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Serasa diz que contas básicas representam mais de 22% das dívidas dos brasileiros

A alta no valor de gastos básicos como luz e gás pode ser preocupante para alguns brasileiros, afinal parte da população já possui despesas com esse setor. É o que afirma os dados da Serasa que apontam que as contas de utilities representam 22,3% do total de débitos do país. A porcentagem representa quase 37 milhões em dívidas.

Atualmente, o Brasil tem 62,56 milhões de inadimplentes. O ranking de tipos de dívidas é liderado pelo setor de bancos/cartão. No entanto, na região Norte e Sul, a situação é um pouco diferente das outras partes do Brasil, já que, no Norte, as despesas de utilities aparecem em 1º lugar e no Sul só na 6ª posição.

Para o gestor financeiro Vinicius Machado, o principal motivo para esses índices é a queda na renda das pessoas. “Estamos em um período de altíssima inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que está em 8% nos últimos 12 meses. Contudo, os salários não subiram na mesma proporção, pelo contrário, a renda média vem caindo, especialmente durante a pandemia”.

Segundo ele, as coisas estão mais caras, mas a população não tem recebido mais. “Para quem ganha menos de 2 salários mínimos é especialmente difícil porque a proporção dos gastos com alimentos, contas básicas, etc. será maior. E, nesses casos, o aumento inflacionário foi ainda maior do que os 8%. Por isso, é importante que, nesse período, medidas governamentais sejam criadas para passarmos por esse momento de forma menos danosa possível”.

Essa elevação nas despesas foi sentida pelo motorista Jefferson Cardoso. Pai de duas crianças, ele e a esposa recebem um salário mínimo cada um. Jefferson conta que tem sido complicado arcar com os gastos básicos. “Como meus filhos estão mais tempo em casa, as contas chegam mais caras, porque o consumo é maior. No supermercado está tudo um absurdo. Isso acaba trazendo uma ansiedade muito grande, pois é preciso pagar. Como ficar sem arroz, feijão, água e luz?”.

Ele conta que, por causa da alta nos preços, já teve que recorrer ao cartão de crédito. “A conta simplesmente não fecha e o problema é a bola de neve que isso pode virar. Estou buscando alternativas de renda extra para o final de semana e, por isso, comecei a fazer algumas entregas de encomendas usando meu carro”.

O gestor financeiro explica que é exatamente esse hábito de parcelar as contas básicas no cartão que faz com que as dívidas aumentem. Essas despesas acontecem todo mês. “É o mesmo que imaginar que vou pagar a conta de supermercado parcelada, não faz o menor sentido, afinal no outro mês também precisarei pagá-la novamente”.

Machado acrescenta que não ter dinheiro para essas contas significa que o orçamento mensal não é condizente com a renda da pessoa e isso pode ser uma questão mais aguda. “Nesses casos será necessário fazer um ajuste. Apesar de ser muito doloroso, por se tratar de contas básicas, é algo inevitável”.

Foi exatamente o que fez a publicitária Bruna Assis para sair da inadimplência. “Perdi parte da minha renda no começo da pandemia, mas, em 2019, investi em alguns equipamentos, fiz uma dívida alta e não pude arcar com tudo. Tive muita dificuldade em colocar os gastos no papel, entender o que poderia cortar e me reestabelecer. Estou finalizando o pagamento do débito, mas isso me fez perceber que preciso aprender a controlar melhor minhas finanças. Se eu tivesse uma reserva, por exemplo, não teria passado tanto aperto”.

Machado explica que o Brasil não está nem no top 30 de países com a melhor educação financeira. “Por causa disso, precisamos ter uma consideração de que quase metade da população tem uma renda inferior do que um salário-mínimo. Desta forma, é natural que haja dificuldade em controlar as finanças pessoais, mas não por conta de excesso de gastos, mas sim devido à menor renda”.

Como controlar?

O gestor financeiro esclarece que o mais prudente é que a pessoa busque criar uma reserva financeira, principalmente se ela tiver um aumento de renda em algum momento da vida. “Assim, pouco a pouco, você vai nutrindo o hábito de guardar uma parte de seus rendimentos. Nem sempre é possível, mas quando for, deve ser feito”.

Ele finaliza dizendo que é importante não assumir muitas dívidas e, quando possível, dar preferência para o pagamento à vista. “Às vezes, as pessoas ganham um aumento e já pegam este valor para comprar um carro parcelado ou outro bem. Todavia, no meio do caminho pode acontecer alguma coisa parecida com a pandemia, sermos surpreendidos e não conseguimos continuar honrando os pagamentos”.