Home > Economia > Com crescimento de 15%, setor de orgânicos lucra R$ 4,5 bi em 2019

Com crescimento de 15%, setor de orgânicos lucra R$ 4,5 bi em 2019

“Um público que tem olhar jovem sobre o mundo e que acompanha a onda sustentável, com uma visão crítica e que quer saber como as coisas são feitas e quem se beneficia delas. São os Millennials e a Geração Z que vêm com um pedido de engajamento muito grande”. É assim que Clauber Cobi Cruz, diretor da Organis, entidade setorial dos orgânicos no Brasil, define o perfil de quem consome produtos naturais e sustentáveis no país. Só no ano passado, o segmento movimentou R$ 4,5 bilhões, representando crescimento entre 10% e 15%, segundo estimativa da associação.

Para traçar o panorama do consumo de orgânicos no Brasil, a entidade encomendou uma pesquisa, realizada pela Brain, com 1.027 entrevistados. Os dados mostram que 19% da população consumiu algum produto orgânico, o que representa um crescimento de 4%, em relação ao índice de 2017. A região Sul continua sendo a que mais compra produtos orgânicos (23%), enquanto o Sudeste apresentou taxa de 19%.

Entre as mercadorias mais consumidas, despontam frutas (25%), verduras (24%) e alface (21%). Quando questionados quais os motivos que levam a comprar produtos orgânicos, a principal razão mencionada é saúde (84%), já o meio ambiente aparece em 9% das menções. Sobre os locais em que preferem adquirir tais itens, as feiras são citadas por 87%. Apenas 4% mencionam lojas especializadas em orgânicos.

Para Cruz, o ano foi proveitoso. “Diante deste mal-estar econômico, qual setor conseguiu crescer assim? Obviamente ainda há muito espaço para se desenvolver. Não estamos falando de um produto barato e mesmo assim veio com uma força muito grande. Nesses últimos 10 anos, a média de crescimento foi de 20%”, avalia.

Mencionada pelo diretor, a questão do preço aparece em qualquer conversa sobre o tema. Os produtos de origem natural e de produção sustentável são conhecidos pela fama de caros. Essa percepção se confirma na pesquisa, entre os que consumiram itens orgânicos nos últimos 30 dias, 65% aponta o custo como fator para não terem comprado mais. O valor do artigo também é citado como obstáculo para 43% dos que não compraram orgânicos. Também são citada dificuldade para encontrar (21%) e falta de costume (7%), entre outros.

A diferença entre os preços dos naturais em comparação a produtos não orgânicos é o motivo para 48% para 75% dos seus consumidores. Entre as justificativas citadas pelos clientes aparecem: processo de fabricação é mais caro (48%); mais saudável (18%); melhor qualidade de produto (9%); não ter agrotóxico (9%), entre outros. Entretanto, para maioria (52%), não é plausível tamanha diferença nos valores. Como respostas são citadas: deveria ter o preço compatível para incentivar o consumo (20%); não gasta com agrotóxico (15%); existe uma exploração das tarifas nesses produtos (12%); tem o mesmo valor de custo (9%), entre outros.

Para Cruz, o custo elevado é justo, o que precisa mudar é a percepção da população. “Qualquer produto elaborado tem um preço diferenciado e o orgânico demanda mais mão de obra, tem uma escala relativamente pequena e sua própria logística”, diz.

O diretor faz uma leitura positiva da pesquisa. “Quem não consome orgânico por causa do preço tem um entendimento relativamente errado. Se fizermos um trabalho de conscientização do valor do orgânico, que é muito mais que um produto sem agrotóxico, o público tende a valorizar e a pagar mais por ele, assim como paga a mais por uma cerveja artesanal”, acredita.

Na expectativa do diretor, ainda há muito chão para a expansão. “A cadeia animal tem muito para se alargar. Não estamos falando só da carne bovina, mas suína, pescado, derivados de leite e o frango, que já está um pouco mais avançado. Todos têm muito espaço para crescer. As frutas e as plant based (baseada em legumes e vegetais), como hambúrgueres também. Assim como apostamos no crescimento das vendas on-line e compras governamentais para merendas”, projeta.