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A nova realidade Celeste

Acostumado com celebrações de títulos e marcas importantes no futebol brasileiro e na América do Sul, o Cruzeiro completou 99 anos em janeiro vivendo uma realidade bem diferente e nunca vista na história do clube.

Em meio ao sofrimento pela queda à Série B do Campeonato Brasileiro (o primeiro rebaixamento na história do clube) com os reflexos de uma crise financeira e administrativa que deixou estragos gigantescos, torcedores e diretoria celebram o aniversário do clube Celeste com esperança de dias melhores e ao mesmo tempo já se preparando para as dificuldades de disputar uma Série B, contando com poucos investimentos e apostando na juventude para dar a volta por cima e retornar à elite do futebol nacional.

Até então com um orçamento milionário, salários de jogadores astronômicos e gastando sem qualquer controle e planejamento, o impacto mais duro que o Cruzeiro sofreu e já começou a sentir no seu dia a dia é em relação às suas finanças. Com dívidas que chegam perto de R$ 1 bilhão, o comitê transitório gestor que atualmente administra o clube está sendo obrigado a cortar muitas despesas. A principal delas é na folha salarial, que precisará ser reduzida para cerca de R$ 5 milhões, com jogadores, em sua grande maioria, recebendo no máximo R$ 150 mil. Readequar essa nova realidade financeira não será tarefa fácil. O clube perdeu patrocínios importantes, não tem crédito na praça como antigamente e precisará buscar soluções inteligentes para angariar recursos e honrar compromissos com funcionários, fornecedores e jogadores.

O clube cinco estrelas também nunca viveu uma falta tão grande de receitas. Detentor de um orçamento em 2018 de R$ 380 milhões, a previsão para 2020 é arrecadar apenas R$ 80 milhões, isto em todos os setores do clube.

A situação é muito delicada e preocupa os gestores do Cruzeiro. Por exemplo, este valor previsto para ser arrecadado é bem inferior aos R$ 95 milhões que a diretoria deve aos atletas por causa dos 3 meses de salários atrasados e outros vários direitos de imagem e FGTS não depositados. Graças a ajuda de parceiros e cruzeirenses ilustres, o Cruzeiro vai aos poucos quitando esses salários atrasados. Mas em contrapartida, as ações na Justiça do Trabalho só aumentam e jogadores importantes do elenco celeste vão deixando o clube por falta de acerto financeiro. Um caso emblemático é o goleiro Rafael. Jogador de muita qualidade e sucessor de Fábio no gol cruzeirense, o atleta está em litígio com o Cruzeiro e deve encerrar seu vínculo, sem que o Cruzeiro tenha qualquer lucro com o acerto. Ou seja, o jogador vai pra outro clube sem qualquer ônus.
Além desse drama vivido pelo Cruzeiro, outra experiência difícil a que o Cruzeiro terá que se acostumar em 2020 é a dura caminhada a ser percorrida na Série B. Ao contrário de 2019, o clube mineiro terá poucos jogos na região sudeste, precisando partir de Belo Horizonte para realizar longas viagens em direção ao sul e ao nordeste do país.

A competição nacional começa no mês de maio e o Cruzeiro terá que se acostumar com jogos em dias diferentes do que era habitual. Tendo apenas em seu calendário o Campeonato Mineiro, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro, o time deixará de jogar aos domingos e quartas-feiras para começar a entrar em campo nas terças, sextas e sábados, conforme prevê o calendário nacional.

Em verdade, os desafios que estarão no caminho do Cruzeiro serão inúmeros. O clube mineiro vai precisar de muito trabalho, planejamento e gestão para voltar a se organizar. Ao contrário de outros gigantes do futebol brasileiro que já foram rebaixados para a Série B e passaram com facilidade pela competição, sendo campeões e voltando para a elite com certa facilidade, o Cruzeiro terá sérias dificuldades. Assim, a meta celeste é ficar entre os quatro primeiros na Série B para retornar à elite nacional. O título é o que menos importa neste momento. Fora das quatro linhas, equacionar as finanças, buscar novos parceiros, aumentar seu número de sócios torcedores e buscar outras fontes de receita, são objetivos primordiais para a Raposa.

Caso contrário, a situação pode-se tornar ainda mais delicada, com sua permanência na série B para o ano de 2021 (ano importante na história do clube – seu centenário) e tornando-se um clube da prateleira de baixo do futebol brasileiro. Nossa torcida é que isso jamais aconteça. Até porque, o Cruzeiro é gigante. Vamos Cruzeiro, reação já!

*Desembargador do TJMG e Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo