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Síndrome da feiura imaginária: conheça o Transtorno Dismórfico Corporal

Bulimia (apetite insaciável e com vômito autoinduzido após as refeições) e anorexia (distúrbio alimentar caracterizado por uma rígida e insuficiente dieta) são transtornos de imagem bastante comuns e que foram discutidos com frequência nos últimos anos. Porém, um novo transtorno relacionado à autoimagem está se tonando cada vez mais comum: Transtorno Dismórfico Corporal (TDC). Também conhecido como síndrome da feiura imaginária, esse mal atinge 2% a 3% da população, ou seja, cerca de 4,1 milhões de pessoas só no Brasil.

O psiquiatra Marcelo Rodrigues explica que o TDC é caracterizado por uma preocupação excessiva com defeitos inexistentes ou bem pequenos na aparência física. “Os portadores tendem a acreditar que são pouco atrativos, feios, deformados ou anormais, quando, na verdade, eles são vistos pelos outros como normais. Eles nunca estão fortes o suficiente, já elas, magras como queriam, dando alguns exemplos. Essa preocupação exagerada com tais ‘falhas’ acaba levando a comportamentos repetitivos (olhar-se frequentemente no espelho, remover lesões de pele, por exemplo), de difícil controle e nada prazerosos”.

Segundo o especialista, as mulheres são mais afetadas em comparação com os homens. “Os sintomas tendem a se iniciar de forma gradual, no final da adolescência, sendo que dois terços dos casos surgem antes dos 18 anos. Além disso, é sabido que existe componente genético associado, especialmente cruzado com o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)”.

Com as redes sociais, a superexposição e “a moda do photoshop”, a busca pela perfeição pode levar a um sofrimento ainda maior, especialmente quando a pessoa se compra com outras personalidades “perfeitas”, como as blogueiras e influenciadoras. “Isso pode ocasionar a intensificação daqueles comportamentos repetitivos, especialmente em relação à própria imagem no celular, substituindo o espelho, por exemplo”.

Quem sofre desse transtorno possui muito estresse, o que reduz a produtividade diária. “A preocupação excessiva com o suposto defeito pode evoluir para rituais que tomam tempo considerável nas atividades diárias. É comum também a associação com imaginações e até mesmo comportamentos suicidas”.

Além disso, essas condutas repetitivas podem levar ao isolamento social, sofrimento mental, ansiedade, compulsões e abuso de substâncias, seja lícitas ou ilícitas. “É importante procurar ajuda profissional o mais precoce possível, o que é difícil, visto que o portador demora a perceber que apresenta essa alteração da autopercepção. Isso gera um atraso do diagnóstico por anos, o que causa enorme estresse para o indivíduo, além de riscos a saúde física e mental”

O médico diz que o tratamento varia de acordo com a intensidade dos casos. Aqueles mais leves a moderados podem ser tratados com medicamentos e/ou psicoterapia. “Existem diversos antidepressivos que demonstram boa eficácia na redução dos sintomas. As ocorrências mais graves podem contar com ideação ou comportamento suicida, depressão associada, abuso de substâncias (drogas ilícitas, anabolizantes, etc.) e/ou redução da funcionalidade, sendo que deve ser adotado ambas as abordagens, tanto farmacológica quanto psicoterápica. É importante o tratamento de manutenção por pelo menos 3 a 4 anos, pois há grande probabilidade de recaídas”.

Convivendo com o TDC

A professora de educação física Clara Malta, 32 anos, teve o diagnóstico de TDC há menos de um ano. Ela conta que sempre foi a mais vaidosa da sua turma de amigas e isso sempre foi naturalizado por todo mundo. “A minha vaidade influenciou, inclusive, na escolha da minha profissão. Eu queria ter um corpo perfeito, por isso, resolvi fazer educação física”.

Porém, a busca por essa perfeição parecia que não tinha fim. “Ficava por mais de 3 horas malhando diariamente, além das aulas coletivas que eu dava e aproveitava para malhar também. Como ainda não conseguia chegar ao resultado que queria, passei a frequentar clínicas de estética e, mais tarde, fui ao cirurgião plástico. Fiz 5 intervenções, mas, ainda assim, não estava feliz”.

Quem percebeu que Clara não estava bem foi a sua irmã. “Já teve noites que eu chorava compulsivamente por achar que era feia e estava gorda. A gota d’água foi o dia em que tomei vários laxantes e fui parar no hospital”.

A partir disso, a irmã de Clara a levou em um psiquiatra que fez o diagnóstico de TDC. “Nunca tinha ouvido falar desse transtorno, então não fazia ideia de que estava passando por isso. Estou fazendo o tratamento com o uso de medicamentos e também tenho acompanhamento psicológico. É um processo diário de autoconhecimento e aceitação”, finaliza.