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Brasil é o país mais violento do mundo para os professores

Para quem acompanha o noticiário nacional é comum ver casos de professores agredidos dentro das escolas. De acordo com a pesquisa realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), com mais de 100 mil professores e diretores de escola do segundo ciclo do ensino fundamental e do ensino médio (alunos de 11 a 16 anos) de todo o mundo, o Brasil está no topo do ranking de violência nos colégios.

Na ocasião, 12,5% dos professores ouvidos no país disseram ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana. Esse é o índice mais alto entre os 34 países pesquisados, sendo que a média entre eles é de 3,4%.

Em Minas Gerais, segundo dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública, em 2018 o número de ocorrências em instituições de ensino públicas estaduais, municipais, federais, particulares e creches foram de 21.233. Já até abril deste ano, os casos já somam 5.831.

Para entender melhor o tema, o Edição do Brasil conversou com Andréa Cattony, psicóloga especialista em psicologia social.

Como é possível diminuir a violência e a indisciplina de crianças e adolescentes nas escolas?

Realizando um trabalho de conscientização com os alunos sobre o respeito ao outro, regras e os limites. Isso se dá num âmbito geral, no qual toda equipe docente e colaboradores têm um discurso coerente para que os alunos, em todos os momentos dentro do ambiente escolar, possam aprender e vivenciar as boas práticas de convivência. Na atualidade, essa incumbência demanda energia, estudos, muita reflexão e práticas inovadoras.

Quem deve separar as brigas que acontecem nas escolas?

Os professores dentro de sala são autoridades. Quando os conflitos extrapolam, atrapalhando o desenvolvimento e harmonia das aulas, eles são capacitados e instruídos para interferir em todos os casos de agressões, tanto verbais quanto físicas, encaminhando os alunos para a equipe de coordenação pedagógica e orientação da escola. Mas, em casos extremos, deve-se requisitar a presença da polícia.

Todavia, é importante reiterar que o trabalho desenvolvido dentro das escolas deve sempre visar a prevenção dessa violência.

Como o professor agredido pode se defender?

Ele, como autoridade, não deveria aceitar nenhuma forma de desrespeito por parte do aluno. Saber conversar e prevenir situações de conflito são fatores imprescindíveis dentro da escola e, para isso, é preciso ter uma equipe de apoio aos professores para que eles se sintam seguros no seu papel de educador. A autoridade é uma conquista e um desafio para o gestor em sala de aula. Além disso, a violência nas escolas é um problema de todos nós e temos nos deparado com tragédias sem precedentes, infelizmente.

O estado garante a segurança para os professores da rede pública?

Não e os professores estão completamente expostos a qualquer tipo de violência dentro das escolas. Conheço casos de muitas pessoas que desistiram da profissão, principalmente mulheres, depois de terem sido ameaçadas. E as intimidações acontecem por qualquer motivo, desde uma nota baixa até um pedido de silêncio.

Existe alguma punição ao aluno?

As medidas da escola são ocorrências, trabalho sistemático com a família, suspensões e abertura de conselho disciplinar. Quando nenhuma dessas estratégias alcançam resultados positivos com o aluno, o colégio informa também ao conselho tutelar situações em que determinado aluno possa estar colocando outro em risco.

 

Qual medida o educador pode tomar caso o aluno se recuse a respeitar suas ordens?

Encaminhar o estudante para os setores responsáveis dentro da instituição, pois, o professor deve ter o respaldo da equipe pedagógica que o acompanha. Mas cada caso deve ser analisado individualmente, pois cada aluno tem a sua particularidade e os motivos que o levaram ao não cumprimento daquela ordem podem ser diferentes.

Como trabalhar a temática da violência nas escolas?

De diversas formas, como rodas de conversas sobre os temas, palestras e trabalhos interdisciplinares entre as competências. Há vários projetos sociais que fazem esse trabalho, mas o desafio é também incluir isso para além das questões apenas da sala de aula.

A indisciplina pode ser um reflexo da educação que os alunos recebem em casa?

Sim. A educação que o aluno recebe da família e do seu meio social reflete tanto positivamente quanto negativamente em outros setores da sociedade. A escola tem papel importante na educação do aluno, mas sempre em parceria com a família.

A autoridade dos professores dentro de sala diminuiu?

Não acho que tenha diminuído. Acredito que a forma do diálogo muda de acordo com as gerações. Hoje em dia não é possível ter um modelo de educação usado há 30 anos, no qual o professor era quase um general e quando pedia silêncio, todos respeitavam no mesmo instante. Os adolescentes estão mais críticos e o modo de lidar com eles deve ser diferente.