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Isolamento social fez crescer cultura do “faça você mesmo”

Com o advento da internet, todos estão a um clique de aprender novas coisas. “Como fazer figurinhas no WhatsApp?”, “como fazer geladinho gourmet?” e “como fazer slime com detergente?” foram algumas das principais buscas de 2019. Este ano, por consequência da COVID-19, “como fazer máscara de tecido?” e “como fazer álcool em gel” dispararam, segundo dados do Google – maior site de pesquisas do mundo.

De um modo geral, o “como fazer”, tem sido bastante procurado. A cultura do “faça você mesmo” ou “Do It Yourself (DIY)”, como é mundialmente conhecida, é reconhecida por ser sustentável e exclusiva. Esse hábito além de envolver o consumidor, traz prazer a quem pratica, pois é um exercício criativo, o que dá origem a objetos e espaços com valor afetivo, tendo baixo custo e serve como terapia ocupacional. O bem-estar causado pela ideia tem feito com que ela ganhe destaque durante o isolamento social.

Para a psicóloga da Televita Flávia Romano, a prática do “Faça você mesmo” pode ajudar a distrair neste período. “Tudo o que puder aliviar a mente é válido, pois a pandemia mexeu demais com o psicológico de todos, gerando fatores que levam a certo nível de ansiedade, medo e insegurança”.

Ela acrescenta que esse receio que boa parte da população tem sentido vem do medo da morte e de perdas financeiras. “Como psicóloga, oriento meus pacientes a evitarem detalhes das notícias e fazerem atividades mais prazerosas, que antes não tinham tempo de realizar, como estudar, ler, ver filmes e séries, cozinhar, fazer trabalho manual e até mesmo cuidar do físico. Tudo isso como tentativa de diminuir a ansiedade”.

Flavia afirma que os brasileiros estavam acostumados com uma vida agitada e de repente ficaram confinados em casa, isso tudo trouxe uma mudança grande. “O fato de a pessoa ficar muito tempo em casa fez com que tivesse que ocupar sua mente, pois não fazer absolutamente nada pode trazer incômodos. Cada um criou uma forma diferente de lidar com a quarentena para que ficasse menos ocioso e conseguisse passar pelo tédio. As pessoas foram descobrindo novos hábitos, muitos começaram a cozinhar, a fazer artesanato e a ler livros que estavam parados. Alguns têm feito até pequenas reformas em casa para que o lar se torne mais aconchegante. E tudo isso é de suma importância para ocupar a mente e aprender novas coisas”.

A auxiliar de faturamento Naila Oliveira está em home office. Com a demanda menor de trabalho, o tempo livre tem sido grande, o que a incomodou. “Quando me vi em casa, apenas com meu marido, e sem muito o que fazer comecei a ficar agitada. E, a partir disso, decidi redecorar a casa. Comprei algumas tintas e pintei dois cômodos, isso me levou 4 dias, gastei toda a minha energia. Depois dei um jeito no quintal, me livrei de várias coisas e descobri itens que nem lembrava mais. Reformei minhas cadeiras, pintei alguns móveis e, agora, estou esperando chegar um revestimento para o banheiro: em breve ele será um novo cômodo”, diz.

Já a publicitária Larissa Mundim tem se aventurado na cozinha. “Modéstia à parte, descobri um dom que nem sabia que tinha. Decidi arriscar umas receitas que via no Instagram, salvava e nunca fazia. Com o tempo sobrando, é uma boa distração. Agora estou querendo me arriscar a aprender alguns artesanatos, o trabalho manual tem sido uma excelente distração, além de fazer o tempo andar mais rápido”.

Naila e Larissa concordam em uma coisa: por mais que estejam fazendo algumas coisas sozinhas, esse tempo deu para aprender a valorizar ainda mais o serviço do outro.

Para a psicóloga, essa será uma tendência para o pós-pandemia. “Muitos darão mais valor a outros profissionais. Um exemplo são os pais que estão tendo que auxiliar seus filhos com as tarefas da escola. A maioria das pessoas também viram que algumas coisas eram desnecessárias e que alguns valores foram trocados. De uma forma geral, a pandemia serviu para uma ressignificação das pessoas com um olhar mais sensível para a nova realidade”, conclui.