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Coronavírus: esporte perde bilhões

Com campeonatos suspensos, a indústria de mais US$ 700 bilhões que movimenta o esporte mundial tem receitas incertas para os próximos meses. Jogos sem torcida foi o início da crise do coronavírus, além disso, medidas para conter a pandemia levaram à paralisação de campeonatos pelo mundo.

A Libertadores é só uma das dezenas de competições esportivas pelo mundo que tiveram jogos suspensos. Os campeonatos de futebol, vôlei, basquete, natação, tênis, atletismo, judô, etc estão parados há semanas. A Eurocopa, competição entre seleções europeias que acontece a cada 4 anos, já foi adiada para 2021. O mesmo aconteceu com a Copa América que transferiu para 2021 e os Jogos Olímpicos de Tóquio também passou para o próximo ano.

A Fórmula 1, que movimenta só em ingressos cerca de US$ 500 milhões por corrida, foi interrompida, assim como a principal liga de basquete do mundo, a americana NBA. Assim como acontece com outros setores, a bilionária receita da indústria esportiva também não passará ilesa ao novo coronavírus. São perdas ainda incalculáveis. Sozinho, o esporte profissional responde por cerca de um terço dos US$ 750 bilhões de receita da indústria esportiva, segundo a consultoria especializada em marketing esportivo Sports Value. Por isso mesmo é ele que faz o resto da roda girar, alimentando segmentos como o varejo esportivo, com venda de camisas e outros itens (US$ 278 bilhões ao ano), e de infraestrutura, comida, bebida e apostas (US$ 200 bilhões).

Para cada US$ 1 gasto com ligas esportivas, a receita gerada pode ser de US$ 2,5. No mundo, só com estádios e arenas, são arrecadados US$ 50 bilhões ou US$ 200 milhões no Brasil. Outros US$ 49 bilhões vêm em direitos de transmissão.

Os prejuízos já começaram: só com uma partida das oitavas de final da Champions League a portas fechadas, o PSG (time de Neymar em Paris) teve prejuízo estimado de 5 milhões de euros em receita. A competição esportiva tem uma receita indireta grande. O torcedor pega o trem, consome no bar da frente e, mesmo quem não vai ao estádio, compra a camisa. É uma indústria que perdeu seu principal combustível, o espetáculo ao vivo.

Aqui, no Brasil, nos próximos 4 meses, o Flamengo deve ter um prejuízo de R$ 100 milhões com rendas, publicidades e outras fontes, prejudicando o planejamento do ano. O time tem uma folha de salários de mais de R$ 20 milhões por mês, apenas o técnico Jorge Jesus tem salário em torno de R$ 1,5 milhão, Gabigol e Arrascaeta cerca de R$ 1 milhão por mês e por aí vai.

No Brasil, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) suspendeu seus campeonatos, levando boa parte das federações estaduais a fazer o mesmo. Todos os times paralisaram suas atividades de base futebol masculino e feminino, dispensando todos os atletas para suas casas.  Mesmo antes da decisão da CBF, alguns estaduais de futebol já estavam acontecendo sem torcida.  A paralisação dos campeonatos vai afetar em cheio a indústria do futebol brasileira. A receita da modalidade no país é estimada em mais de R$ 6,5 bilhões. Os 20 maiores clubes de futebol respondem por quase 90% desse montante, com metade do dinheiro vindo de ações de patrocínios (10% da receita) e direitos de televisão (38%).

Os patrocinadores dos clubes estão repensando sobre os investimentos. Ao comprar um patrocínio, a marca também quer se conectar com a emoção da torcida nas competições.

Além de impactar a receita dos clubes e ligas, o mundo sem esportes também mexeu com o modelo de negócio das principais emissoras esportivas do país. Sem jogos para exibir, os canais correm para reestruturar a programação para as próximas semanas.

Os canais de esportes na televisão estão com reprises de jogos, pois tem que manter a grade de programação e tentar conseguir audiência, principalmente do futebol, esporte da massa. Pelo mundo também acontece isso. No canal TNT, da americana Turner, jogos históricos europeus também estão sendo exibindo. A TNT herdou do antigo Esporte Interativo (cujo canal na TV foi encerrado pela Turner há 2 anos) os direitos de transmissão da Champions League e de alguns clubes brasileiros que debandaram da Globo. A americana ESPN, do grupo Disney – e que transmite os principais campeonatos europeus e esportes americanos, como a NBA –, concedeu home office a boa parte da equipe e reduziu seus programas ao vivo. Reprises de jogos históricos também farão parte da programação.

Uma paralisação tão longa quanto a que se desenha agora é sem precedentes na história esportiva recente. E, apesar do malabarismo para manter a programação, o desafio da indústria esportiva não acabará quando os campeonatos voltarem. Passado o coronavírus, um dos grandes obstáculos será renegociar contratos de transmissão e patrocínio.
Parte da renegociação vai depender de quando esses eventos acontecerão e se será possível apertar tudo ao calendário ainda deste ano. Na Europa, o site The Athletic publicou que a Uefa, associação de futebol europeia, quer que as seleções paguem caso a Euro seja foi adiada para 2021.

Se o assunto se agravar de forma a ficar fora de controle e o Brasileirão não puder ser realizado, Turner e Globo pagarão aos clubes os valores previstos nos contratos? Questiona as empresas especializadas em negócios do esporte. O tempo de paralisação vai afetar também outros dois aspectos no futebol: a janela de transferências, no meio do ano, e o dinheiro que os times podem deixar de receber das ligas pela participação nos campeonatos.

Só as transferências respondem por mais de R$ 1,3 bilhão em faturamento, ou seja, 25% do que ganham os 20 maiores clubes do Brasil. A falta desse dinheiro pode levar os times brasileiros, a maioria com as finanças já em frangalhos, a uma “inadimplência em massa”. O momento é bastante sensível para a economia mundial e, certamente, empresas de diversos setores vão quebrar. O futebol não está indiferente a isso.
CBLoL, que são as  competições de esporte eletrônico reúnem milhares de pessoas e também precisaram ser canceladas em meio ao coronavírus.

Na outra ponta, uma das apostas para o período sabático dos esportes e eventos ao vivo é o crescimento dos serviços de streaming dos jogos de videogame, o que poderia incluir os esportes eletrônicos. Na prática, contudo, estes dois segmentos também encontram barreiras impostas pela COVID-19.

O Brasil é o terceiro maior mercado de esportes eletrônicos no mundo, com 9,2 milhões de entusiastas. De fato, as pessoas devem ter mais tempo livre para jogar videogame com a quarentena, mas não em esportes de alto nível.

O mesmo drama vale para o streaming esportivo. Como até hoje a indústria do setor se baseou majoritariamente em eventos ao vivo, não haverá uma grande gama de conteúdo para ofertar nas plataformas, nem mesmo para empresas que já têm um braço de vídeo on-line, como SporTV e ESPN.

Para além das emissoras, os próprios clubes e ligas esportivas terão o desafio de usar a quarentena para se aproximar do público de outra forma. É uma transformação digital feita na marra para os clubes e para as ligas que, muitas vezes, acabaram não tratando o digital como prioridade. Até porque o público estará carente de conteúdo neste momento e consumirá o digital como nunca antes. Quem tiver material, sai na frente.

Estamos vivendo a 3ª Guerra Mundial, sem um tiro. É o vírus que assolou o mundo e, infelizmente, está matando milhares de pessoas pelo mundo. Vamos unir para que tudo dê certo e que a crise mundial seja passageira e logo todos possam sair às ruas e voltar aos estádios e ginásios. Viva a vida!