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Preço da carne bovina subiu 31,31% nos últimos 12 meses

Crises hídrica e energética, alta do dólar e crescimento das exportações são apontados como fatores para o aumento | Foto: Reprodução/Internet

A crise financeira já vinha assolando os brasileiros, mas foi agravada ainda mais pela pandemia de COVID-19. Com isso, a ida ao supermercado ficou mais cara com as constantes altas nos preços dos alimentos, o que tem feito muitas famílias terem dificuldades de colocar comida na mesa. Entre os itens que mais pesam no bolso do consumidor está a carne bovina, que subiu, em média, 31,31% nos últimos 12 meses. Os dados são da pesquisa mais recente divulgada, no fim de agosto, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O fato é que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) ficou em 0,89% em agosto, sendo o maior resultado para o mês desde 2002, quando atingiu 1%. O número foi alavancado, principalmente, pelo aumento da energia elétrica.

Nem os cortes considerados de segunda estão livres das consequências da inflação, já que o músculo foi o que mais subiu: 40,73%, seguido pelo patinho (36,86%), chã de dentro (33,96%), acém (32,21%) e alcatra (31,08%).

Para o economista Fernando Almeida, existem alguns fatores que ajudam a explicar os motivos do preço da carne vermelha estar subindo nos últimos meses. “Um deles é o dólar alto, negociado na casa dos R$ 5,30, que encarece os custos com a matéria-prima, como milho e soja, usados na alimentação dos animais. Outra razão é o crescimento das exportações, diminuindo a oferta no país e elevando seus preços no mercado interno”.

Entre outros motivos, Almeida cita a crise hídrica e energia mais cara. “Com as tarifas elevadas, também gera aumento nos custos de produção das empresas como, por exemplo, no setor de frigoríficos. Assim, há uma menor oferta de carne bovina e majoração nos preços”, esclarece.

Ele diz ainda que o desemprego e a perda da renda dos brasileiros contribuíram para chegarmos nesse cenário. “O país tem, hoje, uma taxa de desocupados que fica em 14,6%, atingindo 14,8 milhões de pessoas. O valor do salário, atualmente afixado em R$ 1.100, não é capaz de garantir o mínimo aos cidadãos. Cerca de 60% do rendimento mensal é comprometido somente para comprar itens da cesta básica”.

Para se ter uma ideia, o consumo de carne caiu ao menor nível em 25 anos. De acordo com estudo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), cada brasileiro consome, em média, 26,4 quilos de carne ao ano, queda de quase 14% em relação a 2019, período quando ainda não havia crise sanitária. Só nos primeiros quatro meses deste ano, o consumo per capita de carne bovina caiu mais de 4% em relação a 2020, segundo estimativa da Conab.

Preços assustam consumidores

A faxineira Inês Pereira conta que está cada vez mais difícil ter carne no almoço em família. “Aqui em casa moram 4 pessoas. O consumo tem sido ocasionalmente e só cortes de segunda, como fraldinha e acém. Nos últimos meses, temos trocado a carne vermelha pelo frango, peixe ou até mesmo ovo. Os preços da carne bovina estão assustadores, ainda mais para gente que ganha pouco mais de um salário. Aliás, alimentação no geral ficou mais cara no Brasil e tenho sentido a alta no bolso”, desabafa.

Quem também está preocupado é o aposentado Almir Silveira. Para equilibrar o orçamento familiar, carne bovina só é consumida aos fins de semana. “Está tudo muito caro, cada vez que vou ao açougue ou supermercado, os preços estão sempre mais altos que o mês anterior. Recentemente, paguei R$ 48 no quilo da alcatra e renderam apenas 4 bifes. Temos optado por uma proteína mais barata, como o frango, e incluído mais legumes na dieta”, relata.

Queda nas vendas

Se está ruim para os consumidores, para quem vende, a situação também está ainda mais complicada. É o que diz Ademir Duarte, proprietário de um açougue. Segundo ele, os clientes têm evitado a carne bovina. “Estão comprando em menor quantidade. A queda nas vendas foi de cerca de 30%. Em compensação, a procura por suínos e frangos tem sido maior nos últimos meses. Tentamos, ao máximo, não repassar o aumento aos consumidores. Infelizmente, isso não foi possível. Acredito que os preços devem se estabilizar e começar a cair um pouco”.

Já para Jussara Rodrigues, que também é dona de um açougue, o momento é um dos piores desde o início da crise sanitária. “Não queremos perder a clientela e nem precisar majorar tanto os valores. Só que para isso, nossa margem de lucro diminuiu muito. E ainda temos outros gastos para manter o estabelecimento, como água, energia, aluguel, que também são coisas que subiram demais. Mesmo assim, percebemos uma queda de 25% nas vendas de carne vermelha. A situação está complicada para todos”, conclui.