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Atendimento médico a ciclistas acidentados cresce 72% em BH

Até o final de julho deste ano, das 4.164 vítimas de acidentes de trânsito, 249 eram ciclistas | Foto: Freepik

O risco a ciclistas no trânsito de Belo Horizonte tem aumentado nos últimos anos. Levantamento da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), com base nos dados de atendimentos no Hospital João XXIII, referência em urgência e emergência no país, mostra que o número de ciclistas vítimas de acidentes de trânsito cresceu 72% na capital mineira.

A pesquisa mostra que, em 2015, esse tipo de ocorrência representava 3,47% do total de atendimentos, já em 2021 esse índice saltou para 5,97%. Até o final de julho deste ano, das 4.164 vítimas de acidentes de trânsito atendidas pelo hospital, 249 eram ciclistas.

Para Alysson Coimbra, médico e diretor científico da Ammetra, o aumento de ciclistas no número de vítimas de trânsito pode ser explicado por três fatores. “O primeiro é econômico, já que a aquisição de uma bicicleta é extremamente inferior em relação a outros tipos de automóveis, como moto e carros. E, até a impossibilidade de custeio da passagem de ônibus, metrô ou transportes por aplicativos. Em segundo, mais recentemente, temos as questões restritivas impostas pela pandemia, na medida em que a bicicleta se tornou o meio de transporte mais seguro por evitar aglomerações e, paralelamente, mais saudável também. O terceiro ponto são as modificações da saúde física e psicológica dos nossos motoristas. Eles estão mais agressivos, impacientes e intolerantes. Claramente, vemos no dia a dia uma inabilidade de convivência harmônica resultando em brigas, fechadas, atropelamentos e avanço de sinal”, avalia.

Belo Horizonte parece refletir o panorama nacional. Durante a pandemia, mesmo com a redução do volume de veículos motorizados nas ruas das cidades, o número de fatalidades no trânsito não caiu. De acordo com o Data-SUS, em 2019, foram mais de 30 mil óbitos e, em 2020, foram pagas mais de 33 mil indenizações por morte pela seguradora Líder, responsável pela operação do Seguro Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT). A estimativa da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) é de que, a cada morte, outras 70 lesões aconteçam e outras 15 pessoas necessitem de hospitalização, decorrentes de sinistros nas vias.

Para Coimbra, os índices mostram que o trânsito brasileiro está cada vez mais letal e perigoso. “Os ferimentos vão desde escoriações simples e fraturas expostas até lesões fatais como ruptura de órgãos internos que vão depender da energia do choque. Quanto maior a velocidade, tanto do ciclista quanto do motorista, maior a gravidade dessas lesões. Portanto, o desrespeito às normas de circulação em vias, avenidas e estradas é o principal fator de agravamento dessas lesões”, diz.

Coimbra ressalta que os tipos mais comuns de acidentes com bicicletas são as colisões laterais e traseiras devido a movimentos bruscos dos veículos e conversões sem sinalização, muitas vezes, por falta de checagem nos retrovisores. “São acidentes de grande energia mediante a dimensão e peso de ônibus, automóveis e até motocicletas. Ressaltando que o risco de óbito para ciclistas nessas circunstâncias é oito vezes maior do que no interior de um automóvel. Ou seja, a vulnerabilidade dele no trânsito fica cada vez mais evidente em um tráfego intenso e recorrentemente desrespeitoso às normas de circulação”, completa.

A imprudência de uma motorista em janeiro deste ano faz com que o arquiteto João Cláudio Pimentel, 33, sofra até hoje. “Era dia ainda, estava voltando do trabalho quando fui abalroado na Savassi ao atravessar a Santa Rita Durão. Como resultado, rompi o ligamento e fraturei os ossos do meu pé esquerdo. Tudo aconteceu em questão de segundos, a motorista se distraiu e avançou o sinal entrando na ciclovia que eu estava. Até hoje faço fisioterapia, gasto com remédios para dor e não voltei a pedalar, o que aumentou meus gastos com locomoção, sem falar na minha saúde física e mental porque eu me movimentava diariamente”, lamenta.

Para reverter o quadro, o especialista lembra que a segurança nas ruas é dever de todos. “O motorista brasileiro tem utilizado seu veículo com um aspecto mais egoísta, pensando somente na sua necessidade de chegar ao seu compromisso, considerando seu deslocamento mais importante que o de todos. É preciso respeitar o espaço do outro. Ao ciclista, cabe a responsabilidade de fazer com que seja visto, evitando roupas de um tom só e dando preferências a vestimenta colorida e fluorescente. Além disso, utilizar os equipamentos de proteção individual e usar os braços para sinalizar conversões para que os demais integrantes da via entendam o movimento que vai ser realizado. Ele também precisa compreender que deve cumprir as leis de trânsito e não exceder o limite de velocidade, não ultrapassar semáforos e não circular em locais proibidos, como calçadas”, finaliza.