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Em tempos de coronavírus, brasileiro tem compartilhado mais memes do que notícias

“Na alegria ou na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias de nossas vidas”. A frase clássica do matrimônio pode ser utilizada para descrever a relação dos brasileiros com os memes, expressão criada para um conceito de imagem, vídeos e/ou GIFs relacionados ao humor e que viraliza na internet. É que essas brincadeiras estão presentes no cotidiano do brasileiro e são usadas, inclusive, em momentos assustadores, como o que vivemos atualmente com a pandemia da COVID-19.

É o que mostra uma pesquisa feita pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas, tendo como base o Twitter. De acordo com o estudo, em todo o mundo, 3,3 milhões de menções ao coronavírus foram feitas nessa rede social. No Brasil, houve um aumento de citações a partir do dia 26 de fevereiro, quando o primeiro caso foi confirmado no país, porém, 34% das menções eram imagens consideradas engraçadas pelos internautas, ou seja, memes. O número ultrapassou os tuites de notícias, que somavam 17%.

A psicóloga organizacional e clínica com foco em Terapia Cognitiva Comportamental, Lívia Marques, explica que os memes combinam com o brasileiro, pois, por aqui, somos brincalhões e bem humorados. “Contudo, é muito importante frisar que há seriedade também, principalmente, em um momento como o que vivemos”.

Ela adiciona que os memes podem ganhar evidência em momentos que nos traz tristeza, raiva e medo, como o da pandemia. “Nossa tendência é compreender essas emoções como algo ruim e querer mandá-las para longe. Para que isso aconteça, muitas vezes, fazemos algum tipo de brincadeira. Contudo, o ideal é a gente encontrar maneiras assertivas de lidar com essas sensações”.

Os memes podem ser usados hoje como forma de passar pela crise. “Porem, a psicologia se movimenta para que entendamos, socialmente e coletivamente, que as emoções que estamos sentindo agora precisam ser acolhidas e que não é errado sentir tristeza, medo, raiva, etc. O que acontece é a gente entender esse sentimento e ressignificar nossa resposta a eles”.

A profissional acrescenta ainda que o humor é importante desde que não seja desrespeitoso. “Além disso, é preciso tomar cuidado com as notícias falsas e para que a gente não torne a dor, tristeza e medo do outro uma brincadeira. O objetivo dos memes é trazer leveza e essa descontração deve acontecer em forma de acolhimento, carinho, cuidado e não de agressividade”.

A estudante de ciências contábeis Iasmin Teixeira está sozinha em BH e conta que ver memes na web a ajuda a afastar a solidão e o medo. “Vim para estudar há 2 anos, moro com mais duas colegas, mas elas voltaram para suas cidades por causa da paralisação das aulas. Não pude voltar e fiquei sozinha. As vezes, acesso às redes sociais, fico vendo perfis divertidos e isso dá um gás pra seguir o dia”.

Um jeito de passar uma mensagem?
Segundo o especialista em tecnologia e inovação, Arthur Igreja, os memes podem ser educativos. “A partir do momento que um presidente toma medidas controvérsias, por exemplo, e as pessoas tiram sarro dele por meio de um meme, eles cumprem essa função”.

Ele adiciona que uma mensagem passada por meio de um meme pode fixar melhor do que a de um portal de notícias, por exemplo. “A mensagem é mais facilmente entendida, viraliza rápido e é mais lembrada”.
Igreja elucida que, apesar de tudo, é preciso cautela. “Especificamente no caso do coronavírus tem que tomar cuidado, pois é um assunto delicado. Então, a linha entre o humor, a informação e fazer algo de extremo mau gosto está bem próxima e precisa ser analisada com atenção”, conclui.