Home > Esporte > Mais da metade dos jogadores de futebol vivem com um salário mínimo

Mais da metade dos jogadores de futebol vivem com um salário mínimo

No país do futebol, existem cerca de 360 mil jogadores registrados. Destes, 25% têm o esporte como principal fonte de renda. Mas, esqueça as cifras milionárias que craques famosos faturam em uma única ação de marketing. A maior parte da categoria (55%) recebe remuneração mensal de R$ 1.100, o piso salarial brasileiro. Outros 33% ganham até R$ 5 mil e apenas 12% têm salário acima desse valor. É o que mostra pesquisa divulgada pela plataforma CupomValido, que reuniu dados da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Statista e Ernst & Young.

O advogado e representante do Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado de Minas Gerais (Safemg), Vitor de Castro, corrobora com as informações. “Os contratos milionários e o glamour da profissão são reservados para poucos, principalmente, àqueles que atuam nos grandes clubes da capital. Esportistas do interior e de menor expressão possuem uma média salarial bastante baixa se comparada aos das equipes de série A e B”, afirma.

O levantamento cita que o futebol movimenta R$ 52 bilhões só no Brasil. Acontece que 80% desse valor está concentrado em apenas 7% dos atletas. Radialista esportivo há quase 40 anos, o presidente da Associação Mineira de Cronistas Esportivos (AMCE), Luiz Carlos Gomes, diz que no chamado “topo” cabem poucos. “É uma profissão charmosa e que atrai curiosidade. O público acredita que eles vivem uma vida cheia de charme, nadando em dinheiro. Infelizmente, a pesquisa mostra outra realidade, a disputa por um lugar ao sol é grande. Uma minoria, os craques, que jogam em times gigantes, fazem fortunas”, diz.

Castro explica que, além do salário, esses profissionais também arrecadam lucros por meio do Direito de Arena, um percentual de 5% referente à exploração durante as transmissões de disputas e o Direito de Imagem. “Mas, a realidade desses benefícios também não favorecem a maioria dos atletas, pois são os clubes famosos que fecham contratos com emissoras de televisão, os menores sequer têm os jogos transmitidos. O Direito de Imagem diz respeito às campanhas publicitárias e mídias sociais em que o clube explora a figura do jogador. Só que esta também é uma realidade de equipes maiores”.

De acordo com o advogado, também é recorrente que os pagamentos atrasem. “São constantes os atrasos e até a inadimplência dos clubes quanto aos salários e demais verbas trabalhistas, o que prejudica todo e qualquer trabalhador, independentemente da sua condição financeira”.

Realidade

O belo-horizontino Lucas Grossi, 22, mudou-se para Ubá, segunda principal cidade da Zona da Mata mineira, para jogar no Sport Club Aymorés. O time ubaense existe há 95 anos e já enfrentou adversários como Tupi, Tupinambás, Olimpique e Esporte. O atacante conta um pouco como é a sua rotina. “Temos muitos horários para cumprir e eles são de acordo com a carga de treinamento que estamos tendo, para não sobrecarregar o nosso corpo, que é o nosso material de trabalho. Na maioria das vezes, trabalhamos aos sábados. Quando não é jogo, fazemos treinos para não perder a forma física e tática. Geralmente, temos uma folga no domingo, mas pode acontecer de jogarmos nesse dia também”, conta.

Sair da casa dos pais cedo, ficar longe de amigos e família, dividir quarto com mais 7 pessoas, perder a infância e os finais de semana são citados por Grossi como principais desafios da carreira. Além disso, como a oferta de jogadores é alta no mercado, há cobrança dos clubes por desempenho. “É uma profissão disputada e acirrada, muitos não conseguem chegar até o sucesso por conta da pressão, humilhação e cansaço. São inúmeras disputas internas e externas. O atleta sofre com a pressão da torcida, da diretoria, do companheiro e da sua própria mente, pois o tempo inteiro a gente se cobra para ser melhor e ganhar espaço”, relata.

Desigualdade no futebol

Do outro lado do campo, estão os superastros da categoria, como Neymar, que chega a faturar R$ 501 milhões, e Lionel Messi, com R$ 657 milhões.

Segundo a pesquisa, isso acontece porque muitos times disputam os mesmos poucos atletas e, quanto mais caros, mais dinheiro o espetáculo em volta do jogador rende. “A quebra dessa desigualdade, como de diversas outras, é um processo muito complexo e que envolve questões amplas, inerentes a todo o esporte e sua administração, passando até mesmo por decisões políticas em diversas áreas, principalmente financeira. O que temos sempre que exigir são maiores e melhores investimentos no esporte, tanto como atividade econômica, quanto social e uma legislação que impute sérias responsabilidades e penalidades aos administradores esportivos que não cumprem a lei”, acredita Castro.