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Estudo estima que 1,56 bilhão de máscaras acabaram no fundo dos mares em 2020

A produção de plástico exacerbada é mais uma das consequências resultantes da pandemia da COVID-19. Preocupações com a higiene, prevenção ao coronavírus e maior dependência de alimentos para viagem levaram ao aumento da fabricação de máscaras, luvas, protetores faciais e uma infinidade de embalagens. Nenhum plástico, porém, “desaparece” da Terra. E o destino de cerca de 1,56 bilhão de máscaras faciais em 2020 foram nossos oceanos, o que resultou em um adicional de 4.680 a 6.240 mil toneladas métricas de poluição marinha. É o que revela relatório divulgado pela OceansAsia, uma organização de conservação marinha.

O estudo usou uma estimativa de produção global de 52 bilhões de máscaras fabricadas em 2020, uma taxa de perda conservadora de 3% e o peso médio de 3 a 4 gramas para uma máscara de polipropileno para chegar à estimativa. Para se ter uma ideia, o relatório estima que o valor do mercado global de máscaras era de US$ 0,79 bilhões em 2019, mas se expandiu para US$ 166 bilhões no final de 2020.

As máscaras faciais descartáveis, como as cirúrgicas e as N95, são feitas de TNT (Tecido Não Tecido), que tem como matéria-prima o polipropileno, uma resina termoplástica produzida a partir do gás propileno, um subproduto da refinação do petróleo. De acordo com o relatório, esses plásticos derretidos são difíceis de reciclar devido à composição e ao risco de contaminação e infecção. E, muitas vezes, vão parar nos oceanos quando são descartadas de forma indevida ou quando os sistemas de gerenciamento de resíduos são inadequados ou inexistentes ou quando ficam sobrecarregados devido ao aumento do volume de resíduos.

Como explica Kasandra Poague, mestre em meio ambiente e consultora de uma empresa especializada em temas relacionados às mudanças climáticas, essa ação humana resulta em consequências para a população marítima e para nós mesmos. “No ecossistema marinho, os microplásticos parecem guloseimas saborosas para o zooplâncton, como por exemplo, o krill e outros minúsculos crustáceos semelhantes aos camarões, ou seja, a base da cadeia alimentar. Além de serem ingeridos, os microplásticos também atuam como ‘esponjas’, sugando e absorvendo os poluentes presentes na matriz aquática como pesticidas e produtos químicos industriais que são carreados ou deliberadamente liberados ao oceano e aos corpos d’água. Como os seres humanos estão justamente no topo da cadeia humana, acabamos, por sua vez, comendo peixes e outros frutos do mar cheios de microplásticos misturados com substâncias tóxicas”, afirma.

Porém, como é destacado no relatório, os 1,56 bilhão de Equipamentos de Proteção Individuais (EPI’s) que foram despejados nos oceanos em 2020 são apenas a “ponta do iceberg”. “Importante salientar que os microplásticos não são apenas liberados por meio da degradação e fragmentação dos objetos plásticos que estamos habituados no dia a dia. Eles também são liberados na forma de microfibras durante a lavagem de roupas feitas com materiais sintéticos e na forma de microesferas presentes na composição dos mais diversos cosméticos e produtos de higiene pessoal, como batom, hidratantes, protetor solar, pasta de dente, esmaltes, etc. Como as estações de tratamento de esgoto não são projetadas para remover esses micro fragmentos dos efluentes, da pia do banheiro ou da máquina de lavar, eles encontram seu caminho para os corpos d’água e o oceano. Portanto, uma vez que entram no meio marinho, essas partículas são quase impossíveis de serem removidas”, explica a bióloga.

Como conclusão para amenizar a poluição dos mares em tempos de pandemia, o relatório pede que as pessoas usem máscaras reutilizáveis sempre que possível, descartem-as de maneira responsável e reduzam o consumo geral de plástico descartável. Além de invocar os governos a implementar políticas destinadas a encorajar o uso consciente de EPI’s reutilizáveis, fomentar o desenvolvimento de alternativas sustentáveis às máscaras plásticas, desencorajar o lixo aumentando as multas e educar o público sobre maneiras responsáveis de descarte.

“Não raramente, nos deparamos com ruas cheias de máscaras descartáveis no chão. Esse descarte inadequado além de contribuir para a obstrução dos dispositivos de drenagem urbana, as populares bocas-de-lobo, o que por sua vez resulta em enchentes e inundações, também nos coloca em risco de contato direto com o vírus que pode ter permanecido na superfície desse item essencial para nossa proteção. Por fim, é sempre bom relembrar do consumo consciente. Precisamos hoje das máscaras por uma questão de saúde, não por moda. É razoável que compremos apenas a quantidade necessária para resguardar nossa segurança”, completa Kasandra.