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Desintoxicação de dietilenoglicol é feita por hemodiálise e injeção de etanol no corpo

Enquanto a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) investiga as causas da presença de dietilenoglicol (DEG) e monoetilenoglicol (MEG) (também chamada de etilenoglicol) nas cervejas “Belorizontina” e “Capixaba”, da marca Backer, a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMSA/BH), a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG) e a Fundação Ezequiel Dias (Funed) conduzem uma outra investigação: identificar e tratar pacientes com os sintomas da síndrome nefroneural. Uma tarefa complicada já que, como explica o médico patologista, toxicologista e diretor científico da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), Alvaro Pulchinelli, os únicos estudos sobre esse tipo de intoxicação foram realizados em ratos de laboratórios.

“É uma substância que não deve ser ingerida, por esse fato, não é possível determinar quanto uma pessoa tolera ou não. O que existem são relatos na literatura. Se um indivíduo morre após consumir 100ml, a medicina anota que essa é uma dose fatal e assim por diante”, esclarece. Entretanto, apesar das substâncias DEG e MEG serem diferentes, possuem bastante semelhanças e o tratamento para intoxicação de ambas, no Brasil, é o mesmo: uso de etanol, também chamado de álcool etílico, ou o processo de hemodiálise.

“A injeção de etanol vai fazer com que as vias de metabolização de DEG ou MEG se saturem, ou seja, vamos enganar o organismo fazendo com que ele trabalhe muito para metabolizar o álcool e assim deixe de produzir os metabólicos tóxicos”, explica Pulchinelli. Porém, apesar do álcool etílico ser encontrado na composição de bebidas alcoólicas, esse processo não é realizado de uma forma amadora ou descontrolada. “Normalmente é feito por injeção via endovenosa de álcool etílico puro, bem diluído e calculado”.

Já os processos de diálise ou hemodiálise, ambos de tratamentos para filtração do sangue quando o rim ou parte do órgão fica comprometido e é preciso substituí-lo artificialmente, são indicados para pacientes em estado mais avançado da síndrome. “Como esses pacientes desenvolvem rapidamente uma insuficiência renal, normalmente, eles vão para a diálise, que ao mesmo tempo substitui o rim afetado e elimina tanto o etilenoglicol e o dietilenoglicol do corpo”, informa o médico.

Segundo o toxicologista, fora do Brasil, existe uma terceira opção, o uso do medicamento Fomepizol, antídoto que impede a formação de metabólitos tóxicos no corpo após envenenamento por essas substâncias. O médico acrescenta que ambos os tratamentos disponíveis no Brasil são eficazes e dependerão da fase clínica da intoxicação em que se encontra o paciente e podem ser usados juntos.

Apesar da ingestão de DEG e MEG não serem percebidas pelo paladar, tem um gosto alcoólico adocicado. “Infelizmente, a pessoa consegue ingerir sem perceber já que o sabor não é desagradável”, diz Pulchinelli. Portanto, é aos sintomas que as pessoas precisam estar atentas.

Náuseas, vômitos e sensação de embriaguez (fala pastosa, tontura, dificuldade de movimentação, compreensão e visão) podem aparecer dentro de horas após o consumo das substâncias. “A diferença desse tipo de embriaguez para a de álcool é que esse quadro, ao contrário de amenizar, vai evoluindo para a danificação do sistema nervoso central e os rins, posteriormente, entrando para um quadro de acidose (excesso de ácido no sangue), o que é extremamente ruim”.

De acordo com o médico, os danos da síndrome nefroneural podem ser reversíveis. “Quanto mais rápido for o início do tratamento, maior a chance de reverter”, finaliza.