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Conheça o impacto da pandemia na economia

O mundo todo já está sentindo os efeitos causados pelo novo coronavírus (COVID-19), seja pelas restrições sanitárias impostas para evitar que a doença se espalhe ainda mais ou por questões econômicas, afinal essa pandemia, além de deixar como rastro vários mortos em diferentes países, também está fazendo estragos nas Bolsas de Valores. Para se ter uma ideia, apenas neste ano, a Bovespa, principal índice acionário da Bolsa de Valores de São Paulo, acumulou perda de mais de 39%, chegando a 68.331 pontos.

Entre as ações que foram mais afetadas destacam-se as das companhias aéreas, principalmente, devido ao efeito da pandemia no setor de viagens, além da alta do dólar. A Smiles caiu 28,20%, a Azul teve baixa de 36,87%, a Gol perdeu 28,02% e a CVC Brasil recuou 32,25%. Outro setor que também está registrando queda é o de petróleo, sendo que as ações da Petrobras recuaram 15%. “Quando se trata de Bolsas de Valores não é possível fazer previsões em curto prazo, porém, historicamente, o mercado demora de 12 a 24 meses para voltar a normalidade”, avalia o economista-chefe da Fecomércio MG, Guilherme Almeida.

O economista diz que, além da retração econômica causada pelo coronavírus, o mercado acionário também está sofrendo com a queda de braço entre Rússia e Arábia Saudita sobre o preço do petróleo. “A Petrobras possui um papel fundamental na Bovespa e, enquanto esses agentes externos não chegarem a um consenso sobre o valor do barril, a companhia brasileira continuará com perdas, pois os investidores, ao analisarem o cenário, preferem investir em ativos mais seguros, como ouro e dólar”.

Exportações e importações 

O principal local afetado pela COVID-19 foi a China, país considerado um termômetro para a economia mundial e brasileira. Para se ter uma ideia da importância dos chineses para o Brasil, em 2019, o país asiático comprou cerca de 30% de todos os produtos vendidos ao exterior, com destaque para as matérias-primas essenciais com baixo nível de industrialização (commodities). Entre elas estão a soja, o petróleo e o minério de ferro, um dos principais itens da balança comercial mineira. Juntos, eles responderam por 78% das exportações brasileiras no ano passado.

Com cidades em quarentena e diversas fábricas fechadas para conter o surto da doença, a economia da China retraiu, exigindo menos matéria-prima para a produção fabril. “Essa paralisação é bastante danosa à economia do país, especialmente de Minas Gerais, que tem nas commodities minerais e agrícolas a base das suas exportações”, afirma Almeida. Além disso, com a demanda em queda, os preços desses produtos recuaram significativamente no mercado internacional.

Outro segmento que também apresentou queda foi as importações. Vários insumos, como componentes de medicamentos e itens para automóveis e eletrônicos, vêm de países afetados pelo novo coronavírus. “Por isso, linhas de produção ficam paradas, gerando desabastecimento nas empresas. As consequências são redução de jornada, férias coletivas e encarecimento dos produtos para o comércio e os consumidores finais”.

Almeida alerta para o ciclo vicioso. “A China é responsável por um terço das manufaturas, o que afeta tanto nas compras como vendas de insumos. Como consequência disso, há quedas nas vendas do varejo, turismo, enfim, em toda a atividade produtiva. Além disso, o comércio posterga contratações que aconteceria, por exemplo, para a Páscoa. Sem esses empregos, o nível de desemprego no país continuará alto, ou seja, menos renda e consumo das famílias”.

Macroeconomia 

De acordo com projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), nenhum país deverá ficar ileso dos impactos econômicos causados pela pandemia e, por isso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o Produto Interno Bruto (PIB) nacional pode cair de 0,1% a 0,5% em 2020. “Com a projeção de vendas mais fracas e insumos em falta, é possível que a tão esperada aceleração da economia brasileira seja, mais uma vez, adiada”, observa Almeida. Com o crescimento de 1,1% em 2019 – 1,4 pontos percentuais (p.p) abaixo das projeções iniciais do governo – cresce a pressão e as dificuldades por um ano melhor para o Brasil.

 Para tentar minimizar os efeitos da crise, semana passada, o governo federal anunciou uma série de medidas para aumentar a liquidez no mercado. Entre as ações anunciadas estão a liberação de R$ 23 bilhões referentes à parcela de 50% do 13º salário aos aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS); R$ 21,5 bi de Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS); liberação de crédito do Fundo de Amparo ao Trabalhador para micro e pequenas empresas; corte de 50% nas contribuições do Sistema S por 3 meses; destinação do saldo do fundo do Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre  (DPVAT) para o Sistema Único de Saúde (SUS), entre outras. O Ministério da Economia acredita que as propostas tenham um impacto de R$ 147,3 bilhões.

Além do coronavírus, a economia brasileira possui outro entrave: a crise política entre o governo federal e o Congresso Nacional. “As incertezas políticas travam a aprovação de reformas que seriam fundamentais para destravar a conjuntura nacional, como a reforma Tributária, apontada por vários empresários como fundamental para recuperar o índice de otimismo. Sem essas medidas, as empresas brasileiras perdem competitividade internacional e, consequentemente, investimentos”.

Almeida diz que essas ações têm pouco potencial para solucionar a crise. “Para além das questões externas ao Brasil, a economia nacional só voltará a crescer se o governo federal demonstrar que tem capacidade de dialogar com o Congresso para votar as reformas. Caso isso não aconteça, continuaremos com as incertezas e com baixo crescimento econômico”, finaliza.