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Bancos digitais e startups estão mudando o mercado financeiro

Em 2015 esse novo setor movimentou cerca de 11,2 bilhões de transações

Não há dúvidas de que as tecnologias dominaram as nossa vidas, por exemplo, um estudo da Global Mobile Consumer Survey, da Deloitte, mostra que 57% dos brasileiros verificam mensagens de redes sociais ou de outros canais em seus smartphones nos primeiros 5 minutos depois de acordar, enquanto que 53% fazem o mesmo antes de dormir.

Além disso, os novos hábitos digitais fizeram com que as pessoas buscassem por mais agilidade e menos burocracia para resolver os seus problemas, principalmente, financeiros. Fato que abriu espaço para o surgimento de novos setores e empresas. Desta forma, surgiram os bancos digitais, modelos de instituição que vão na contramão das agências convencionais e prometem revolucionar o setor bancário.

De acordo com o estudo Tecnologia Bancária da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), esse tipo de serviço que também é conhecido como mobile banking registrou 11,2 bilhões de transações bancárias no ano passado. O número é equivalente a um aumento de 138% em relação ao ano anterior, quando 4,7 bilhões de operações foram feitas por esse canal. Com isso, o serviço assumiu a posição de segundo canal preferido pelos brasileiros para transações bancárias, ficando atrás do Internet Banking, com 17,7 bilhões de transações realizadas em 2015, um valor ligeiramente menor do que os 18 bilhões registrados no ano anterior.

Buscando atender às novas gerações, esses bancos oferecem serviços como abertura de contas, aplicações e obtenção de crédito, tudo na palma da mão, feito por smartphones. “Nós tivemos um forte avanço nesse âmbito, muitos bancos que estão surgindo agora são especificamente digitais, ou seja, não têm agências”, é o que explica o especialista em setor bancário, João Augusto Salles.

De acordo com ele, o avanço dessas novas empresas se deve ao crescimento tecnológico. “Ainda não há dados estatísticos que mostre a quantidade específica da utilização desses serviços se comparado às vias não digitais. O que sabemos é que os bancos, de maneira geral, tinham em 2006 cerca de 60% das transações realizadas de forma digital. Atualmente, esse número teve um aumento de 24 pontos percentuais, chegando a 84%. Isso mostra que a relação de serviços em que o cliente vai até o banco para utilizar os caixas ou contatar o gerente, diminuiu muito”, conta.

O especialista explica que, além disso, existem novas empresas que também oferecem serviços financeiros. “Algumas startups, que não são exatamente bancos, oferecem serviços que conseguem fazer captação de recursos e oferecer crédito. São vários tipos de ofertas no mercado. Essas inovações tendem a aumentar a concorrência entre os bancos e a qualidade dos serviços prestados”.

Entretanto, para Salles, existem alguns problemas que precisam ser pensados em relação ao setor. “É um mercado crescente no Brasil e, com isso, quando essas novas empresas alcançam um patamar mais alto, elas são compradas por bancos como Itaú, Bradesco, Santander etc. Estamos falando de internet e esses serviços ainda são uma novidade para a população, o Banco Central vai ter problemas para monitorar isso. Vão ter de criar uma maneira para regulamentar esse mercado”, diz.

Inovadores

Dentre os novos bancos e startups, os que mais se destacam atualmente no mercado são o Nubank e o Digio, que oferecem um cartão de crédito de maneira rápida e digital e os bancos Neon e Original que não têm agências e proporcionam os seus serviços pela internet e aplicativo.

Em conversa com o Edição do Brasil, o presidente do banco Neon, Pedro Conrade, 24, explica de onde surgiu a ideia de abrir a empresa. “Tive uma experiência muito ruim com meu antigo banco. Eu ultrapassei R$ 1,30 do meu limite de cheque especial, que eu nem sabia que eu tinha, e me cobraram por esse uso uma tarifa de R$ 46,00. Eu procurei o gerente e fui informado de que essa cobrança estava prevista em contrato, em uma linha bem pequena. Essa falta de transparência me deixou muito incomodado e, com isso, eu comecei a procurar alternativas e percebi que tínhamos bancos no Brasil que oferecem, basicamente, os mesmos serviços e o cliente só escolhe à instituição. Eu fui buscar em outros países e descobri o Digital Banking, empresas muito menores e que apresentam serviços de melhor qualidade, transparente, barato acessível e online, sem a necessidade de um atendimento presencial. E, há 2 anos, eu resolvi trazer isso para o Brasil”, informa Conrade.

O Neon é totalmente online e com foco no público jovem, por isso, ele pode ser acessado via smartphone e a abertura também é feita pelo dispositivo. Não há cobrança de mensalidade fixa, e o usuário tem acesso à dois cartões internacionais: um físico, para a função débito e um virtual para compras online. “Nós não oferecemos linha de crédito, pois acreditamos que o banco deve ser um aliado na gestão financeira e não um peso na vida dos clientes. Não queremos estimular que as pessoas iniciem sua vida bancária cheias de dívidas. Nosso foco é estimular a educação financeira”, afirma o presidente da instituição.

Usuários

A usuária do Nubank, Laíse Rocha, explica porque optou pelo serviço há 4 meses. “Em tese, é um cartão de crédito como outro qualquer, porém ele não tem anuidade, esse é o seu diferencial. Além disso, ele facilita o acesso às contas, por exemplo, eu faço uma compra e o aplicativo avisa instantaneamente. Eu consigo acessar a fatura e ver o limite pelo celular. O atendimento é muito bom, e com uma linguagem jovem, qualquer problema ou dificuldade é resolvido de maneira rápida”, conta.

Já o advogado, Breno Ferreira, optou por uma conta no Banco Original. “Primeiro, eu quis conhecer melhor os serviços que ele oferece, aí vi que ele possibilita investimentos, tem programa de pontos independente da cotação do dólar, um gerenciador financeiro e, apesar de ser digital, oferece muita segurança aos usuários”, explica.

Para o especialista João Augusto, apesar de todos os benefícios, é difícil que os bancos tradicionais deixem de existir. “Não acredito que as agências bancárias vão acabar, elas apenas vão permanecer de uma forma mais usual, proporcionando o contato com o gerente ou serviços do tipo. Bem diferente do que era antigamente”, conclui.