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Com 570 empresas, Minas fatura R$ 300 mi por ano com setor funerário

Se a morte é um tabu, falar sobre o faturamento desencadeado pela perda de pessoas pode ser ainda mais. Mas, o inevitável fim da vida tem feito a roda da economia girar. De acordo com a Associação Brasileira do Setor de Informações Funerárias (Abrasif), foram contabilizados R$ 3,5 bilhões em faturamento do segmento. Quando o recorte é feito por estado, Minas faturou R$ 300 milhões. As cifras de 2017, último levantamento realizado, representam 8% de crescimento. Isso só no setor funerário, que, no geral, inclui urnas e embalsamento.

Porém, dados do Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (Sincep) revelam que o faturamento anual de todo o mercado do luto, que engloba sepultamento, cremação, serviços funerários e planos assistenciais, alcança R$ 7 bilhões. Segundo o presidente da Abrasif, Maurício Costa, no Brasil existem 13.720 empresas privadas ligadas ao ramo, dessas, 570 estão em Minas Gerais. “O setor é estável, em média, registramos crescimento de 3 a 4% ao ano. Mas, o principal carro-chefe têm sido os planos funerários”, diz. Nos cálculos do presidente, o setor emprega 1 milhão de pessoas.

Depois de 17 anos no mercado de petróleo e três em auditoria, o empresário Luiz Roberto Vasconcellos migrou para o setor de seguros com ênfase em vida e previdência, onde atuou por 12 anos. Foi nessa área que percebeu uma lacuna no assistencialismo ao luto. “Descobri que esse era um mercado mais abrangente voltado para um problema real, que é o da classe C, D e, eventualmente B, de lidar com as despesas na hora em que acontece um óbito. Se a vida não tem preço, o funeral tem e é caro. Também é atraente o fato de ser um segmento que tem uma contribuição social, que permite que as pessoas de uma classe mais baixa tenham direito a uma despedida digna aos seus entes queridos”, conta o diretor da Prevenir Assistencial, localizada no Santa Efigênia, que atende 250 mil clientes na região metropolitana de BH.

Além da funerária, Vasconcellos aposta nos planos de amparo às famílias. Os preços dos planos vão de R$ 23,90 a R$ 84,90. Fora dos planos, as urnas podem custar de R$ 1.800 a R$ 40 mil. Segundo o diretor, os clientes dos planos são, em sua maioria, mulheres, de classe C, de 45 a 50 anos. “A mulher da classe C é muito preocupada com a família. Existem pesquisas que mostram que são elas que, muitas vezes, são as provedoras da casa, são autônomas, trabalham como empregadas domésticas, manicures, cabeleireiras, e que têm uma preocupação com a união familiar”.

Para agregar valor ao negócio, Vasconcellos acredita que o segredo são os benefícios em vida. “Não sou voltado para o death care, mas para o life care”, diz. A rede de benefícios da empresa inclui descontos em farmácias, academias e cursos. Um cartão alimentação e uma mesada que pode chegar até R$ 10 mi,l após o falecimento do titular, também estão entre as opções que podem ser contratadas.

Um dos benefícios agregados a todas as categorias de planos é o grupo de apoio aos enlutados. “Quando acontece o falecimento, fica uma família e percebemos essa lacuna”, explica Carolina Leite, psicóloga com foco no luto e gerente de RH do local. De acordo com ela, apesar de informar a família da existência do grupo logo após o falecimento, o convite para a primeira reunião é feito um mês após a perda. “Nós aguardamos 30 dias porque, quando o luto é muito recente, os familiares ainda não estão preparados para falar e, muitas vezes, além da dor, estão lidando com processos burocráticos”.

Também no Santa Efigênia, a funerária Pax de Minas atua no mercado desde 1979. Para José Roberto Reis, sócio proprietário da empresa, o brasileiro tende a procurar pelos planos naturalmente. “O brasileiro é superprotetor, não pensa duas vezes quando o assunto é acolher quem ama”. No local, os planos são ofertados a partir de R$ 45 e as urnas a partir de R$ 605.

Com 40 anos de experiência, não acredita que, apesar da morte ser certa, o segmento esteja imune à instabilidade econômica. “Nenhum ramo é imune à crise. Quando setores primários entram em desequilíbrio, acontece um efeito dominó, que atinge os demais. Um bom exemplo é o combustível. Quando ele sofre aumento, todos os produtos e serviços também tem seus preços ajustados, como nosso serviço precisa ser transportado, esse custo impacta na receita da empresa”, completa Reis.

Vasconcellos concorda. “É óbvio que uma pessoa pode procrastinar a compra de um carro, mas não pode adiar a morte. O mercado está estável, mas as pessoas não procuram por melhorias, como vestes ou urnas melhores e até mais coroas, em meio à crise”.