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Planos de vida são retomados após tratamento do câncer de próstata

Ser diagnosticado com câncer de próstata pode ser assustador para grande maioria dos homens, afinal, a doença ainda é cercada de mitos e preconceitos. Uma mistura de emoções, como raiva, ansiedade, medo, preocupações e angústia passam pela cabeça. Também fica o sentimento de frustração, visto que todos os planos de vida terão que ser adiados, temporariamente, em função do tratamento. Esse é um panorama dos principais desafios enfrentados pela população masculina frente à descoberta do tumor.

O analista de marketing Marcos Araújo, 45 anos, estava com todos os preparativos para seu casamento em andamento, quando veio a suspeita da doença. “Em 2015, o exame de PSA deu uma alteração e os níveis estavam mais altos do que o adequado. O médico disse que poderia ser alguma inflamação na próstata e receitou um remédio. O problema sumiu, porém, passados alguns meses comecei a notar uma certa dificuldade de urinar. Voltei ao consultório e o urologista sugeriu a realização do exame de toque retal”.

Faltando cerca de 5 meses para o grande dia, Marcos recebeu o diagnóstico de câncer de próstata. “Fiquei muito nervoso e meu mundo desabou. É assustador saber que você tem uma doença que pode te matar se você não fizer logo o tratamento. Não sabia o como agir, parece que não tinha mais um propósito de vida. Minha esposa e filha ficaram ao meu lado o tempo todo. O melhor a fazer naquele momento era adiar o casamento até que tudo pudesse ser resolvido”, relembra.

Ele conta que precisou passar pela cirurgia de retirada da próstata. “Pior do que a notícia da doença é saber que minha vida sexual poderia ser impactada. Isso mexeu comigo e me deixou desanimado. Chorei bastante, mas não tinha outra alternativa. Não senti dores durante e e nem depois do procedimento. A única queixa é o incômodo para ir ao banheiro, mas o importante era estar curado”.

Passados alguns meses da cirurgia e tratamento, Marcos foi retomando a vida aos poucos. O final feliz aconteceu no final de 2016, quando o tão esperado casamento foi celebrado. “Foi um susto grande em nossas vidas, mas essa tristeza ficou no passado. Em 2019, completamos 3 anos de casados. É uma data para comemorar o amor e a vitória da vida”, conclui.

Os planos do comerciante Geraldo Tavares, 54 anos, também precisaram ser deixados de lado, momentaneamente, para o tratamento do câncer de próstata. Ele e a família já haviam programado as férias de fim de ano. “O diagnóstico mudou minha vida radicalmente. Fiquei um pouco chocado porque sei da gravidade da doença. Mas eu só tinha dois caminhos a seguir: fingir que não estava acontecendo ou enfrentar tudo o mais rápido possível”, conta.

Apesar de ter passado da idade em que é recomendado realizar o exame de toque retal anualmente, Geraldo salienta que não apresentava nenhum sintoma. “Eu até evitava falar sobre o assunto e tinha medo do resultado. Foi contra minha vontade e por insistência da minha esposa que decidi ceder e fazer o exame. Acho que é por isso que ainda estou vivo, pois a doença foi descoberta em estágio inicial”.

Ele diz que teve total apoio da família nesse momento. “Eles entenderam a gravidade da situação e esperaram que eu melhorasse para fazermos a viagem todos juntos. Eu quis que a cirurgia fosse o mais breve possível e sabia dos riscos que poderia correr, mas minha vida era muito mais valiosa. O único desconforto é o pós-operatório, pois precisei usar fraldas e fazer tratamento para melhorar a incontinência urinária”.

Depois dessa situação vivenciada, as coisas foram voltando ao normal. “Tenho feito os exames de controle e procuro não ficar lembrando que já tive a doença. Aprendi muito com tudo que passei e dou mais valor as pequenas coisas da vida. Se Deus quiser, em dezembro estamos embarcando para curtir as férias tão aguardadas”, encerra.

Lado psicológico

Situações assim mexem com as emoções do paciente e podem deixar marcas. A psicóloga e membro da Diretoria Nacional da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia (SBPO), Anali Póvoas Orico Vilaça, esclarece que a família é fundamental durante todo o processo. “O apoio, cuidado, atenção e o diálogo podem ajudar muito no enfrentamento de forma positiva. Os homens tendem a evitar falar sobre o exame de detecção e o câncer de próstata. A doença ainda é permeada por muitos mitos e crenças negativas. Sendo assim, o membro familiar mais próximo tem um grande papel de auxílio e de mostrar a importância do diagnóstico precoce, consequentemente, uma melhor possibilidade de tratamento”.

Para a psicologia, muitas vezes, o câncer é entendido como um luto e interrupção dos planos. “A doença obriga o paciente a se afastar, por exemplo, da vida profissional, planos de casamento, viagens e até mesmo intercâmbio. Ele precisa adiar por um tempo para poder dar atenção ao tratamento, mas isso é só uma fase e mais tarde tudo pode ser retomado”.

Outro problema está na aceitação do diagnóstico. “Variáveis de estresse, depressão e ansiedade podem acometer o paciente oncológico, pela dificuldade de lidar com as rotinas de tratamento e efeitos colaterais. Por mais que essas reações sejam esperadas, quando há enfrentamento de uma doença como o câncer, a assistência em saúde mental também tem que ser levada em consideração”.