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No futuro, jovens idealizam morar em casa no interior

Residir em uma casa (32%) na zona rural ou interior (33%) é como os jovens idealizam suas moradias no futuro | Foto: Pexels/Elifskies

A nova geração não quer saber nem de apartamento, nem de capital, pelo menos é o que aponta o relatório “Agentes da mudança” de 2021. A pesquisa realizada pela Electrolux investiga as tendências da juventude em relação ao futuro. No que diz respeito à moradia, o jovem idealiza morar em uma casa (32%) na zona rural ou interior (33%). O estudo entrevistou 13.886 pessoas de 13 países, incluindo o Brasil, com idades entre 15 e 20 anos.

Segundo o levantamento, para os jovens pesquisados, a casa desempenha um “papel central em um bem-estar da pessoa, representando um espaço para recarregar as energias e socializar com seus entes queridos”. Entre os que não se veem morando na cidade, o motivo relatado é de que a vida urbana está associada ao estresse e ao consumo desnecessário.

É válido ressaltar que as entrevistas foram realizadas no período da pandemia da COVID-19, o que para a consultora do mercado imobiliário, Arlene Gomes, tem impacto direto. “Eu não conhecia esse dado entre os jovens, mas observo essa tendência na prática, independentemente da faixa etária. As pessoas começaram a procurar por mais casas e por áreas de respiro. Há uma mudança de comportamento e uma reflexão sobre a moradia e não só onde, mas como morar”, diz.

Segundo a consultora, esse movimento não tem acontecido apenas entre as novas gerações. “Com base nos meus clientes, na capital e no interior, observo que quem está em cidades menores vive, de fato, uma vida mais tranquila. Pessoas que têm filhos pequenos em cidades grandes migraram para o interior por variados motivos, mas, especialmente, buscando qualidade de vida”.

Quem repensou sobre onde morar em agosto do ano passado foi Amanda Bielski, 26. “Tudo começou quando os dois amigos que moravam comigo precisaram voltar para suas cidades por causa da pandemia em junho. Então, eu já tinha que entregar o apartamento, mas me vi sem vontade nenhuma de procurar outro. Olhando hoje, acho que estava doente com tantas notícias ruins sem nenhuma data certa, naquela época, para vacina no Brasil. Então, em vez de mudar de endereço, propus para minha namorada: ‘Vamos mudar tudo?’”, conta a desenvolvedora que saiu do bairro Cidade Jardim, na capital, para morar em Cumuruxatiba, distrito da Bahia.

Sobre um possível retorno para um grande centro, Amanda reluta. “Eu não vou dizer que vou ficar aqui para sempre, porque é impossível saber isso. Mas, muita coisa mudou, a minha cabeça estava acelerada, tudo acontecia muito depressa e eu não processava nada, só ia vivendo. A minha rotina hoje é completamente diferente. Então o que eu sei hoje é que posso mudar de cidade, mas não me vejo no futuro comprando uma casa em BH”.

Mercado preparado?

Sobre a preparação do setor imobiliário para atender esta nova demanda, Arlene diz que tudo ainda é embrionário. “Há movimentos do mercado nesta área. Existem startups que, cada vez mais, investem em ambientes compartilhados e iniciativas que estão priorizando a natureza e a sustentabilidade. Agora, nas imobiliárias ainda tem um bom universo para crescer nesse sentido porque elas ainda encaram a moradia de uma forma bem tradicional. Ainda falta um olhar para esse público do amanhã”, acredita.

A informação também foi recebida com surpresa pelo diretor da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG), Rodrigo Carvalho. “Nunca ouvi falar dessa tendência entre o público jovem. Mas, vemos muitas empresas imobiliárias especialistas na sua proposta nascendo, inclusive aquelas especializadas no interior, mas também nas chamadas smart city centradas no bem-estar social. Então se essa tendência se efetivar de fato, o mercado vai se adaptar para atender a demanda”, acrescenta.

Atualmente, no entanto, Carvalho não vê força no movimento. “Observo que profissionais da área de tecnologia têm feito esse movimento de ir para o interior. Isso porque, na essência, o trabalho já era home office. Já aqueles que começaram a trabalhar remotamente por causa da pandemia e já tinham raízes no interior, aproveitaram o momento para voltar para lá e até entregaram contratos de locação que tinham na capital. Mas, isso acaba não afetando tanto nosso dia a dia”, ressalta.

Seja no interior ou na capital, enquanto as pessoas repensam sobre suas moradias, o mercado imobiliário aquece. “O setor foi beneficiado com a pandemia, as pessoas começaram a pensar sobre o lar com uma reflexão diferente. Agora, elas imaginam um escritório, um espaço para os filhos porque virou o local de morar, trabalhar, estudar, de tudo. A COVID-19 fez com que os indivíduos reformassem os ambientes que estavam, ou comprassem outro imóvel ou alugassem outro. Além dos incentivos fiscais do governo para facilitar esse movimento do mercado. As imobiliárias que estavam preparadas se fortaleceram neste período. Empresas que demorariam 5 anos para aplicar algum tipo de tecnologia tiveram que fazer essa adaptação em menos de 1 ano”, conclui Arlene.