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Restaurantes investem em delivery por aplicativos para garantir faturamento

“Só não fechei as portas por ter transformado minha estrutura em delivery”, a fala é de Matheus Daniel, proprietário do restaurante Daniel Cook’s, com duas unidades em Belo Horizonte. O empresário mineiro viu o número de pratos vendidos diariamente cair de 600 para 100 no ano passado. De acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Daniel não estava sozinho nesse cenário, o índice de empresas do setor de alimentação que gerava prejuízos, no mesmo período, atingia 28%.

Por um lado, dados da Abrasel apontam que o brasileiro gasta 25% do seu orçamento somente com alimentação fora do lar, por outro, os clientes pareciam estar em outra praça. O iFood, líder em delivery online com 17,4 milhões de pedidos no último mês, no Brasil, não deixava dúvidas: sua grama era mais verde. “Pedidos delivery sempre existiram, mas chegou alguém com a ideia de transformar um aplicativo numa praça de alimentação, onde o cliente tem várias opções para escolher. Todas as empresas que optam por esse canal têm uma grande oportunidade de crescimento porque passam a atender dois públicos, local e online, sem aumento de custo e infraestrutura”, explica Daniel. Das 400 entregas diárias que seu restaurante realiza, 70% dos pedidos acontecem pelo aplicativo.

Os resultados são tão promissores que a própria Abrasel-MG vai lançar seu aplicativo. Segundo o presidente da associação, Paulo Solmucci, a experiência já é bem sucedida no Amazonas e no Paraná. “Agora vamos lançar em Minas e a ideia é levar para todo o Brasil”, diz. Para o empresário, o diferencial em relação aos aplicativos que já existem será a taxa de comissão. Normalmente, ela é na casa de 20% e a do AbraFood vai ser mais barata, com um valor fixo por mês, explica. A PedidosJá, por exemplo, cobra 15% e não incide a taxa de entrega na base para a comissão”, informa.

Para o negócio de Marcelle Padovani, uma das proprietárias do Las Chicas Vegan, restaurante vegano localizado no Edifício Arcangelo Maletta, as entregas por aplicativos representam metade de todo o faturamento. “A vantagem é o aumento do meu faturamento. É muito prático porque recebo os pedidos já prontos, com todas as informações do cliente e seu prato em um clique no meu computador, o que torna tudo mais fácil”, avalia a empresária que, em média, realiza 40 entregas por dia, exclusivamente por meio de aplicativo.

Para ela, o segredo é o cuidado. “Não basta apenas ter o app, precisamos ser atentos e preparar tudo no tempo estipulado e mandar com todas as especificações que cada cliente pediu em uma embalagem resistente e boa. Tudo isso faz diferença no final”. Marcelle paga uma taxa de 12 à 30% sobre os pedidos para o serviço de delivery. “Só de não precisar contratar motoboys já vale a pena para mim”.

Diferente dos que precisaram se adaptar, o mineiro Henrique Mol, diretor executivo da Fórmula Pizzaria, rede de pizzas presente em quatro estados, mirou desde o início no modelo de negócios delivery. “Cada vez mais, o faturamento vem aumentando por meio de aplicativos. É uma realidade que o consumidor quer: facilidade na palma da mão. O reflexo é nítido, 70% das lojas franqueadas migram para os apps como canal de venda, seja próprio ou de terceiros”.

Já Daniel, tem ressalvas sobre as taxas. “Não é o melhor dos mundos. Estamos falando de taxas de 20 a 30%. Encaro isso como uma verba de marketing, não acho justo, é uma porcentagem grande, mas ele tem um alcance que eu não conseguiria ter se investisse o mesmo valor em propaganda paga”, destaca. “No frigir dos ovos, quem está pagando é o consumidor final porque além da comida, paga por uma embalagem, motoqueiro e comodidade”.

Hoje, o empresário avalia que seu negócio é até mais rentável que antes da adaptação ao delivery. “A margem de lucro dos restaurantes é de 8 a 13% sobre o faturamento”. O índice é 5% maior em relação ao faturamento de 2013, quando o negócio começou.

O cenário, apesar de indicar melhora, é irrisório comparado há 30 anos, quando a mãe de Daniel comandava outro restaurante. “Já tivemos margens de 25 a 30% de lucro. Hoje, 60% das vendas do restaurante físico são de vouchers de refeição, esse cartão leva 6% da minha lucratividade e só vai me pagar daqui um mês. Antigamente, minha mãe recebia 90% em dinheiro e 10% cheque”. Atualmente, apenas 5% dos pagamentos realizados nos restaurantes são em dinheiro. Para voltar a margem de lucratividade da década de 80, o empresário brinca que uma cerveja sairia por R$ 18. “O cliente vai dizer: muito obrigado!”.