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Índice de famílias endividadas chega a 70% e atinge maior nível em 11 anos

Inflação e desemprego são alguns dos motivos que levam as famílias a se endividarem | Foto: Divulgação

 

Dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mostram que o primeiro semestre do ano acabou com 69,7% das famílias endividadas. O mês de junho atingiu o maior percentual de brasileiros nessa condição desde 2010. Os números representam uma alta de 1,7% em relação a maio e de 2,5% do registrado em junho de 2020.

A taxa de famílias que declararam que não conseguirão pagar suas despesas ou dívidas aumentou de 10,5% para 10,8%. É o caso da diarista Nalva Sousa. Há mais de 10 anos sem carteira assinada, ela trabalha por conta própria fazendo faxina em casas e escritórios. Além disso, o marido dela está desempregado. “Temos dois filhos e a única fonte de renda vem do meu trabalho. Entretanto, a pandemia me fez perder muitos clientes que ficaram com medo de receber terceiros em casa e não tiro a razão deles. Vivemos um momento bastante delicado”.

Ela explica que tem tentado economizar ao máximo. “Mas como fazer isso se a gente já vive há um bom tempo apenas com o básico? Atualmente, tenho dívidas no cartão de crédito, porque fui acumulando algumas compras do mês nele e também tenho atrasado constantemente as contas de água e luz. Inclusive, meu abastecimento já foi cortado duas vezes. É uma situação humilhante”.

Para a economista Gabriele Couto, esse cenário acontece por inúmeros fatores. “A conjuntura que vivemos é propícia para o endividamento, a começar pela inflação. O dólar alto também impacta, já que os produtores de alimentos passam a dar preferência para a exportação, fazendo com que a oferta dentro do país fique menor e os preços mais altos. Além disso, temos o índice de desemprego que está elevado, bem como salários baixos, onde a pessoa consegue arcar apenas com o básico. Por fim, a educação financeira do brasileiro é precária”.

A especialista em finanças Aline Soaper explica que famílias endividadas representam uma piora na economia do país. “Mais pessoas estão dependendo de programas sociais e sem acesso ao crédito, o que afeta também na produção e consumo em vários setores. Com menos consumidores, as consequências chegam às empresas e afetam negativamente a todos”.

Para ela, a solução começaria no aumento do número de postos de trabalho. “O acréscimo do desemprego, a perda do poder de compra em razão da inflação, bem como a falta de informação sobre o uso do crédito são responsáveis por grande parte do endividamento da população. No primeiro caso, a geração de novas vagas e, consequentemente, o avanço da renda familiar são fundamentais para diminuir o número de famílias endividadas. Da mesma forma, é preciso mais conscientização financeira sobre o uso do crédito e dos recursos financeiros”.

O que fazer com as contas?

Para Lucas Vieira, CRO de uma empresa especializada em crediário, com a retomada econômica e conforme os brasileiros forem se recolocando no mercado de trabalho, a tendência é que o índice de famílias endividadas diminua. “Isso porque muitos tentarão colocar em ordem as dívidas para ter mais acesso ao crédito”.

Contudo, antes de iniciar as negociações com os credores, é importante que se coloque todos os gastos em um orçamento detalhado e destine um valor para quitar os débitos que não inviabilize outros gastos da família. “Feito isso, é a hora de procurar as instituições financeiras, seja em contatos direto ou em feirões, e optar por pagamentos à vista ou parcelamentos nos quais os juros não sejam tão altos”.

Uma vez livre das dívidas, ao voltar ao consumo varejista, o especialista reforça que é importante se atentar a novas formas de pagamentos que evitem os juros abusivos, como os praticados pelos cartões de crédito. “O crediário digital é uma ferramenta do varejo que permite aos brasileiros comprarem no comércio eletrônico e apresenta parcelas com taxas de juros mais atraentes, sem comprometer o limite do cartão de crédito, o que pode acarretar na hora de quitar a fatura na totalidade e incidir mais juros”, conclui.