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Cirrose matou 610 mineiros neste ano

Infelizmente, a cirrose ainda não é levada a sério por muitos brasileiros. Uma prova disso são as buscas nas mídias sociais. Geralmente, a palavra está associada a brincadeiras e, até mesmo, ao mundo do futebol, mas, a realidade não tem graça. Esse problema, que não tem cura e é causado por diversas doenças, matou 820 em 2016 e, este ano, já foram 610 óbitos, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais.

O professor Alex José dos Santos perdeu o pai, no ano passado, vítima da cirrose hepática causada pela bebida alcoólica. Ele conta que a doença foi descoberta devido a sintomas aparentes, como pele escamosa e abdômen inchado, mas o diagnóstico veio por meio de exames médicos. “Ele tomava medicamentos, mas lutou contra a doença por apenas 4 meses e não resistiu”.

Santos diz que presenciar todo o processo foi complicado para ele e sua família. “Se você está com algum sintoma, procure o médico o mais rápido possível para iniciar o tratamento. Afinal, a patologia não tem cura e, sem um acompanhamento, leva ao óbito”.

Durante os meses de tratamento, Santos conta que um dos procedimentos era a retirada de líquido do abdômen. “Ele ficou muito debilitado, chegou a pesar 35 kg numa cama de hospital. Meu pai passava a maior parte do tempo internado e, na última entrada no hospital, sua pressão ficou em 6 e já não voltou mais”, lamenta.

Em relação ao número de pessoas que estão em tratamento da cirrose, não há registro, pois sua notificação não é obrigatória. De acordo com a Sociedade Brasileira de Hematologia (SBH), cerca de 30 mil pessoas morrem a cada ano por doenças hepáticas no país.

O gastroenterologista do Hospital Vera Cruz, José Carlos Couto, explica que são várias as doenças que podem comprometer o fígado. “Desde as mais simples, como esteatose leve (acumulação de gordura nas células do fígado) até uma mais grave que pode ser tornar cirrose. Algo que é prevalente é a esteatose hepática não alcoólica, que pode evoluir para uma esteato-hepatite ou mesmo cirrose e que vem sendo muito estudada. Existe ainda a cirrose ocasionada por patologias genéticas, como, por exemplo, a hemocromatose hereditária e a doença de Wilson. Além disso, há também doenças que acometem o fígado, as hepatites (agudas ou crónicas) que são causadas por várias espécies de vírus e por medicamentos, pois uma boa parte das drogas são metabolizadas pelo fígado. Outro alerta é o cuidado com o uso de ervas medicinais que podem causar casos graves de hepatite. Também tem as inflamações como abcesso hepático etc”.

Diferente do que muitos pensam a cirrose não é causada, exclusivamente, pelo uso exagerado de bebidas alcoólicas, pois a esteato hepatite não alcoólica, é uma prova disso. “Além da cirrose por doenças virais crônicas, ela também pode ser adquirida por meio de patologias autoimunes que comprometem o fígado como, por exemplo, hepatite autoimune, colangite biliar primária e a colangite esclerosante primária (CEP). No consultório sempre questionam: mas, doutor, eu não bebo!”, conta.

O médico comenta que a cirrose é um estágio de deterioração do fígado. “Por exemplo, hepatite A não causa cirrose, já as hepatite B e C se não tratadas, podem causar uma inflamação, seguida de fibrose cada vez mais pronunciada (cicatrização excessiva) que pode levar a cirrose”.

Ele esclarece que a cirrose não tem cura e seus estágios são classificados em A, B e C. “Existe cirrose leve que pode ser estabilizada, de modo que se a pessoa para de beber ou se o vírus causador for tratado, há uma regressão parcial, impedindo o seu avanço. No último estágio, ou seja o C, a pessoa pode ter inúmeras complicações, como alterações mentais, coma leve ou profundo (encefalopatia hepática), alteração da coagulação, sangramento digestivo por varizes esôfago-gástricas, infecções do líquido ascítico (peritonite bacteriana espontânea), câncer de fígado (hepatocarcinoma), etc. Há tratamento para esses problemas, mas isso mostra que a pessoa está em um estágio crítico e tem pouco tempo de vida, se não conseguir se submeter a um transplante hepático. Quando o paciente está no estágio B, ele já pode ter o seu nome colocado na lista de espera para um transplante”.

Prevenção
Segundo o médico, é preciso sempre fazer um check-up para avaliar a saúde, principalmente quando há histórico de doenças hepáticas na família ou se pertence a um grupo de risco.

• Beber com moderação – em 5 anos consumir bebida de modo exagerado pode evoluir para um caso de cirrose;
• Praticar atividade física – para evitar o acúmulo de gordura no fígado;
• Usar preservativo em relações sexuais;
• Não compartilhar seringas;
• Se vacinar contra hepatite.

Ele alerta ainda que a identificação precoce de doenças que causam a cirrose é um fator fundamental para se evitar consequências mais graves.

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