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População com mais de 60 anos movimenta R$ 1,6 tri, mas está insatisfeita com mercado

Nada de idoso, terceira idade ou velho. A cada três mineiros acima de 55 anos, um acredita que “maduro” é a melhor nomenclatura para classificar quem tem mais de 60 anos. Este é um dos dados apontados pela pesquisa “Tendências do Mercado Prateado de Minas Gerais”, feita pela Pipe.Social e Hype60+, a pedido da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH). Segundo a CDL/BH, no Brasil, eles movimentam um mercado anual de R$ 1,6 trilhão e o poder de compra desse público deve superar R$ 30 trilhões em todo o mundo, até 2020, de acordo com o relatório “Consumer Generations”, divulgado pela Tetra Pak.

A pesquisa integra um estudo inédito nacional e internacional chamado Tsunami 60+. Em Minas Gerais, foram ouvidas 277 pessoas, sendo 51% homens e 45% mulheres da capital (61%), da região metropolitana (14%) e do interior (25%). “Os idosos de hoje têm um estilo de vida e hábitos de consumo que eram, há três décadas, associadas aos jovens. Namoram online e têm vida sexual ativa, trabalham, são ativistas de causas modernas, continuam curtindo rock e buscando aprimoramento intelectual e profissional. A definição de idoso está ultrapassada”, analisa Mariana Fonseca, uma das coordenadoras da pesquisa, acrescentando que um dos erros mais comuns é considerar os idosos como uma massa uniforme de consumidores com desejos e necessidades iguais.

A revolução da longevidade tem surpreendido até mesmo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que apontava que o Brasil alcançaria 30 milhões de idosos em 2025, a marca foi atingida em janeiro deste ano.

Perfil da população 60+
O presidente da CDL/BH, Bruno Falci, afirma que o comércio perde oportunidades ao focar apenas nos jovens e precisa se preparar para receber as demandas dessa parcela da população. “Esse público não pode ser encarado, meramente, como consumidores. Vamos nos empenhar e transformar Belo Horizonte na capital dos 60+, ou na capital da geração prateada”, acrescenta Falci. Para ele, é fundamental planejar ações voltadas especificamente para essa população, o que inclui planos de mobilidade urbana, acessibilidade, programas de saúde e prevenção de doenças, cultura e lazer e atendimento qualificado.

Um dos sinais que evidencia a falha de comunicação com os mais velhos é que 48% dos mineiros entre 55 e 64 anos não se sentem fiéis a nenhuma marca. A cada quatro mineiros acima de 55 anos, um reclama da falta de produtos e serviços voltados para a idade.

Ativo e disposto, Ailton de Souza, 79, foi escrivão de cartório por 45 anos e se dependesse dele, essa marca seria maior. “Me arrependo de ter deixado meu trabalho e aposentado. Queria estar lá, tenho saudade e sei o serviço de cor”, comenta. Para ele, há falhas de atendimento no varejo. “Educação e respeito estão a dever”, analisa.

A maior fonte de renda daqueles com mais de 65 anos ainda é a aposentadoria (64%), seguida do trabalho profissional (23%), rendimentos de aluguéis (7%), previdência privada (2%) e aplicações financeiras (1%).
Mesmo ativos, os mineiros 60+ relatam preconceito em setores da economia que, historicamente, não incluem os maduros nos planos de carreira, entre os entrevistados com mais de 55 anos, 22% afirmam que não existem vagas no mercado de trabalho para eles.

É o que indigna a professora aposentada Conceição Fernandes, de 74 anos. “Fico restrita a aposentadoria. Querer fazer outra coisa, quero. Mas quem dá trabalho para mim? Não importa se tenho cultura, curso superior, nem nada. No Ocidente, de um modo geral, principalmente no Brasil, a pessoa de 35 anos já é considerada velha”, critica. Mas isso não a abala. “Eu não vou ficar chorando por causa disso. O velho aproveita muito mais a vida porque consegue extrair a essência do que é bom”.

A pesquisa também mostra que vestuário, calçados e acessórios são os produtos mais procurados por aqueles acima de 55 anos (46%). Em seguida vêm cursos no geral (39%); alimentos para necessidades específicas (35%); serviços de turismo (33%); produtos de beleza e higiene pessoal (29%); soluções para adaptação (26%); e cursos de línguas e intercâmbio (25%).