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Brasileiro vê museu como espaço sem novidade e elitizado, diz pesquisa

Previsível, monótono, elitizado e chato. Segundo pesquisa feita pelo instituto Oi Futuro, que produziu um raio-X sobre a percepção do público acerca de museus, é assim que o brasileiro enxerga as instituições artísticas e históricas do país. De acordo com a pesquisa, para metade dos brasileiros, os museus são lugares sem novidade e, portanto, para se visitar uma vez só. Em contrapartida, cerca de 32% dizem que é uma experiência que desperta vontade de repetir.

O levantamento ouviu 600 pessoas, frequentadores ou não de museus, das classes A, B e C, de todas as regiões do Brasil, durante o segundo semestre de 2018. E, entre outros aspectos, conclui que para 50% dos entrevistados, museus são espaços elitizados e monótonos. Apenas 20% caracterizam o lugar como divertido.

O coordenador de arte e educação do Museu Inimá de Paula, André Caviola, não discorda do resultado da pesquisa. “A própria construção do museu parte dessa prerrogativa de ser um lugar voltado para ostentação, com uma série de regras que limita o público de conviver nesse espaço e de ter sua estrutura ligada à elite. No Brasil, apesar de haver grandes movimentos, devido à desigualdade social e a própria localização desses espaços não conseguimos romper essa imagem”, avalia.
Há 10 anos de portas abertas, o Inimá de Paula, localizado na Praça Afonso Arinos, no Centro de Belo Horizonte, recebe cerca de 21 mil pessoas, entre visitas de escolas e público espontâneo, por ano.

Outro aspecto é que o incentivo de visitar museus, normalmente, não começa em casa. Enquanto 13,5% dos entrevistados foram levados por um familiar, 55% fizeram sua primeira visita em excursões escolares. O acervo de História Natural do Colégio Arnaldo, conta com mais de 100 animais mamíferos e répteis,  é dentro da própria escola. A rede de ensino privada recebe professores e alunos de escolas públicas para ministrarem aulas com o material. “Pouca gente conhece esse acervo magnífico, mas há 9 anos, o espaço é aberto ao público e à disposição dos professores para darem as aulas que quiserem, seja sobre história natural, sustentabilidade, patrimonial, etc”, conta Beatriz Pernambuco, supervisora do acervo. O colégio chega a receber até 40 alunos por visita, que deve acontecer mediante agendamento.

Para o padre Mauro Luís da Silva, diretor do Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos de Belo Horizonte, a criança precisa querer ir ao museu. “O museu não pode ser fim, tem que ser meio, mediação de uma reflexão já existente. É preciso construir uma dinâmica que possibilite que essa criança faça a escolha de participar da discussão do museu”. Para tal, é preciso mudar a percepção de museu como um local intocável. “Na visão das pessoas, o que entra num museu fica ‘oficializado’. Dá-se automaticamente importância àquela coisa. Entrou no museu, virou verdade. Daí, um museu que tinha o papel de construir novas percepções acaba, muitas vezes, sendo autoritário na construção dessas ideias”, diz.

Com esse objetivo, o museu colocou em prática uma ideia colaborativa. “No acervo do Muquifu há uma peça que é o chapéu de contar história. Quem veste, tem que contar um conto. Foi a forma que a gente encontrou de quebrar a ideia de narrativa construída dentro de um museu e de dizer às pessoas que outras histórias podem ser contadas por quem passa por ali. Isso mostra que no museu não está tudo pronto”, diz o padre.

O mineiríssimo Museu Clube da Esquina, por exemplo, leva para a mesa do seu bar, o saudosismo do movimento musical brasileiro surgido na década de 1960 em Belo Horizonte, e preserva o patrimônio musical do grupo, semanalmente, com apresentações musicais.

Segundo Virgínia Câmara, diretora do museu, 1.400 pessoas frequentam o lugar por mês. “O belo-horizontino admira muito o Museu da Esquina e costuma trazer muita gente de fora quando recepciona pessoas, é um boca a boca de indicação. O contrário também acontece, turistas de outras cidades levam belo-horizontinos para o bar quando vêm à capital”. O local tem planos de inovar. “Queremos fazer um espaço interativo, no qual será possível acessar documentários e entrevistas adequados à tecnologia e a tendência da humanidade”.