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A cada 45 minutos, uma morte por suicídio é registrada no país

Campanha fala sobre a prevenção ao suicídio e valorização da vida | Foto: Reprodução/Internet

Setembro Amarelo é a campanha que marca a luta pela prevenção ao suicídio no Brasil. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que, a cada 45 minutos, uma morte por suicídio é registrada no país. Ele é ainda a terceira principal causa de morte entre os jovens de 15 e 29 anos. Em tempos pandêmicos, falar sobre a saúde mental se tornou mais do que necessário. O Brasil já era, antes da COVID-19 chegar, o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo. Agora, inúmeros fatores, como o isolamento, fizeram com que sintomas da depressão fossem encontrados entre 92,2% das pessoas analisadas na pesquisa “Saúde mental na pandemia do Coronavirus Disease 2019 (COVID-19)”, feita pela Universidade Federal de Juiz de Fora.

No que se refere à saúde mental, outro obstáculo é preocupante: o tabu acerca dos transtornos mentais. Dados de uma pesquisa feita pelo Ibope mostram que 23% dos adolescentes brasileiros entre 13 e 17 anos enxergam esse problema como um “momento de tristeza” e não uma doença grave. Na mesma faixa etária, 39% afirmaram que, caso recebessem o diagnóstico de depressão, não revelariam para familiares. O índice é ainda mais alto na faixa entre 25 e 34 anos: 63%.

Segundo a psicóloga Renata Borja, isso se dá pelo fato de existir preconceito acerca do transtorno mental. “Acredito que políticas públicas, voltadas, principalmente, para a educação seria uma saída importante para melhorar esse quadro. É necessário que os cidadãos saibam que comportamentos equivocados podem contribuir para o surgimento da depressão e gerar nas pessoas uma falta de sentido e significado, o que potencializa os casos de suicídio. Precisamos dar escuta e acolhida a quem pede ajuda”.

A coordenadora da Comissão de Seleção de Voluntários do Centro de Valorização da Vida (CVV), Norma de Oliveira, acrescenta que, às vezes, julgamos porque temos dificuldades de ficar com o outro na dor. “Quando isso acontece, passamos por cima de três coisas: a compreensão do que ele sente; o respeito, haja vista que a maneira como ele sente a dor é no tempo dele; e a aceitação do que a pessoa sente. Essa acolhida sempre foi falha, afinal, sempre precisamos de ombro amigo, aquele que podemos falar sobre nossas angústias sem medo”.

A estudante de Relações Internacionais Caroline Lopes teve dificuldade de encontrar essa escuta. “A frase ‘estou aqui para você’ é mentirosa. Eu tentei me agarrar a ela e a falsa ajuda das pessoas e me afundei mais. Sempre tive amigos e familiares me dando apoio, mas chega uma hora que todo mundo cansa e você está sozinha. Muitas vezes, não tive forças para sequer pedir ajuda. Em uma delas, só quis acabar com a minha dor”.

Para a assistente social Marilda Fernandes, a ausência de empatia foi algo agravante, mas ela não culpa as pessoas por isso. “Vivemos em uma sociedade onde existe a cultura de crer que parte da população é privilegiada e inata e outras nasceram fadadas ao sofrimento e eu faço parte do segundo grupo. Recordo-me do sentimento intenso de dor, desesperança e da ideia de que viver já não fazia mais sentido. Enquanto não superarmos essa desigualdade, não poderemos contar com a empatia dos outros”.

Para as duas, o Setembro Amarelo não tem sido tão eficaz, pois os motivos que levam as pessoas a transtornos mentais e ao suicídio estão muito além delas mesmas. “Quando o foco é colocado no individual, acaba desviando o olhar de fatores sociais que levam a um processo de adoecimento do qual o suicídio pode ser a consequência. Tudo se torna ainda mais preocupante diante do cenário pandêmico. Dizer apenas ‘preserve a vida’, torna-se cortina de fumaça”, diz Marilda.

“A campanha tornou-se o momento no qual as pessoas estão mais preocupadas em postar nas redes sociais. Todo mundo diz que tem empatia e que está disponível, mas isso não é verdade”, desabafa Caroline.

Prevenção

A psicóloga Meire Rose explica que a prevenção é de extrema importância. “É essencial que a pessoa que esteja vivenciando, ou em situação de sofrimento, possa falar e ser ouvida. Se faz necessário ainda realizar a identificação dos fatores de risco para que possam ser reduzidos e os de proteção fortalecidos. Dessa forma, será possível acolher, apoiar e orientar médicos, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais voltados para temática em suicidologia para realizar o adequado direcionamento e acompanhamento desse paciente”.

Renata acrescenta que alguns hábitos são importantes para a prevenção. “A depressão precisa ser tratada por uma equipe especializada. Discorrer sobre prevenção ao suicídio é falar também sobre atividade física, sono de qualidade, exercício da espiritualidade e ainda que a pessoa busque sentido para a vida, faça trabalhos voluntários, por exemplo. Além de se envolver em atividades que tragam lazer. Tudo isso vai auxiliá-la a criar conexões e estratégias de prevenção”.

O trabalho no Centro de Valorização da Vida trouxe sentido para a vida de Norma e ela reforça que o projeto segue atuando no acolhimento de todos que precisarem. “Há 59 anos, desenvolvemos essa escuta compreensiva. Muitas pessoas que têm reação suicida não querem morrer, mas ficar livres de uma dor imensa que estão sentindo. Se ela conseguir colocar em palavras seus sentimentos – e com alguém que vai ouvir -, ela irá compreender e, sobretudo, se aceitar. E, a partir disso, pode descobrir outras saídas que não seja dar fim a própria vida. Trata-se de encontrar respostas para perguntas que ela tem medo de fazer”.