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Setor editorial perdeu 25% do faturamento em 13 anos

Não é novidade que o mercado editorial convive com números amargos, mas dados da pesquisa “Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro”, realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), encomendada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livro (SNEL), dão dimensões reais do cenário. O levantamento mostra que o lucro do setor editorial geral (com vendas para o mercado e para o governo) diminui 25% (perda de R$ 1,6 bilhão, em valores corrigidos) no comparativo entre 2006 e 2018.

O presidente da CBL, Vitor Tavares, explica que as apostas do segmento não se concretizaram. “Em 2006, o setor faturou R$ 6,788 bilhões. Em 2018, o valor foi de R$ 5,119 bi. Nesse período, o preço médio dos livros diminuiu 34%. A queda impactou na redução do faturamento. O ramo fez uma aposta em redução do preço do livro e ganho de escala em vendas, mas isso não aconteceu. O aumento de exemplares vendidos não é suficiente para segurar esse mercado”.

Os mais afetados
No período compreendido entre 2006 e 2014, o subsetor mais afetado foi o de Obras Gerais (OG), com queda acumulada de 25%. Já de 2014 a 2018, início da crise econômica, o subsetor mais abalado foi o de Científicos, Técnicos e Profissionais (CTP), com queda de 45%, o que em termos absolutos significa uma redução de 74,71 milhões de exemplares vendidos.

Novas apostas
Na análise de Marcos Pereira, presidente do SNEL, o mercado editorial é o mais resiliente entre os segmentos de conteúdo em todo o mundo. “As histórias e as ideias são contadas e divulgadas por meio dos livros e, muitas vezes, adaptadas para outras mídias. No Brasil temos um grande desafio de inclusão social e cultural, que precisa de um projeto de educação e crescimento econômico sustentável e de longo prazo para ser bem sucedido”.

Prova disso é que enquanto as duas maiores livrarias do país, Cultura e Saraiva, estão em recuperação judicial, clubes de leitura como a TAG-Experiências Literárias, Leiturinha e a Book in Box expandem o número de assinantes e lidam com faturamento de gente grande.

Há 5 anos, a Tag tinha 65 assinantes. “Hoje estamos com 48 mil associados, sendo 20 mil da Tag Inéditos e 28 mil da Tag Curadoria. Minas Gerais representa 10% da nossa base, ou seja, quase 5 mil mineiros fazem parte do clube”, conta o diretor da marca Gustavo Lembert que, juntamente com mais 4 sócios, faturou no ano passado R$ 26 milhões.

Lembert destaca que o foco sempre foi o consumidor final. “Nosso kit é a principal causa do associado continuar no clube. Para isso, trazemos curadores que eles mesmo sugerem para entender os aspectos que agradam ou não”.

A mineira de Poços de Caldas, Leiturinha, clube de leitura infantil, já passa dos 150 mil assinantes. Minas representa em torno de 12 a 15% desse total. “Como um clube de leitura trabalhamos sempre a questão da surpresa. Então, desde o primeiro o dia, um pilar muito forte nosso é um time de especialistas, formado por psicólogos e educadores que escolhem os melhores livros para cada fase de desenvolvimento da criança”, resume Rodolfo Reis, diretor de negócios da empresa que fundiu-se à PlayKids, aplicativo da Movile, proprietária do iFood, entre outras empresas.

Janaina Pizzo, proprietária da Book in Box, começou o negócio entre família. “A ideia de montar o clube surgiu em uma conversa descontraída entre mim e meu irmão. Fomos atrás de tudo, estudamos e um mês depois estávamos com o clube aberto”, diz. A empresa aposta em atendimento próximo e instantâneo, por meio de redes sociais e WhatsApp. “Já enviamos livros para todo Brasil, menos para o Acre, até hoje. Os assinantes de MG representam 13,63% do total de clientes da Book in Box”.

Para Lembert, a crise do setor é muito mais de canal do que de leitores. “O mercado editorial sempre foi lento e baseado em modelos tradicionais e, com isso, se criou uma enorme dependência das grandes livrarias do Brasil. Conheço editoras que tiveram de 50 a 60% de seu marketing voltado para a Saraiva e a Cultura. E isso não deu certo”.

Para ele, o distanciamento com o leitor pesou. “É só ver quantas editoras têm uma área voltada para entender quem é o leitor, são todas focadas para o varejo”. O empresário, inclusive, tem exemplo de demandas que surgiram a partir dos próprios clientes. “Nós percebemos que muitos deles falavam que havia muitas opções de literatura americana e inglesa. E ficávamos em dúvida: ‘será que valorizariam livros de outras culturas?’. Foi quando adicionamos um livro nigeriano e foi um sucesso enorme. Foi um momento importante para nós e, desde então, trouxemos livros iranianos, alemão, israelense, italianos, coreanos e mais”, conclui.