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Brasileiros estão pessimistas sobre inflação e desemprego em 2021

Estamos na primeira semana do ano, mas os reflexos da COVID-19 ainda parecem distantes do fim, já que não se tem uma data de início da vacinação no país. Este cenário assombra as expectativas dos brasileiros em relação à economia tanto que uma pesquisa do Datafolha apontou que a maior parte da população segue pessimista, principalmente, em relação à inflação e ao desemprego.

Segundo a pesquisa, a expectativa de que a inflação vai aumentar nos próximos meses vem crescendo e registrou o patamar recorde de 72%. Em dezembro de 2019, esse índice era de 52%. Já a perspectiva de que o desemprego possa alcançar patamares ainda maiores em 2021 continua majoritária e oscilou para 57%, era 42% há um ano.

O professor de comércio exterior, Leandro Silva, explica que a inflação é determinada por duas variáveis: excesso de consumo ou desabastecimento. “Os dados do meio empresarial mostram que têm faltado matérias-primas. Elas podem estar ocorrendo por uma série de motivos, desde a exportação para outros países até a produção mundial ter caído devido à pandemia, o que é natural e faz com que o mercado sofra desabastecimento. Esse processo, naturalmente, faz com que ocorra uma diferença entre a cotação da moeda de um país e a de outro (ágio) nos preços e temos uma piora sensível de vários produtos que compõem a cesta básica do Brasil e que, infelizmente, são precificados no dólar. A moeda americana vem, continuamente, subindo e isso impacta as gôndolas brasileiras”, esclarece.

Em relação ao desemprego, Paulo Caus, economista de uma empresa especializada em assessoria de investimentos, é mais otimista. “O desemprego depende muito do nível de atividade econômica. Temos um ambiente altamente estimulativo, com os juros na sua mínima histórica e estamos vindo de uma enxurrada de liquidez na economia devido às medidas de contenção da pandemia, com isso, é de se esperar que o Brasil tenha um bom ano em termos de crescimento econômico, o que teria como consequência direta uma redução do desemprego”, acredita.

Ainda segundo o Datafolha, a expectativa de que o poder de compra dos salários irá diminuir alcançou o patamar recorde de 45%, índice que em 2019 era de 32%. Para 33%, o poder de compra dos salários ficará igual e para 18% irá aumentar.

Silva concorda que o consumidor vai sentir seu poder de compra cair. “O pessimismo do brasileiro ocorre por isso. Se antes, ele já sentia que o dinheiro vinha perdendo valor, em 2020 a piora da situação econômica aconteceu de maneira mais nítida. O salário não subiu proporcionalmente ao custo de vida”, diz.

Um dos baques que a economia brasileira deve sentir é o fim do auxílio emergencial. Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que, em novembro, 27,45% dos domicílios brasileiros não tiveram renda proveniente do trabalho e 4,32% contaram apenas com o benefício para financiar suas contas, o que corresponde a cerca de 2,95 milhões de famílias.

“Essa é a lacuna mais questionada e que mais preocupa não só o empresariado, mas também os economistas. Teremos um desabastecimento na economia de R$ 360 bilhões vindos do auxílio. Se essa ajuda não se perpetuar ao mesmo tempo em que a economia não voltar a engatilhar, e possivelmente não irá facilmente devido à continuidade da pandemia e a demora da vacinação, o retrato atual de 2021, com os dados que temos em mãos, neste momento, não é amistoso. Se não houver uma união política empenhada em fazer a economia girar, teremos um Titanic econômico em 2021”, acredita o professor.

Caus acredita que o momento é propício para que a economia volte aos trilhos. “Os juros nunca foram tão baixos e mais do que isso, nunca houve um cenário onde praticamente o mundo inteiro apresentasse essa realidade ao mesmo tempo. Isso é ótimo para o desenvolvimento econômico, pois torna viável uma série de investimentos que geram ciclos virtuosos de geração de emprego e renda que, por consequência, ocasionam mais emprego e renda. Todavia, o Brasil tem um problema sério, que vai pautar essas decisões de investimento e inclusive tornar ou não viável a manutenção dos juros baixos. O endividamento do Governo se encontrava em níveis que já demandavam reformas administrativas e fiscais no início de 2020 e, depois dos gastos para contenção da pandemia, essa necessidade se tornou urgente. O endereçamento correto do problema de endividamento do Brasil será determinante em todas as esferas do crescimento econômico saudável”.

Já para Silva, uma recuperação econômica do país depende de uma união dos políticos. “Economia não tem política, ideologia ou partido. É importantíssimo que os grandes partidos e suas lideranças se unam em um projeto para tirar o país da recessão econômica de 2020 e que parece perpetuar-se em 2021. Se nada for feito, em termos de saúde, por exemplo, uma vacinação acelerada para que a economia possa andar com as próprias pernas e não viver utilizando recursos governamentais, as expectativas do próximo ano não são boas. Se não houver uma maturidade dos governantes, em nível federal, estadual e municipal, podemos caminhar para um ano com os maiores números de desemprego e de mortalidade de empresas. Porém, estamos na primeira semana de janeiro, ainda temos condições de muito ser feito para que 2021 seja salvo”, acredita.