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Maioria dos belo-horizontinos da classe “E” têm mais de 30% da renda destinada a empréstimos

Contrariando a recomendação dos especialistas que dizem que não é recomendável que mais de 30% da renda seja comprometida com o pagamento de financiamentos e empréstimos, a maioria dos consumidores da capital da classe E possui mais de um terço dos seus recursos destinados mensalmente ao pagamento desse tipo dívida. É o que mostra o estudo feito pelo pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH).


Quem é a classe E?

Considera-se pertencente à classe E todas as pessoas que possuem renda de até dois salários mínimos, ou seja, R$ 1.996,00.


De acordo com a pesquisa, entre os 40,3% dos belo-horizontinos da classe E que têm algum financiamento ou empréstimo, 69% comprometem mais de 30% dos seus recursos para a quitação desses débitos. Em relação ao número de parcelas, as dívidas são pagas, em média, em 30 vezes e a prestação é de R$ 775,75. “Essa foi a classe mais atingida pelo desemprego. Além disso, há uma grande demanda dessa parcela da população por crédito para comprar bens com maior valor agregado. Quanto mais caro um bem, mais prestações a longo prazo e maior a possibilidade de inadimplência”, afirma a economista da CDL/BH, Ana Paula Bastos.

A economista explica que o normal é ter, no máximo, 15% da renda comprometida com esse tipo de dívida, pois é preciso ter uma margem para as despesas básicas, como água, luz, telefone, etc. “Esse tipo de serviço é essencial, por isso, não se pode deixá-lo de lado para pagar outras pendências financeiras”. Segundo o estudo, 70% dos consumidores priorizam o pagamento das contas pela data de vencimento e 19,3% dão preferência à quitação dos serviços essenciais.

Desemprego é o vilão

Outro dado apontado é que 40% dos consumidores da capital já estiveram o nome inscrito nos cadastros de devedores e 8,7% ainda estão endividados. E, entre eles, a maior parte (40,2%) disse que a perda do emprego foi a causa para o atraso no pagamento de contas. Em seguida foram citados a redução da renda (26,3%); compra não planejada (21,3%); compra para terceiros (14,5%); uso excessivo do crédito (8,1%); priorizou outra conta (7,2%); problemas com o credor (3,7%); esqueceu o pagamento (3,4%) e atraso do salário (3,4%).

“O cenário econômico ainda está aquém do que esperávamos para este momento do ano e isso impacta diretamente na geração de emprego. Com o desemprego ainda em alta, a renda da população diminui e a inadimplência aumenta”, analisa Ana Paula.

Entre as classes sociais, a E é a que possui o maior percentual dos consumidores inadimplentes (10%), já na C/D quatro em cada dez consumidores disseram que já estiveram endividados. Todavia, a maior parte da A/B (61,9%) nunca esteve com as contas atrasadas.

Para diminuir o percentual de dívidas, a economista aconselha que as pessoas consumam de maneira consciente. “Neste momento incerto, é preciso ter ainda mais parcimônia e educação financeira, evitar compras a longo prazo e ter muito cuidado com o cartão de crédito, pois não vemos o dinheiro saindo e isso pode complicar o controle. Ademais, tentar economizar uma parte dos rendimentos para evitar sufoco no futuro”.

No sufoco

O vendedor Luiz Márcio Santos, 39, fez o financiamento de um carro novo no começo do ano passado. Com R$ 20 mil em mãos, ele pegou mais R$ 25 mil emprestados com um banco. “Eu tinha aquele sonho de comprar um carro zero e, quando eu saí da concessionária sem placa, acho que foi a segunda melhor sensação da minha vida, ficando atrás apenas da felicidade quando o meu filho nasceu”.

Meses depois, a alegria deu lugar ao desespero. “A minha esposa ficou desempregada e passei a assumir todas as contas da casa. Com isso, as despesas começaram a apertar e atrasei as prestações”.

Santos relata que, para não perder o carro para o banco, ele teve que vendê-lo por bem menos do que pagou. “No final, sei que fiquei no prejuízo de mais de R$ 5 mil e prefiro não fazer os cálculos para não ficar chateado. Não fiquei a pé, porque consegui comprar um carro mais velho”, finaliza.