Home > Artigo > Para mentiroso, falsidade é sua obra de arte

Para mentiroso, falsidade é sua obra de arte

Chega dessa porcaria de fake news (notícia falsa em português), expressão que define a intenção de manipular e enganar! Falsos boatos e mentiras sempre existiram, mas, agora, se tornaram vultos monstruosos que, além de espalhar inverdades, criam ferozes inimigos entre os que acreditam e os que descreem.

Contrariando o que propõe um leitor, que sugere que eu comece e permeie os meus textos com “porradas” para despertar atenção, vou é suavizar ao lembrar uma fábula de Esopo, o escravo grego corcunda, de cabeça deformada e gago, que alguns registros históricos contam ter vivido 56 anos, de 620 AC até 564 AC, quando foi assassinado por dizer verdades.

Como toda fábula inicialmente é uma “literatura oral”, os textos se perpetuam através de “divulgadores”, no caso o francês Jean de La Fontaine (1621-1695) que transcreveu, dentre outras das 400 histórias de Esopo, a que narra que um jovem pastor se sentindo só e querendo companhia, clamava por socorro alertando que um lobo ameaçava matar as ovelhas que estava levando para o pasto. Camponeses corriam até onde estava o rebanho, mas acabavam se dando conta de que era uma mentira do garoto. Isso aconteceu várias vezes até que um dia um lobo realmente apareceu. Foi quando de nada adiantou o rapaz gritar, porque ninguém acudiu e o oviário foi dizimado. Na fábula, comumente denominada “O garoto pastor e o lobo”, a moral da história é “ninguém acredita num mentiroso quando fala a verdade”.

Dois mil e seiscentos anos depois da imaginação de Esopo criar tão precioso ensinamento, a humanidade está sendo envolvida em mentiras, com bilhões de pessoas se dedicando a divulgar informações falsas por brincadeira ou pura maldade.

E Para complicar de vez, hoje está difícil saber o que é ou não verdade. Agora mesmo, no Carnaval, quando surgiu a notícia de que o presidente/capitão Bolsonaro (PSL) divulgou, de forma ridícula e irresponsável em seu Twitter, explícitas imagens sexuais escabrosas (‘justificando’ que era para condená-las), muita gente lamentou o nível ao qual chegaram as fake news. Incrível, só que era tudo verdade!

Outro fato que também não era inventado: o ator José de Abreu, realmente, se autoproclamou presidente do Brasil, numa piada de mau gosto com a terrível situação da Venezuela, cujo desgoverno ele apoia!
No vai-e-vem das notícias envolvendo aquele país, dias antes, a toda poderosa Vênus Platinada divulgou, em seu principal jornal, que o nosso país estava à beira de ação militar contra o ditador Nicolás Maduro. Felizmente o Brasil não vai à guerra e um constrangido William Bonner, ao final, reconheceu o erro, que teria se baseado num “perfil falso”, e desmentiu a informação que estava repercutindo (mal) em todo o mundo.

Se até a Globo cai em fake news, onde vamos chegar? Em quê ou em quem acreditar?
Hoje, mais lamentável do que os que confiam nas fake news e as difundem e pior do que os mentirosos são os que falam asneiras e acreditam (ou fingem acreditar) nas suas próprias tolices. Não só se deliciam em propagar inverdades, mentindo pelo prazer de mentir, como há os que (inúmeros em elevados e poderosos cargos) também enganam em benefício próprio, amealham fortunas e de forma demoníaca devem rir das desgraças alheias que provocam.

Bons tempos no qual a mentira era contestada pela moral de fábulas como as de Esopo. Ou mesmo quando conhecíamos como mau exemplo as travessuras de Pedro Malasartes – personagem de contos populares hoje desconhecidos do grande público, dentre eles a da panela mágica que cozinhava sem fogo.
Atualmente, o que não falta é quem queira colocar fogo na fogueira. Com qual intenção? Se não for o seu caso (e espero que não mesmo), garanto que conhece gente assim… Mas sempre verifique se não está sendo enganado por fake news!

*Jornalista Reg. 1229 – MG / e-mail pratesergio@terra.com.br