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Música-chiclete é feita para grudar

Ela está com você no chuveiro, no ônibus ou carro, durante o trabalho e, até, na hora de dormir. Sim, estou falando daquela música que não sai da sua cabeça. Aquela que quando você menos espera aparece e fica cantarolando durante dias. Essa é a típica música-chiclete. Podemos citar aqui várias, mas vamos deixar para o final, pois corre o risco de você ficar cantando e não prestar atenção na matéria.

O músico profissional e professor da Melody Maker Escola de Música, Flávio Emanuel, diz que a música-chiclete é aquela que você se pega cantando, sem perceber e, até mesmo, sem gostar do estilo musical.

Ele destaca que existem três fatores perceptíveis para quem não é um especialista. “O primeiro é a mensagem da música, se é interessante ou inusitada. Um bom exemplo, são as letras dos Mamonas Assassinas, que se sobressaíram quando o momento era voltado para letras românticas. Outro fator é o estilo musical, quando é compatível com os interesses da pessoa é mais fácil de colar”. O terceiro é a repetição da letra, que é uma técnica de composição. “Posso citar o Tiago Iorc, quando canta ‘Amei te ver’. O refrão, a parte que mais aparece, é cantado seis vezes, quando o comum é até quatro vezes. Então, após uma exposição dessa, é quase impossível não ficar com a letra na cabeça”.

Segundo ele, há os elementos que um leigo não irá perceber, que são as técnicas de produção das canções, principalmente, no padrão de músicas comerciais, que é feita para vender. “A repetição do movimento melódico é um recurso. Eu posso cantar várias letras diferentes usando o mesmo desenho melódico e, inconscientemente, estou fazendo a pessoa memorizar aquilo. O mesmo acontece com a questão rítmica, ou seja, eu canto letras diferentes, mas com o mesmo tempo. A velocidade e o andamento rítmico podem ser compatíveis com o batimento cardíaco, pois sempre adaptamos a velocidade da música ao público que queremos atingir. Da mesma forma acontece com o arranjo musical (o número de instrumentos). No caso do funk, por exemplo, é simples e infecta fácil o ouvido de que ouve”, brinca.

Para o professor, a composição ‘Aí se eu te pego’, de Michel Teló, é também um bom exemplo que ficou reconhecida internacionalmente. “Várias bandas a tocaram em diversas línguas. E ela agradou por causa do ritmo e o balanço da letra. A prosódia é a arte de colocar as tônicas das palavras nos tempos fortes do compasso musical – criando uma sonoridade agradável e a pessoa se sente convidada a participar. Isso é o que acontece com as músicas internacionais”.

Segundo Flávio Emanuel, a indústria musical americana é especialista em desenvolver canções deste tipo. “A pessoa pode até não saber inglês, mas canta e gosta do ritmo”.

Ele conta ainda que estudos mostram que algumas músicas grudam nas pessoas devido a algum acontecimento marcante, uma memória do passado, ou até mesmo, o alívio em situações de estresse e etc. “As músicas transmitem sensações”.

O ritmo que pega

Intérprete de Lepo Lepo, Márcio Victor, da banda Psirico, conta que não esperava a repercussão em torno da canção. No entanto, diz que com a experiência, no primeiro contato com o público, já dá para sentir o que vai acontecer. “Quando recebemos a música já vimos que era boa e que o público iria gostar”.

Quando o compositor apresentou a letra que foi encomendada, ele fez alguns ajustes. “Naquela época eu queria ir na contramão do que estava no mercado, que era ostentação e poder aquisitivo. Eu queria falar o contrário e valorizar a realidade da maioria: salário atrasado, não ter dinheiro etc. Eles fizeram na medida certa”.

Para ele, a receita para fazer uma música chiclete é o conjunto de letra, ritmo e o momento. “‘Rapaiz’ (sic), estava conversando sobre isso com um cara que divide a produção da banda comigo. Fizemos uma música do Psirico, em 2010, que se chama “Protesto sim, Violência não”. Às vezes, a letra não tem tanto apelo de produção e marketing, mas chega no momento certo”.

Para o verão, ele adianta que a música do momento será uma mistura de ritmos. “Tem uma pegada eletrônica, permissiva e com a nossa raiz. Ela se chama Dança do Krau, é uma música apimentada, sensual e tem letra fácil e refrão grudendo. Acreditamos que ela será um sucesso. É a música do Carnaval”, finaliza.

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