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Pedidos de divórcio cresceram 15% no Brasil no ano passado

Adriane Branco

Um estudo realizado pelo Colégio Notarial do Brasil – Conselho Federal, entidade que representa os cartórios de notas do país, revelou um crescimento de 15% no número de divórcios em 2020, se comparado a 2019. No total, foram 43.859 pedidos de dissolução matrimonial no ano passado, frente a 38.174 no período anterior.

Em 2020, segundo dados do Google, o termo “Divórcio on-line e gratuito” foi um dos mais buscados na internet, com aumento de 10.000%. A frase “Como entrar com um pedido de divórcio” também foi bastante pesquisada, principalmente nos meses de junho, julho, setembro, outubro e janeiro deste ano, registrando elevação de 3.750%.

Sobre este assunto, o Edição do Brasil conversou com a psicóloga Adriane Branco, especialista em terapia cognitiva comportamental e sexualidade humana.

A maior convivência pode explicar esse aumento no número de divórcios?
Apenas a convivência em si não é a responsável sozinha pelo fim dos casamentos. O que acontece é que o maior tempo juntos que os casais estão passando por conta da quarentena, o que não era muito comum antes, acentuou as divergências no relacionamento. Ou seja, trouxe à tona problemas que eles já vinham vivendo e foram intensificados. O confinamento também fez surgir diversas preocupações, tanto do homem quanto da mulher, com relação à saúde financeira e manutenção de trabalho.

Falta mais diálogo entre os casais hoje em dia?
O que falta é uma comunicação assertiva. Por exemplo, alguns casais têm diálogo, mas muitas vezes acusatórios, quando um salienta o defeito do outro. Também existem aqueles que deixam para conversar no momento em que estão mais alterados. Quando as pessoas começam a falar trazem à tona tudo que estava embaixo do tapete, o que gera ainda mais confusão e não conseguem se acertar. Essa dificuldade de ser assertivo na comunicação é um dos maiores problemas, ou seja, colocar os problemas na hora certa e tratar adequadamente os conflitos.

Fazer terapia pode ajudar a não chegar ao ponto de se divorciarem?
Ela pode auxiliar, mas não significa que a terapia será uma salvação. Na medida em que identificarem que não estão conseguindo lidar sozinhos com os problemas e dificuldades do relacionamento, tratar isso em um ambiente neutro com a presença de um mediador ajuda bastante. Isso porque terão um espaço para falar dos seus sofrimentos e um profissional para conduzir a conversa. Antes de chegar nessas brigas, que muitas vezes não levam a lugar algum, um processo terapêutico é importante para amparar os casais.

Quais são os reflexos de um divórcio na vida de homens e mulheres?
Existe uma série de estudos mais voltados para o aspecto feminino e pouco se pesquisa sobre o sexo masculino. Mas ambos podem desenvolver questões emocionais. Ninguém casa já pensando em separação. Quando acontece um divórcio, existe uma sensação de frustração e fracasso e, consequentemente, a vida passa por mudanças. Se esses sentimentos não forem bem administrados, podem ocasionar casos de depressão e até ansiedade.

Após a separação, existe a possibilidade de os casais repensarem e tentarem uma reconciliação?
Há chances de isso acontecer e já presenciei casais que buscaram a terapia para auxiliar nessa reconciliação. Acontece que muitos se separam não por falta de afeto, mas sim pela dificuldade em saber lidar com os problemas que aparecem na vida a dois, sendo que algumas vezes são questões simples. Porém, quando as pessoas colocam individualmente suas opiniões e querem que aquilo seja seguido, faz com que os outros se afastem e vão em direção ao caminho do divórcio. Mas depois de um tempo repensam, se arrependem e decidem pela volta do relacionamento.

Como conversar com os filhos sobre o assunto?
É importante jamais culpar um ou outro pelo divórcio durante uma conversa. Tem que explicar claramente as razões dessa separação com uma linguagem que a criança ou adolescente vai compreender. Deixar claro que eles continuam sendo filhos e vão sempre ser amados, porém, os pais seguirão rumos diferentes. Os responsáveis devem estar abertos para ouvir os anseios que os filhos trazem, como medos e inseguranças.