresas, mas sim com uma cidade inteira a favor de uma bandeira chamada Felinju”.
Ela disse ainda sobre a importância do tema. “Tratamos sobre o empoderamento feminino e é até redundante falar de feminismo em uma cidade onde 90% das empresas são comandadas por mulheres. Talvez, aqui, nesse cantinho do mundo, a igualdade de direito de gêneros já seja realidade”.
Destaques
Além do impacto positivo na economia do Estado, a Felinju trouxe o empoderamento feminino como tema principal. As autoridades presentes no local fizeram questão de ressaltar a importância do sexo feminino para os negócios no setor. Para a presidente Federaminas Mulher, Yeda Fernal, em um município, onde a principal fonte de renda é comandada, em sua maioria, por mulheres, elas merecem todo o respeito e representatividade.
No primeiro dia de desfiles, um telão exibia frases de efeito como: “Meu nome não é psiu” e “Minha roupa não é convite”. Na passarela a Íntima Passion preferiu mulheres reais. “Trabalhar o empoderamento feminino é um desejo que tenho há um tempo”, explica Tânia, que é também a idealizadora da marca. “A coleção Veneza casou com todos os tipos de mulheres e foram elas que desfilaram as lingeries. “Negras, altas, magras, gordas etc. Quisemos mostrar que qualquer uma pode usar o que quiser”.
Mercado em crescimento
A Íntima Passion é, hoje, uma das maiores marcas da cidade. E ela pretende continuar crescendo. “Temos 12 anos de loja e o que a faz sólida é o design e qualidade de produto. Nossa identidade é muito firme e baseada em peças clássicas. Além disso, nossos clientes são muito fiéis. Eles sempre voltam. Esse ano crescemos 38%, mas nossa meta é 40%, um desafio, porém estamos lutando bastante para conseguir esse objetivo. Vamos triplicar nosso espaço para atender melhor nossos clientes”.
Tania ressalta que é muito criteriosa quanto a modelagem de seu produto. “Busquei um mastologista de Belo Horizonte, e um PHD canadense para me auxiliar no desenvolvimento das peças. Entendendo o seio da mulher e a forma como o sutiã pode, e deve, valorizá-lo”.
O setor de lingeries, em Juruaia, pouco sofreu com a crise. O proprietário da marca Garota Veneno, César Júnior e Silva, explica que a feira auxilia na inovação. “A Felinju proporciona um crescimento porque faz com que o empresário busque maneiras diferenciadas de receber o cliente”.
Ele esclarece que busca diferenciar sua marca das outras e que, por isso, se manteve estável mesmo em meio ao retrocesso econômico. “Voltamos a ter um leve desenvolvimento, nossa expectativa para 2017 é crescer de 15% a 20%. Para isso aumentamos nosso mix de produto a fim de variar nosso preço sem alterar a qualidade. Nossa marca vende ousadia, sedução e sonhos. Tudo isso sem perder o conforto”.
Já a marca Modelle, nasceu em meio à crise. Seu idealizador, Val Allans, explica que para driblar a dificuldade financeira e conquistar seu espaço no mercado, ele optou por criar uma empresa diferenciada. “Nós criamos uma marca com um design e conceito bem formados. Passamos sensualidade através da sofisticação. Por causa disso, nós não competimos diretamente com os outros lojistas e acabamos por alcançar uma demanda de clientes tanto em Juruaia como fora dela”.
Allans acrescenta que a marca já é conhecida até mesmo fora do país. “Começamos há um ano e hoje, além dos clientes locais, temos compradores no Estado de São Paulo, no Paraná. Estamos chegando em Belo Horizonte e, também, iniciando um trabalho de exportação para Austrália e Europa”.
Futuro
Para o prefeito de Juruaia, Claudeci Araujo, a cidade está pronta para o amanhã. “Fatos marcantes e determinantes fazem parte da nossa identidade. O que vemos hoje é a concretização de projetos sonhados em conjuntos, a fim de fazer da cidade a capital da Lingerie. A prefeitura acredita no potencial de nossos empresários que tem todo nosso apoio. Contamos com a população para desenvolver cada dia mais”.
O secretário de governo Odair Cunha, corrobora que o povo de Juruaia deve servir de exemplo para toda população. “A Felinju chegou ao seu vigésimo ano. Isso significa que os moradores e empresários buscaram superar dificuldades para fazer isso acontecer. Foram criativos, persistiram e insistiram. É de gente assim que o país precisa nesse momento”.
Para finalizar, Cunha citou o seu representado, o governador Fernando Pimentel. “Se enfrenta crise com trabalho e dedicação. E é esse exemplo que tiramos do povo de Juruaia, que é sério, honesto, trabalhador. Que vai atrás do que quer”, conclui.
