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O mundo dos políticos

Os políticos ocupam um mundo a parte e não sofrem as dificuldades nossas de cada dia. No máximo dão uma olhada para o mundo de baixo e felizes por estarem distantes desta dura realidade se unem aos servidores públicos e de mãos dadas dão um adeus e viram as costas para as aflições de cada um. É incrível como uma casta foi formada de servidores públicos e políticos para o domínio do estado. De tanto repetirem que para se chegar ao serviço público era preciso concurso e para se chegar a político era preciso voto, as duas categorias se bastam e sinceramente se acham mesmo superiores.

O mundo pode cair, furacão pode arrasar quarteirões, que os dois de mãos dadas moram nas nuvens. Não foi por falta de aviso, mas eles não sabem que o Brasil está numa recessão brava, com desemprego, subemprego e calote generalizado. Os funcionários públicos estão é querendo aumento salarial e os deputados e senadores se acostumaram à Lava Jato e já estão pedindo propina para empresas e começaram tudo de novo. Ou nunca pararam.
Senhores, trago más notícias: nada mudou. O presidente tem que negociar com o Congresso, dá acesso a empresas indicadas por parlamentares, emendas e mais cargos. O deputado vai votar um projeto de interesse do governo, cobra mais indicação e força política que transforma em financiamento de campanha. Com uma dezena de operações da Polícia Federal em andamento, 20 caindo de um lado, 30 do outro e 40 prontos para o julgamento e os representantes do povo seguem como se nada estivesse acontecendo.

A correção vem exatamente da parte dominante, dos empresários que se viram em algemas como antigos parceiros. O momento é de recuo total. Contou-me um representante de empresa que foi conversar com um deputado sobre um projeto relatado por ele. Pediu dinheiro na maior cara dura. O representante empresarial sacou a caneta, tomou emprestado um pedaço de papel e cuidadosamente registrou: “Não tem escutado rádio ou assistido TV? A Lava Jato está aí”. O projeto não saiu e também o dinheiro não foi repassado. Alguém tem que explicar aos deputados, senadores e vereadores que o mundo por aqui ainda não mudou, mas está a caminho. Eles estão agindo como se não houvesse amanhã. Tudo igual.

A frase mais famosa dos últimos meses é que este mundo acabou e que o novo ainda não chegou. Ninguém sabe como será, mas certamente os hábitos vão mudar. É muito difícil saber se o ovo é o empresário ou se a galinha é o político ou quem chegou primeiro, mas a grande vantagem sempre foi mesmo empresarial. Não há distribuição de dinheiro de forma perdulária como tentam mostrar os delatores. O dinheiro aparecia com a mágica feita pelo político. O empresário apenas dividia e quem divide sempre fica com a maior parte. Patética a confissão de empresários puxando a orelha de políticos importantes como se fossem seus lacaios. O mundo caiu e eles não sabem.

Será que é preciso mandar avisar aos deputados e senadores da exigência de pelo menos um tempo? A origem desta situação ainda está por aí. A dificuldade de lidar com os governos. Se para tirar um documento banal é uma dificuldade, imagine um parecer técnico e complexo de órgãos governamentais?! Impossível! Neste caso que floresce a fina flor da corrupção. A venda de facilidades. Agora urgente mesmo é mandar avisar aos políticos e funcionários públicos de que o mundo mudou ou que pelo menos iniciou o processo de mudança. Que seja para melhor.

*Jornalista, correspondente da Rádio Jovem Pan em Brasília e comentarista da Redevida de Televisão