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Tempo de espera e má distribuição de mamógrafos dificultam prevenção ao câncer de mama no SUS

No mês dedicado ao combate e prevenção ao câncer de mama, nunca é demais lembrar que a mamografia é o principal aliado no diagnóstico precoce da doença. No entanto, uma pesquisa realizada por médicos da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), em parceria com a Rede Brasileira de Pesquisa em Mastologia, mostrou que a proporção de mulheres na faixa etária entre 50 e 69 anos que fazem o exame pelo Sistema Único de Saúde (SUS) vem diminuindo. Em 2017, o percentual era de 24%, enquanto que em 2018 passou para 22%. O problema não é a falta de equipamentos, mas a má distribuição e o tempo de espera por atendimento na rede pública.

O presidente da SBM- Regional São Paulo, João Bosco Ramos Borges, destaca alguns dos principais problemas que podem explicar a queda na redução de mamografias. “Muitos aparelhos estão quebrados, possuem baixa qualidade ou falta técnicos qualificados para operar o equipamento. O acesso para algumas mulheres também é ruim. Às vezes, a distância entre a paciente e o local de realização do exame é muito grande”.

Além disso, ele cita que as mulheres podem ter dificuldades para agendar consultas. “Quando conseguem e fazem a mamografia ainda precisam aguardar pelo resultado. Caso o exame apresente alteração, é necessário remarcar com o especialista para fazer biópsia. Com todos esses passos, estamos falando de pelo menos 6 meses de espera até começar o tratamento”. Borges lembra da Lei nº 12.732/12, que instituiu prazo máximo de 60 dias para o tratamento de pacientes com câncer, mas, na sua avaliação, ela não é cumprida.

Entre outras questões, o presidente afirma que o Brasil não possui um rastreamento populacional. “Aqui é ocasional, ou seja, as mulheres fazem a mamografia quando vão ao posto de saúde fazer sua consulta ginecológica de rotina. Em outros países, como na Inglaterra, tem o programa de rastreamento populacional organizado com busca ativa. Isso significa que eles é que vão atrás das mulheres. O recomendado pela Organização Mundial de Saúde é 70% de cobertura”.

Ele explica que a chance de cura com diagnóstico precoce pode chegar a 90% e faz um alerta. “A saúde pública está mal gerida e os gestores não estão dando a atenção necessária. Se for um diagnóstico tardio o valor pode variar entre R$ 100 a R$ 500 mil, dependendo do tipo de tumor, porque ainda envolve o tratamento com quimioterapia”.

A vendedora Prescila Teixeira descobriu um nódulo no seio na hora do banho e foi ao posto de saúde. “A ginecologista disse que como estava amamentando, poderia ser um ducto mamário inflamado, mas mesmo assim solicitou um ultrassom. Isso porque um exame de mamografia poderia não acusar nada”.

Ela conta que o ultrassom foi negado pelo SUS, pois  a mamografia é o primeiro procedimento a se fazer . “Demorei 3 meses para marcar e realizar o exame. Ainda precisei esperar mais um tempo pelo resultado que deu como inconclusivo. Com o laudo em mãos aguardei mais 2 meses para fazer o ultrassom, que mostrou nódulo nas duas mamas, com classificação BI-RADS 4. Só depois disso é que fui encaminhada para acompanhamento com um mastologista”.

Desde o início do ano, Prescila tem feito exames para tentar chegar a um resultado e começar o tratamento. “O mastologista pediu uma biópsia dos seios e punção das axilas. Foram quase 3 meses para realizar o procedimento. Tudo foi demorado e quando o resultado chegou, a doença já estava em grau mais evoluído. A médica oncologista também já solicitou alguns exames para estadiamento da doença, caso esteja em outros órgãos. Isso já poderia ter sido feito antes. Vou iniciar o tratamento de quimioterapia ainda no final deste mês”.

Quem também vive a demora nos resultados na rede pública de saúde é a cabeleireira Angela Cristina dos Santos Piola. A espera já dura cerca de um ano e meio. “Perdi meu bebê em maio do ano passado. Depois desse episódio, meus seios começaram a ficar doloridos e sentia um pequeno caroço. A enfermeira disse que não tinha nenhum problema, sem nem mesmo tocar na mama ou pedir exames”.

Angela diz que foi ao posto de saúde e encaminhada para o mastologista. “Consegui marcar a consulta e não levou nem um mês. A médica disse que não constava nada, receitou algumas vitaminas e pediu para que eu retornasse em 6 meses. Mas, sentindo dores nos seios e com receio do problema se agravar, voltei antes do prazo na mastologista que, dessa vez, identificou caroços na mama”.

Ao todo, a cabeleireira já fez três exames de ultrassom e todos apresentaram alteração. Diante disso, também se deparou com mais um problema. A rede de saúde pública não autorizou que ela fizesse o exame de mamografia. “Disseram que não posso fazer porque tenho menos de 40 anos. A solução rápida seria pagar para fazer particular. Estou com parte dos exames em mãos, ainda preciso fazer a biópsia e alguns exames complementares para conseguir dar início ao tratamento”, conclui.