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Produção não atende demanda e pode faltar plástico no mercado

Ivana Braga

Se já era impossível pensar em um cotidiano sem a presença do plástico, com a crise sanitária do novo coronavírus essa percepção ficou ainda maior. Desde os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) dos profissionais da linha de frente da saúde até as embalagens dos pedidos de delivery: quase tudo precisa ser descartado. Devidos as suas características de transparência, resistência e leveza, a utilização dos plásticos é cada vez maior. Entretanto, com a chegada da pandemia, a Braskem, única fornecedora de matéria-prima de resina plástica no Brasil, reduziu sua capacidade de produção para 64%. Aliado à diminuição, houve aumento no preço desse item. Para a presidente do Sindicato da Indústria do Material Plástico do Estado de Minas Gerais (Simplast-MG), Ivana Braga, por causa desse cenário, vai faltar plástico no mercado

Qual o tamanho da indústria do plástico em Minas Gerais?

Minas Gerais é o 5º estado no ranking das empresas do segmento de transformação de plásticos, contando hoje com cerca de 680 indústrias e 18 mil pessoas empregadas.

A quais fatores o Simplast–MG atribui a falta de plástico no mercado?

Em decorrência da pandemia, várias plantas petroquímicas no mundo entraram em contingenciamento, isso acarretou em uma diminuição na produção de resinas plásticas no mundo e a um desequilíbrio na política internacional de preços. Em particular no caso do Brasil, o único fornecedor é a Brasken, que já reajustou seus valores neste ano na casa de 30%, aliado à escassez de matéria-prima. O cenário é delicado para as indústrias do setor que, além da elevação absurda dos custos, estão sofrendo com o desabastecimento. Outro agravante é que com o câmbio no patamar em que se encontra, a alternativa de importação é inviável.

Quais são os reflexos disso para o consumidor final?

O plástico permeia todos os setores da economia: veículos, meios de transporte, smartphones, eletrodomésticos, utensílios domésticos, brinquedos, agronegócio, embalagens de alimentos, bebidas, materiais de higiene, construção civil, artigos médicos e hospitalares e uma infinidade de descartáveis. Além do repasse dos custos para todos os segmentos, que já está ocorrendo, existe o desabastecimento já percebido pelas demais indústrias que utilizam os artigos plásticos.

Na avaliação do Simplast-MG, qual é a solução?

Considerando que temos um único fornecedor no país, a questão da política internacional de preços e a distribuição irregular, seria o caso da petroquímica brasileira rever suas condições de custos e distribuição. A solução independe do setor das indústrias, e sim do fabricante da resina. Tanto as micro como as grandes empresas sofreram as mesmas consequências.

Essa alta demanda não acaba evidenciando como o plástico está excessivamente presente no nosso cotidiano?

Não. A demanda não cresceu, o que houve foi o contingenciamento da produção em decorrência da pandemia a nível mundial. Os impactos ambientais são reflexos de condutas errôneas do ser humano. O plástico foi uma evolução na área de materiais para trazer conforto, segurança e praticidade à vida moderna, além de ser reciclável. O que falta na sociedade é educação e diretrizes para o uso consciente, atrelado ao descarte de forma correta. Temos que ser sustentáveis, utilizar e respeitar as necessidades das gerações futuras. Não podemos imaginar a segurança na área hospitalar, por exemplo, sem certos artigos plásticos. O ponto é a educação da população e a implantação de políticas públicas que promovam a destinação de resíduos de forma sustentável como a reciclagem, que não abrange somente o plástico, mas também o papel, metais e outros resíduos. O Simplast-MG conta com empresas associadas que reciclam plásticos e confeccionam produtos de materiais recicláveis, o que promove a economia circular.