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Índice de crescimento é tímido, mas as expectativas são positivas

Com empresas fechando e o orçamento das famílias cada vez mais apertado, nos últimos anos, o Brasil tem passado por uma situação econômica e política delicada em que os brasileiros têm ficado a mercê das manobras governamentais. As projeções econômicas para este ano começaram tímidas, mas estudiosos da área relatam que 2017 pode ser diferente.

A simulação feita pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em outubro de 2016, expôs uma expectativa de crescimento no Produto Interno Bruto (PIB) de 0,5%, mas, recentemente, rebaixou o índice para 0,2%. O Boletim Focus também apresentou o identificador de 0,5%. Já a Organização das Nações Unidas (ONU), em seu relatório de Situação Econômica Mundial e Perspectivas 2017, aponta que PIB brasileiro deve crescer 0,6% e 1,6% em 2018.

Diante de tantos números e perspectivas, conversamos com o presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Paulo Roberto Bretas.

Após tantas mudanças sociais e políticas, qual é a situação do cenário econômico brasileiro?

A economia está deixando de piorar, pois a inflação está caindo. Mas, mesmo assim, o crescimento será lento. Falta ainda a presença do investimento privado – que precisa de um tempo maior para reduzir riscos -, e além disso, as empresas e as famílias estão muito endividadas. O que de fato recupera a economia é o gasto e o investimento. O governo precisa recuperar a capacidade de investir. Atualmente ele está gastando, mas está com um teto de limitação, sem capacidade de investir e com muita dificuldade de apresentar projetos que atraiam capital privado, como privatizações e concessões.

No ano passado houve uma retração de 3,5% no PIB. O que isso significa para o brasileiro?

Significa que está melhor que 2015, mas ainda é uma retração. Com isso, ocorre o desemprego, principalmente, neste primeiro semestre e, talvez, haja uma retomada no crescimento do emprego no terceiro ou quarto trimestre. Infelizmente, isso denota que ainda estamos mal, que não conseguimos colocar a economia para funcionar.

O boletim Focus fez uma projeção mais otimista em relação ao crescimento, já o FMI apontou 0,2% de crescimento? Por que essa diferença?

São formas de cálculo diferente. O boletim Focus é baseado numa percepção do mercado, ele trabalha a economia nos limites psicológicos e as expectativas. Hoje, as Ciências Econômicas, que não são ciências exatas, dependem muito disso e a principal teoria para explicar a política monetária é o princípio das expectativas racionais. Já o Banco Central tenta apurar, no mercado, as perspectivas, até porque, está muito difundido nas Ciências Econômicas, sobretudo, porque que a inflação é consequência da inflação passada. Ou seja, ela sobe porque cresceu ontem e vai crescer amanhã.

Quais são os setores mais prejudicados no país?

É difícil apontar o que está com uma situação mais complicada, pois todos foram prejudicados, têm momentos que uns estão piores que os outros. Agora, por exemplo, o setor de serviços e comércio está recuando muito. E, por outro lado, tem a indústria automobilística que melhorou um pouco, mas isso é assim mesmo. O que podemos falar é que quem está bem, é o agronegócio e o setor exportador, mas eles não têm força para impulsionar o PIB, como a indústria teria.

Quais são as medidas que devem ser adotadas para reverter a situação?

Falta investimento e o governo precisa voltar a ter capacidade de investir, abaixar os juros com mais velocidade e, ao mesmo tempo, liberar mais crédito. Acredito também que precisamos de algumas mudanças, por exemplo, a reforma fiscal no Brasil. Não é possível que tenhamos essa quantidade de impostos, taxas e contribuição. Precisamos reduzir os riscos da economia brasileira e debelar a crise fiscal. O Estado tem que gastar melhor, voltar a adquirir a capacidade de investimento e também precisa rever a forma de cobrar impostos. Hoje, sabemos que a maioria dos impostos brasileiros são indiretos. Se uma pessoa, com o poder aquisitivo melhor, comprar uma geladeira ela vai pagar o mesmo imposto que um indivíduo com menor rendimento. Nos grandes países capitalistas, como os Estados Unidos, por exemplo, eles pagam muitos impostos, mas no geral pagam menos tributos sobre o PIB. Para se ter ideia, hoje, nós pagamos em impostos cerca de 33% sobre o PIB, ou seja, 1/3 de tudo que o brasileiro ganha vai para o governo. É preciso aumentar o volume de empregos, melhorar a produtividade e competitividade das empresas, investir pesado em educação, qualificação e formação.

Não adianta alterar apenas um botão da economia, é preciso mexer em vários. Para uma sociedade ser boa, com uma economia crescente, é necessário olhar tudo isso, assim é possível mostrar que o Brasil é um grande país, com recursos e capaz de contribuir com a economia mundial.

Em sua opinião, a liberação do FGTS é uma estratégia positiva do governo para circular dinheiro? 

Acredito que a primeira coisa é que isso foi uma estratégia pensada para melhorar a imagem do governo. Essa ação irá injetar no mercado R$ 30 bilhões. É muito dinheiro? É, mas para onde ele vai? Quem será o maior beneficiário disso? É evidente que quem está endividado vai usar esse recurso para reduzir a sua dívida e ficará satisfeito com isso. O principal beneficiário será o mercado financeiro – ou seja, os bancos e empresas que venderam a prazo.

Cerca de 80% dessas pessoas irão receber até um salário mínimo, individualmente, não fará muita diferença. Agora, no geral, você colocar R$ 30 bilhões no mercado ajuda quem está endividado e quem precisa receber esse dinheiro.